As práticas religiosas atuando na recuperação de dependentes de drogas: a experiência de grupos católicos, evangélicos e espíritas
Ano de defesa: | 2006 |
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Tipo de documento: | Tese |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
Não Informado pela instituição
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Palavras-chave em Português: | |
Link de acesso: | http://repositorio.unifesp.br/handle/11600/21281 |
Resumo: | I Objetivo: Compreender e elucidar procedimentos dos diversos tratamentos para I dependência de drogas realizados por grupos religiosos, que não seguem os padrões médicos convencionais. Métodos: Utilizou-se de método qualitativo, empregando-se técnicas de entrevistas semi-estruturadas e observação participante, considerando a visão do fenômeno que têm os individuos que se submeteram a essas práticas religiosas. Registrou-se a percepção dos entrevistados sobre o tratamento religioso, uma vez que eram fonte rica de informação de um fenômeno por eles vivido intensamente. Resultados: Foram visitadas 21 instituições religiosas dos segmentos católico, protestante e espírita, nas quais foram contatados informantes-chave que permitiram a entrada e acesso à cultura e a 85 ex-usuários de drogas, submetidos a práticas religiosas no tratamento da dependência de drogas, que foram entrevistados em profundidade. Observou-se que a crise é o maior motivo de busca de tratamento, nos três grupos, sendo representada pela perda de família, emprego e sujeição a fortes humilhações. Os evangélicos foram os que mais utilizaram o recurso religioso como forma exclusiva de tratamento, apresentando forte repulsa ao papel do médico e qualquer tipo de tratamento farmacológico. Também foram os que descreveram maior intensidade da crise vivida, relacionada especialmente a drogas ilícitas. Os espíritas foram os que buscaram mais apoio terapêutico à dependência de drogas lícitas, simultaneamente a um tratamento convencional, justificado inclusive por serem o grupo de maior poder aquisitivo. Os católicos afirmaram terem buscado apoio no que já Ihes era conhecido, já que todos foram educados nesta religião. O que há de comum em todos os tratamentos é a importância dada à oração, conversa com Deus, como método de controle da fissura da droga, atuando como forte ansiolítico. Para evangélicos e católicos, a confissão e o perdão, através da conversão (fé) ou das penitências, respectivamente, exercem forte apelo à reestruturação da vida e aumento da auto-estima. Apesar de todos os entrevistados terem se vinculado a um tratamento religioso para dependência de drogas, a fé não foi o móvel inicial desta busca. Na realidade ela foi desenvolvida numa etapa posterior do tratamento, sendo uma decorrência dos sucessos observados em terceiros ou em sua própria recuperação paulatina. O que os manteve na instituição religiosa foi a admiração pelo acolhimento recebido, a pressão positiva do grupo e a oferta de reestruturação da vida com apoio incondicional dos líderes religiosos. Além disso, a religião Ihes oferece condições de refazer seus vínculos de amizade, através de diversas atividades ocupacionais voluntárias e, assim, facilitando o afastamento da droga e dos companheiros vinculados a ela. Conclusões: O tratamento religioso para dependência de drogas ganha espaço na saúde pública brasileira e compartilha responsabilidade com o serviço de saúde convencional. Tais intervenções são consideradas eficazes pelos indivíduos submetidos a elas e despertam a atenção destes pela forma humana e respeitosa pela qual são tratados. A maior potencialidade destes tratamentos está no suporte social do grupo que os recebe, no tratamento de igual para igual e no acolhimento imediato e sem julgamentos, mostrando que o sucesso destas ações não se esgota num possível aspecto "sobrenatural", como poder-se-ia supor, mas sim, em especial, na dedicação incondicional do ser - humano por seu semelhante. |
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As práticas religiosas atuando na recuperação de dependentes de drogas: a experiência de grupos católicos, evangélicos e espíritasReligious practices acting innthe recovery of drug addicts: the experience in catholics, evangelicals and spiritists groupsTranstornos relacionados ao uso de substânciasReligiãoMetodologiaRelações interpessoaisI Objetivo: Compreender e elucidar procedimentos dos diversos tratamentos para I dependência de drogas realizados por grupos religiosos, que não seguem os padrões médicos convencionais. Métodos: Utilizou-se de método qualitativo, empregando-se técnicas de entrevistas semi-estruturadas e observação participante, considerando a visão do fenômeno que têm os individuos que se submeteram a essas práticas religiosas. Registrou-se a percepção dos entrevistados sobre o tratamento religioso, uma vez que eram fonte rica de informação de um fenômeno por eles vivido intensamente. Resultados: Foram visitadas 21 instituições religiosas dos segmentos católico, protestante e espírita, nas quais foram contatados informantes-chave que permitiram a entrada e acesso à cultura e a 85 ex-usuários de drogas, submetidos a práticas religiosas no tratamento da dependência de drogas, que foram entrevistados em profundidade. Observou-se que a crise é o maior motivo de busca de tratamento, nos três grupos, sendo representada pela perda de família, emprego e sujeição a fortes humilhações. Os evangélicos foram os que mais utilizaram o recurso religioso como forma exclusiva de tratamento, apresentando forte repulsa ao papel do médico e qualquer tipo de tratamento farmacológico. Também foram os que descreveram maior intensidade da crise vivida, relacionada especialmente a drogas ilícitas. Os espíritas foram os que buscaram mais apoio terapêutico à dependência de drogas lícitas, simultaneamente a um tratamento convencional, justificado inclusive por serem o grupo de maior poder aquisitivo. Os católicos afirmaram terem buscado apoio no que já Ihes era conhecido, já que todos foram educados nesta religião. O que há de comum em todos os tratamentos é a importância dada à oração, conversa com Deus, como método de controle da fissura da droga, atuando como forte ansiolítico. Para evangélicos e católicos, a confissão e o perdão, através da conversão (fé) ou das penitências, respectivamente, exercem forte apelo à reestruturação da vida e aumento da auto-estima. Apesar de todos os entrevistados terem se vinculado a um tratamento religioso para dependência de drogas, a fé não foi o móvel inicial desta busca. Na realidade ela foi desenvolvida numa etapa posterior do tratamento, sendo uma decorrência dos sucessos observados em terceiros ou em sua própria recuperação paulatina. O que os manteve na instituição religiosa foi a admiração pelo acolhimento recebido, a pressão positiva do grupo e a oferta de reestruturação da vida com apoio incondicional dos líderes religiosos. Além disso, a religião Ihes oferece condições de refazer seus vínculos de amizade, através de diversas atividades ocupacionais voluntárias e, assim, facilitando o afastamento da droga e dos companheiros vinculados a ela. Conclusões: O tratamento religioso para dependência de drogas ganha espaço na saúde pública brasileira e compartilha responsabilidade com o serviço de saúde convencional. Tais intervenções são consideradas eficazes pelos indivíduos submetidos a elas e despertam a atenção destes pela forma humana e respeitosa pela qual são tratados. A maior potencialidade destes tratamentos está no suporte social do grupo que os recebe, no tratamento de igual para igual e no acolhimento imediato e sem julgamentos, mostrando que o sucesso destas ações não se esgota num possível aspecto "sobrenatural", como poder-se-ia supor, mas sim, em especial, na dedicação incondicional do ser - humano por seu semelhante.BV UNIFESP: Teses e dissertaçõesUniversidade Federal de São Paulo (UNIFESP)Nappo, Solange Aparecida [UNIFESP]Sanchez, Zila van der Meer [UNIFESP]2015-12-06T23:44:28Z2015-12-06T23:44:28Z2006info:eu-repo/semantics/doctoralThesisinfo:eu-repo/semantics/publishedVersion389 p.application/pdfSANCHEZ, Zila van der Meer. As práticas religiosas atuando na recuperação de dependentes de drogas: a experiência de grupos católicos, evangélicos e espíritas. 2006. 389 f. Tese (Doutorado) - Escola Paulista de Medicina, Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), São Paulo, 2006.epm-20061025095232GARCIA.pdfhttp://repositorio.unifesp.br/handle/11600/21281porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Repositório Institucional da UNIFESPinstname:Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)instacron:UNIFESP2024-07-28T20:51:21Zoai:repositorio.unifesp.br/:11600/21281Repositório InstitucionalPUBhttp://www.repositorio.unifesp.br/oai/requestbiblioteca.csp@unifesp.bropendoar:34652024-07-28T20:51:21Repositório Institucional da UNIFESP - Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP)false |
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