A construção do acontecimento histórico: o discurso do jornal O Estado de São Paulo sobre a Guerra de Canudos e sobre as comemorações do seu centenário
Ano de defesa: | 2012 |
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Resumo: | O presente trabalho tem como objetivo principal entender como o discurso jornalístico constrói o acontecimento histórico – o que, por sua vez, se desdobra em cinco objetivos específicos. O primeiro é a problematização da noção de acontecimento e das características do acontecimento histórico e do jornalístico. O segundo é a descrição dos principais aspectos do modelo de imprensa moderna, particularmente, no que concerne à projeção dos saberes e das expectativas do leitor, bem como à estruturação da temporalidade na narrativa. O desenvolvimento de uma metodologia e a explicação dos operadores de análise do discurso jornalístico sobre o acontecimento formam o terceiro objetivo; enquanto o quarto é a investigação da construção do acontecimento jornalístico no momento de sua irrupção, estabelecendo relações entre os ditos (e os não-ditos) do mesmo jornal sobre tal ocorrência ao longo do tempo. O quinto é a análise do discurso sobre o acontecimento histórico em anos comemorativos, buscando compreender como o jornal impresso tem resgatado o passado em meio ao contexto atual de supervalorização do presente. Para tanto, é analisado o discurso de O Estado de S. Paulo sobre a Guerra de Canudos, de 1896 (primeiro ano do conflito) até 2009 (centenário da morte de Euclides da Cunha, correspondente de guerra do Estado). Fundamentada em estudos teóricos sobre o acontecimento, o jornalismo, a memória e na análise do discurso de linha francesa, a pesquisa tem como operadores metodológicos: o posicionamento, os dêiticos, o ethos e a heterogeneidade. Seus resultados apontam que, no ano da guerra, O Estado de S. Paulo produziu o discurso de República ameaçada por Canudos; depois, vitoriosa e triunfante sobre Canudos; e, por fim, envergonhada por causa de Canudos; mas sempre contrapondo os sertanejos (“eles”) aos republicanos (“nós”, enunciadores e leitores). Após o período de “memória impedida”, quando o jornal havia parado de dar relevância ao assunto e silenciado, o Estado buscou racionalizar o acontecimento, se posicionando como herdeiro da leitura final de Euclides (em Os sertões), sobre a guerra como um crime. Contudo, na contemporaneidade, apesar das mudanças na enunciação sobre Canudos, o jornal reproduz a mesma postura enunciativa de estranhamento do sertanejo e, logo, o discurso do “nós e eles”. As superfícies dos enunciados analisados também revelam um discurso de atemporalidade e imutabilidade do sertão, que ancora não apenas o passado no presente, mas o presente no passado. Desse percurso, enfim, é possível concluir que o discurso jornalístico constrói o acontecimento histórico pela circulação de palavras e dizeres, pelo uso e abuso da memória coletiva e, entre outros, pela estruturação de uma espessura temporal que ultrapassa o presentismo e se finca no triplo presente da narrativa. |
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O desenvolvimento de uma metodologia e a explicação dos operadores de análise do discurso jornalístico sobre o acontecimento formam o terceiro objetivo; enquanto o quarto é a investigação da construção do acontecimento jornalístico no momento de sua irrupção, estabelecendo relações entre os ditos (e os não-ditos) do mesmo jornal sobre tal ocorrência ao longo do tempo. O quinto é a análise do discurso sobre o acontecimento histórico em anos comemorativos, buscando compreender como o jornal impresso tem resgatado o passado em meio ao contexto atual de supervalorização do presente. Para tanto, é analisado o discurso de O Estado de S. Paulo sobre a Guerra de Canudos, de 1896 (primeiro ano do conflito) até 2009 (centenário da morte de Euclides da Cunha, correspondente de guerra do Estado). Fundamentada em estudos teóricos sobre o acontecimento, o jornalismo, a memória e na análise do discurso de linha francesa, a pesquisa tem como operadores metodológicos: o posicionamento, os dêiticos, o ethos e a heterogeneidade. Seus resultados apontam que, no ano da guerra, O Estado de S. Paulo produziu o discurso de República ameaçada por Canudos; depois, vitoriosa e triunfante sobre Canudos; e, por fim, envergonhada por causa de Canudos; mas sempre contrapondo os sertanejos (“eles”) aos republicanos (“nós”, enunciadores e leitores). Após o período de “memória impedida”, quando o jornal havia parado de dar relevância ao assunto e silenciado, o Estado buscou racionalizar o acontecimento, se posicionando como herdeiro da leitura final de Euclides (em Os sertões), sobre a guerra como um crime. Contudo, na contemporaneidade, apesar das mudanças na enunciação sobre Canudos, o jornal reproduz a mesma postura enunciativa de estranhamento do sertanejo e, logo, o discurso do “nós e eles”. 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