Território, conhecimento local e uso do solo na comunidade quilombola de Malhada Grande Norte de Minas Gerais

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2012
Autor(a) principal: Matuk, Fernanda Ayaviri
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Viçosa
BR
Fertilidade do solo e nutrição de plantas; Gênese, Morfologia e Classificação, Mineralogia, Química,
Mestrado em Solos e Nutrição de Plantas
UFV
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://locus.ufv.br/handle/123456789/5500
Resumo: O contexto socioambiental e científico tem enfatizado a importância da realização de estudos interdisciplinates e etnocientíficos, visando a análise integrada da realidade. Nesse sentido, a associação de uma abordagem territorial com a Etnopedologia permite uma ampla visão sobre o uso do solo, o saber local e as demandas locais, constituindo-se como importante ferramenta para a atuação junto a comunidades rurais, que deve ser explorada. Este trabalho investigou o saber local sobre os solos e o uso do solo de uma comunidade integrante do Quilombo Gurutuba, localizada em Malhada Grande (Catuti Norte de MG). Os principais objetivos do trabalho, voltados para a compreensão do uso e ocupação do solo, foram: relacionar o saber local sobre geoambientes e solos ao saber científico; avaliar a aptidão agrícola dos solos coletados e analisá-la em relação ao uso do solo praticado; relacionar as mudanças no uso do solo com as transformações ocorridas na territorialidade local. A metodologia consistiu em: levantamento do histórico de uso do solo e do saber local sobre geoambientes e solos, turnês-guiadas, entrevistas semi-estruturadas, coleta e tradagem dos solos identificados, bem como descrição e análise química e física dos solos coletados. Também foram realizados o Mapeamento participativo dos geoambientes e do uso do solo, a avaliação e mapeamento da aptidão agrícola dos solos e a articulação entre saber local (emicista) e científico (eticista). Na estratificação ambiental local foram identificados três macroambientes, Alto, Alta e Baixa, que correspondem, respectivamente, ao topo, à encosta e à planície de inundação. Esses foram subdivididos em geoambientes, distintos em função de um sistema local de classificação dos solos, baseado principalmente na cor, textura e consistência do solo. Esses ambientes foram interpretados pedogeomorfologicamente originando uma chave de identificação pedogeoambiental, na qual foram identificadas as seguintes classes: Altos com Terra vermelha/ Topos aplainados com Latossolo Amarelo distrófico argissólico e Argissolo Vermelho-Amarelo; Baixios do Alto com Barro branco duro/ Depressões de topo com Plintossolo Argilúvico; Furados com Barro branco mais duro/ Depressão endorréica com Plintossolo Argilúvico eutrófico abrúptico e Planossolo Háplico; Altas com Terra branca/ Encostas pedimentadas com Neossolo Quartzarênico órtico típico; Baixios da Alta com Barro branco/ Depressões da encosta com Plitossolo Argilúvico; Capões com Terra branca mais cultura/ Cordões arenosos com Neossolo Regolítico; Vargens com Barro escuro duro/ Planícies fluviais parcialmente inundáveis com Planossolos Háplico eutrófico solódico e Plintossolo Háplico; Vazantes com Terra Preta/ Planície fluvial inundável com Plintossolo Háplico eutrófico típico; Neossolo Flúvico e Gleissolo Háplico. Os solos analisados foram, em sua maioria, eutróficos, exceto o Latossolo e o Neossolo Quartzarênico. A geologia Coberturas Detrícicas refletiu-se na fração granulométrica dos solos, com predomínio de areia fina e areia grossa e da textura areiafranca ou média. O clima da região, que confere menor intemperismo químico, favorece a conservação de Ca2+ e Mg2+ no complexo de troca, presença de argila de alta atividade (Planossolo e Plintossolo) e altos valores de relação silte/argila. Os principais elementos que orientam o uso e ocupação do solo são: sazonalidade climática; oferta de água, terra, mão de obra e renda e distância do geoambiente da moradia. O uso do solo se concentra na encosta, com quintais agroflorestais, cultivos anuais e pastagem; uma vez que no topo a escassez de água limita o uso a pastagem e a planície de inundação pode ser usada somente na seca. Os principais fatores de limitação à aptidão agrícola das terras foram restrição hídrica e deficiência de oxigênio. A maioria dos solos apresentou aptidão para pastagem, sendo o Plintossolo da Vazante o único com aptidão para lavoura. O uso do solo, no geral, segue os critérios considerados pelo sistema de avaliação da aptidão, mas é definido em função da oferta de recursos e da necessidade de produzir e obter o autoconsumo. O conhecimento local, estruturado a partir da experiência agrícola, apresentou-se muito vasto e possui grande correspondência com o científico. A pressão antrópica sobre os solos não se deve à falta de conhecimento. Ela tem sido provocada e enfatizada pela escassez de terra e adoção de atividades voltadas para o mercado. A reestruturação da territorialidade da comunidade decorreu da expropriação de terra, da modernização, da intensificação da escassez de água e da degradação do solo e da vegetação. A redefinição do uso e ocupação do solo, referente às atividades produtivas, à produtividade, ao uso comunal dos recursos, etc., foi essencial para a permanência da comunidade no território.
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spelling Território, conhecimento local e uso do solo na comunidade quilombola de Malhada Grande Norte de Minas GeraisTerritory, local knowledge and land use in the quilombola community of Malhada Grande - North of Minas Gerais.EtnopedologiaTerritórioUso do soloEthnopedologyTerritoryLand useCNPQ::CIENCIAS AGRARIAS::AGRONOMIA::CIENCIA DO SOLOO contexto socioambiental e científico tem enfatizado a importância da realização de estudos interdisciplinates e etnocientíficos, visando a análise integrada da realidade. Nesse sentido, a associação de uma abordagem territorial com a Etnopedologia permite uma ampla visão sobre o uso do solo, o saber local e as demandas locais, constituindo-se como importante ferramenta para a atuação junto a comunidades rurais, que deve ser explorada. Este trabalho investigou o saber local sobre os solos e o uso do solo de uma comunidade integrante do Quilombo Gurutuba, localizada em Malhada Grande (Catuti Norte de MG). Os principais objetivos do trabalho, voltados para a compreensão do uso e ocupação do solo, foram: relacionar o saber local sobre geoambientes e solos ao saber científico; avaliar a aptidão agrícola dos solos coletados e analisá-la em relação ao uso do solo praticado; relacionar as mudanças no uso do solo com as transformações ocorridas na territorialidade local. A metodologia consistiu em: levantamento do histórico de uso do solo e do saber local sobre geoambientes e solos, turnês-guiadas, entrevistas semi-estruturadas, coleta e tradagem dos solos identificados, bem como descrição e análise química e física dos solos coletados. Também foram realizados o Mapeamento participativo dos geoambientes e do uso do solo, a avaliação e mapeamento da aptidão agrícola dos solos e a articulação entre saber local (emicista) e científico (eticista). Na estratificação ambiental local foram identificados três macroambientes, Alto, Alta e Baixa, que correspondem, respectivamente, ao topo, à encosta e à planície de inundação. Esses foram subdivididos em geoambientes, distintos em função de um sistema local de classificação dos solos, baseado principalmente na cor, textura e consistência do solo. Esses ambientes foram interpretados pedogeomorfologicamente originando uma chave de identificação pedogeoambiental, na qual foram identificadas as seguintes classes: Altos com Terra vermelha/ Topos aplainados com Latossolo Amarelo distrófico argissólico e Argissolo Vermelho-Amarelo; Baixios do Alto com Barro branco duro/ Depressões de topo com Plintossolo Argilúvico; Furados com Barro branco mais duro/ Depressão endorréica com Plintossolo Argilúvico eutrófico abrúptico e Planossolo Háplico; Altas com Terra branca/ Encostas pedimentadas com Neossolo Quartzarênico órtico típico; Baixios da Alta com Barro branco/ Depressões da encosta com Plitossolo Argilúvico; Capões com Terra branca mais cultura/ Cordões arenosos com Neossolo Regolítico; Vargens com Barro escuro duro/ Planícies fluviais parcialmente inundáveis com Planossolos Háplico eutrófico solódico e Plintossolo Háplico; Vazantes com Terra Preta/ Planície fluvial inundável com Plintossolo Háplico eutrófico típico; Neossolo Flúvico e Gleissolo Háplico. Os solos analisados foram, em sua maioria, eutróficos, exceto o Latossolo e o Neossolo Quartzarênico. A geologia Coberturas Detrícicas refletiu-se na fração granulométrica dos solos, com predomínio de areia fina e areia grossa e da textura areiafranca ou média. O clima da região, que confere menor intemperismo químico, favorece a conservação de Ca2+ e Mg2+ no complexo de troca, presença de argila de alta atividade (Planossolo e Plintossolo) e altos valores de relação silte/argila. Os principais elementos que orientam o uso e ocupação do solo são: sazonalidade climática; oferta de água, terra, mão de obra e renda e distância do geoambiente da moradia. O uso do solo se concentra na encosta, com quintais agroflorestais, cultivos anuais e pastagem; uma vez que no topo a escassez de água limita o uso a pastagem e a planície de inundação pode ser usada somente na seca. Os principais fatores de limitação à aptidão agrícola das terras foram restrição hídrica e deficiência de oxigênio. A maioria dos solos apresentou aptidão para pastagem, sendo o Plintossolo da Vazante o único com aptidão para lavoura. O uso do solo, no geral, segue os critérios considerados pelo sistema de avaliação da aptidão, mas é definido em função da oferta de recursos e da necessidade de produzir e obter o autoconsumo. O conhecimento local, estruturado a partir da experiência agrícola, apresentou-se muito vasto e possui grande correspondência com o científico. A pressão antrópica sobre os solos não se deve à falta de conhecimento. Ela tem sido provocada e enfatizada pela escassez de terra e adoção de atividades voltadas para o mercado. A reestruturação da territorialidade da comunidade decorreu da expropriação de terra, da modernização, da intensificação da escassez de água e da degradação do solo e da vegetação. A redefinição do uso e ocupação do solo, referente às atividades produtivas, à produtividade, ao uso comunal dos recursos, etc., foi essencial para a permanência da comunidade no território.The environmental and scientific context has emphasized the importance of realizing interdisciplinary and ethnoscientific studies that offer an integrated analysis of reality. In this sense, the association of a regional approach to ethnopedology allows for a broad study about the use of the land, the local knowledge, and the local demands, resulting in an important tool, which should be explored, for working with rural communities. This study has investigated the local knowledge about soils and the use of land of a community member of Quilombo Gurutuba, located in Malhada Grande (Catuti - North MG) in order to understand the land use and occupation. The main objectives of this research were to relate local knowledge about soils and geoenvironment to scientific knowledge, to evaluate the agricultural potential of the collected soils and to relate it to the land use which is practiced, and to relate changes that have occurred in land use with changes in territoriality. The methodology consisted of a survey of historical land use and local knowledge about soils and environments, guided-tours, semi-structured interviews, as well as the collection of soil samples for description and chemical and physical analyses. Were also performed participatory mapping of geoenvironments and land use, evaluation and mapping of soils and agricultural potential, which was analyzed in relation to the land use, and, articulation between local knowledge (emicist) and scientific knowledge (ethicist). Local environmental stratification identified three macroenvironments, High, High (hill) and Low, which correspond, respectively, to the top, the hillside and the fluvial plain. These were subdivided into microenvironments, in other words, geoenvironments based in a local system of soil classification, which is based mainly on color, texture, and consistency. These environments were pedogeomorfologicaly interpreted yielding a edogeoambiental identification key, in which were identified the following classes: Altos com Terra vermelha/ Flattened tops with Oxisol and Argissol; Baixios do Alto com Barro branco duro/Top s depressions with Plinthosol; Furados com Barro branco mais duro/ Endoreic depression with Plinthosol and Planosol; Altas com Terra branca/Slopes with Neosol; Baixios da Alta com Barro branco/Slope s depressions with Plinthosol; Capões com Terra branca mais cultura/Sandy barrier with eutrophic Neosol; Vargens com Barro escuro duro/Partially flooded fluvial plain with Planosols and Plinthosol; Vazantes com Terra preta/Flooded fluvial plain with Plintossolo, Neosol and Gleysol. The analyzed soils were mostly normal except for the Oxisol and Neosol. Most soils were eutrophic. The geology consisting of clayish and sandy covers was reflected in the particle size fraction of soils. The climate, which provides lower chemical weathering, favors the retention of Ca2+ and Mg2+ on the exchange complex, the presence of high activity clay, and high values of silt/clay ratio. The main elements that guide the land use and occupation were the seasonal climate, water supply, land, labor and distance of the geoenvironment in relation to home. The land use focuses on the hillside, where there are homegardens, annual crops, and pasture, once that water scarcity limits the use of land at the top as pasture and that floodplain can be used only in dry season. The main factors limiting the ability of agricultural lands were water scarcity and oxygen deficiency. Most soils showed suitability for grazing, and the Vazante Plinthosol was the only one with the ability to crop. Land use, in general, followed the criteria considered by the evaluation system of land suitability, but it was defined based on the supply of resources and the need to produce and obtain self-sufficiency. Local knowledge, which was obtained from the agricultural experience, appeared very large and it greatly matched scientific knowledge. It was concluded that the human pressure on the land is not due to lack of knowledge. It has been caused and enhanced mainly with the scarcity of land and the adoption of market-oriented activities. The restructuring of the community s territoriality was caused by expropriation of land, modernization, intensification of water scarcity, and degradation of soil and vegetation. The redefinition of the use and occupation of land was essential for the community s remaining in the territory.Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e TecnológicoUniversidade Federal de ViçosaBRFertilidade do solo e nutrição de plantas; Gênese, Morfologia e Classificação, Mineralogia, Química,Mestrado em Solos e Nutrição de PlantasUFVhttp://lattes.cnpq.br/7242410413258739Jucksch, Ivohttp://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4723123H4Simas, Felipe Nogueira Bellohttp://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4766936J5Fernandes, Raphael Bragança Alveshttp://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4728400J8Coelho, France Maria Gontijohttp://buscatextual.cnpq.br/buscatextual/visualizacv.do?id=K4784228E8Matuk, Fernanda Ayaviri2015-03-26T13:53:27Z2013-06-242015-03-26T13:53:27Z2012-09-28info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfapplication/pdfMATUK, Fernanda Ayaviri. Territory, local knowledge and land use in the quilombola community of Malhada Grande - North of Minas Gerais.. 2012. 147 f. Dissertação (Mestrado em Fertilidade do solo e nutrição de plantas; Gênese, Morfologia e Classificação, Mineralogia, Química,) - Universidade Federal de Viçosa, Viçosa, 2012.http://locus.ufv.br/handle/123456789/5500porinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:LOCUS Repositório Institucional da UFVinstname:Universidade Federal de Viçosa (UFV)instacron:UFV2016-04-12T02:03:53Zoai:locus.ufv.br:123456789/5500Repositório InstitucionalPUBhttps://www.locus.ufv.br/oai/requestfabiojreis@ufv.bropendoar:21452016-04-12T02:03:53LOCUS Repositório Institucional da UFV - Universidade Federal de Viçosa (UFV)false
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