Hiperutilizadores de baixo risco clínico em pronto socorro de um hospital universitário: usuários produzidos ou produtores de cuidado?

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Sacoman, Thiago Marchi [UNIFESP]
Orientador(a): Rios, Ademar Arthur Chioro dos [UNIFESP]
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: http://repositorio.unifesp.br/handle/11600/50939
Resumo: Introdução: a superlotação dos Serviços de Emergência Hospitalar (SEH) tem se tornado um desafio cada vez mais complexo para os sistemas de saúde. As intervenções preconizadas pelas políticas públicas vigentes tendem a dar prioridade para investimentos em infraestrutura e na organização de processos/tecnologias de gestão centrados nos ambientes, envolvendo os processos internos e de saídas dos SEH, mas deixando escapar a potência da análise da demanda dos hiperutilizadores. Considera-se hiperutilizador o usuário que frequenta o SEH 4 ou mais vezes ao ano. Diversos estudos destacam os usuários hiperutilizadores em virtude da alta demanda (28% dos atendimentos) e custos associados sobre os SEH. Todavia, inexistem estudos que abordem os hiperutilizadores com baixo risco clinico nos SEH. Objetivo: descrever o padrão de uso e compreender os motivos e as estratégias desenvolvidas por usuários hiperutilizadores de baixo risco clínico atendidos em SEH. Metodologia: a identificação dos hiperutilizadores foi realizada por meio da análise dos atendimentos realizados em 2016 pelo PS de um hospital universitário (HU) a partir das informações que constavam no banco de dados da instituição. Foram selecionados os 10 principais hiperutilizadores de baixo risco clínico para análise mais detalhada dos atendimentos no SEH, assim como rastreado os demais atendimentos em outros serviços do HU por meio de seus prontuários. Os resultados foram sistematizados e apresentados aos gestores do serviço para coleta de suas percepções sobre a utilização do serviço e posteriormente analisados criticamente. Resultados e Discussão: Em 2016, do total de usuários atendidos no SEH estudado, 8% podem ser considerados hiperutilizadores, que demandaram 1/3 dos atendimentos. Os hiperutilizadores classificados como de baixo risco clínico representaram 3% dos usuários e demandaram 10% do total de atendimentos. Considerando os 10 principais hiperutilizadores de baixo risco clínico, a maioria desses usuários é da própria região de saúde na qual o SEH está inserido, apresentam uma idade média de 49 anos, 70% são do sexo masculino, 60% realizavam acompanhamento ambulatorial no HU e apenas 1 apresentou um episódio de internação no ano de análise. Na percepção dos gestores, os motivos que incidem na hiperutilização do SEH por parte de usuários de baixo risco clínico são: fidelização do usuário em função da vinculação institucional aos ambulatórios especializados; o acesso ineficaz à rede de serviços; a regulação profissional efetuada pelos próprios trabalhadores do SEH que controlam os “segredos da porta”; a baixa capacidade da atenção básica em produzir acolhimento e vínculo; entre outros. Não foram identificadas estratégias do SEH para um olhar diferenciado para a hiperutilização do serviço. A inexistência de ações de articulação junto aos demais pontos da rede de urgência e emergência do SUS apresenta-se como ponto crítico. Conclusão: A análise do perfil dos usuários que procuram atendimento de urgência apresenta-se como instrumento para a melhor compreensão do fenômeno de superlotação na RUE. A análise da demanda dos hiperutilizadores de baixo risco clínico nos SEH pode proporcionar uma oportunidade de intervenção em processos de atendimento às urgências, na redução de gastos associados aos serviços de urgência, assim como na articulação do cuidado entre os demais pontos de atenção da rede de urgência na busca pela integralidade do cuidado e qualidade de vida desses usuários. O estudo traz questionamentos quanto à produção desses hiperutilizadores pelo próprio complexo hospitalar universitário permanece em aberto as estratégias utilizadas pelos usuários na utilização frequente do SEH na busca de cuidado, assim como outros desafios nos demais pontos de atenção da rede que influenciam o usuário nessa busca por cuidado recorrente nos SEH. Aprofundar a compreensão dessas estratégias a partir da voz dos próprios usuários pode trazer novas lógicas sobre os caminhos de acesso aos serviços.