Experiências cruzadas: a participação popular no Plano Cruzado em perspectiva histórica

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2012
Autor(a) principal: Assis, Charleston José de Sousa
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Niterói
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://app.uff.br/riuff/handle/1/16292
Resumo: Em 28 de fevereiro de 1986, o presidente Sarney, em cadeia nacional, anuncia o Plano Cruzado, que recebe imediata e surpreendente adesão popular. Após o fracasso do plano – e do governo – cristalizou-se na memória social que a entusiástica participação popular resultara da manipulação exercida pelos meios de comunicação, que conduziram a uma adesão cega, irrefletida e apolítica do povo ignorante. Entendendo que a participação popular no plano ocorreu porque o mesmo pareceu ser o ponto inicial de transformações sociais exigidas pela população havia décadas, bem como porque havia laços identitários previamente formados bem antes do anúncio do plano, notadamente durante a luta contra a ditadura militar, e partindo de reflexões propostas por autores como E. P. Thompson, S. Hall e B. Anderson, esta pesquisa, pretendeu refletir sobre a participação popular ao referido plano econômico estritamente em uma perspectiva histórica, isto é, que levasse em conta a dimensão processual desta participação, dando voz a sujeitos sociais que não os formuladores do plano, e seus associados. A identidade comum exibida durante as ações de fixação de preços do Cruzado resultara das experiências sociais excludentes - materiais e/ou simbólicas - que atingiram a praticamente todos os segmentos sociais durante a ditadura, combinadas a experiências com sentimentos nacionalistas que identificavam como “estrangeiros” todos os agentes políticos e econômicos que estavam no campo oposto ao da criação de um regime democrático igualitário e socialmente justo. Como atestam registros impressos (periódicos), audiovisuais, musicais, e, sobretudo, cartas enviadas pela população à Assembleia Nacional Constituinte em 1986/7, o Cruzado adquiriu contornos morais que estavam muito além da luta contra a inflação. Nos inúmeros conflitos ocorridos, o historiador pode apreender muitos elementos da cultura política dos trabalhadores e integrantes de outros segmentos, que, naquele processo histórico, tiveram suas diferenças inibidas a ponto de assumirem um protagonismo que chegou a assustar autoridades e empresários. Foi possível, portanto, evidenciar que a adesão não fora acrítica, mas eminentemente condicional, como atestam o sem-número de greves, protestos, quebra-quebras contra o governo Sarney após ficar evidente o caráter transitório do Cruzado, os quais desmentem certa interpretação e memória de que seu sucesso fora construído apenas em função de mecanismos de controle social operados pelos meios de comunicação
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Entendendo que a participação popular no plano ocorreu porque o mesmo pareceu ser o ponto inicial de transformações sociais exigidas pela população havia décadas, bem como porque havia laços identitários previamente formados bem antes do anúncio do plano, notadamente durante a luta contra a ditadura militar, e partindo de reflexões propostas por autores como E. P. Thompson, S. Hall e B. Anderson, esta pesquisa, pretendeu refletir sobre a participação popular ao referido plano econômico estritamente em uma perspectiva histórica, isto é, que levasse em conta a dimensão processual desta participação, dando voz a sujeitos sociais que não os formuladores do plano, e seus associados. A identidade comum exibida durante as ações de fixação de preços do Cruzado resultara das experiências sociais excludentes - materiais e/ou simbólicas - que atingiram a praticamente todos os segmentos sociais durante a ditadura, combinadas a experiências com sentimentos nacionalistas que identificavam como “estrangeiros” todos os agentes políticos e econômicos que estavam no campo oposto ao da criação de um regime democrático igualitário e socialmente justo. Como atestam registros impressos (periódicos), audiovisuais, musicais, e, sobretudo, cartas enviadas pela população à Assembleia Nacional Constituinte em 1986/7, o Cruzado adquiriu contornos morais que estavam muito além da luta contra a inflação. Nos inúmeros conflitos ocorridos, o historiador pode apreender muitos elementos da cultura política dos trabalhadores e integrantes de outros segmentos, que, naquele processo histórico, tiveram suas diferenças inibidas a ponto de assumirem um protagonismo que chegou a assustar autoridades e empresários. Foi possível, portanto, evidenciar que a adesão não fora acrítica, mas eminentemente condicional, como atestam o sem-número de greves, protestos, quebra-quebras contra o governo Sarney após ficar evidente o caráter transitório do Cruzado, os quais desmentem certa interpretação e memória de que seu sucesso fora construído apenas em função de mecanismos de controle social operados pelos meios de comunicaçãoOn February 28, 1986, President Sarney, in a national network, announces the Cruzado Plan, which receives immediate and surprising popular support. After the failure of the plan - and govemment - crystallized in the social memory of the enthusiastic public participation resulted from the manipulation exerted by the media, which led to a blind adherence, thoughtless and ignorant people of the apolitical. Understanding that popular participation in the plan happened because it seemed to be the starting point of social changes required by the population for decades, and because identily ties had previously formed before the announcement of the plan, especially during the struggle against military dictatorship and based on reflections proposed by authors such as E. P. Thompson, S. Hall, B. Anderson, this research intended to reflect on people's participation in the economic perspective that takes into account the procedural dimension of participation, giving voice to social subjects that were not the formulators of the plan, and their associates. The common identity appears when the actions of the Cruzado pricing resulted exclusionary social experiences - materials and/or symbolic - that hit practically all segments of society during the dictatorship, combined with nationalist feelings to experiences that they identified as "foreign" all political and economic agents who were in the camp opposed to the creation of a democratic egalitarian and socially just. As evidenced by paper records (joumals), audiovisual, music, and especially letters from the public to the National Constituent Assembly in 1986/7, the Cruzado acquired moral outlines thal were far beyond the fight against inflation. In many conflicts occurred, the historian can grasp many elements of the political culture of workers and members of other segments, that the historical process that had inhibited their differences as to assume a role that came to scare authorities and entrepreneurs, demonstrating that compliance was not uncritical, but highly conditional, as evidenced by the countless number of strikes, protests and demonstrations against the govemment Sarney after getting clear the transitional character of the Cruzado, which belie some belief that his success was built only on the basis of social control mechanisms operated by the media533 f.NiteróiMaciel, Laura AntunesMartins, Ismenia de LimaMotta, Marly Silva daBrites, OlgaQuadrat, Samantha VizAssis, Charleston José de Sousa2020-12-10T14:54:27Z2020-12-10T14:54:27Z2012info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfASSIS, Charleston José de Sousa. Experiências cruzadas: a participação popular no plano em perspectiva histórica. 2012. 533f. Tese (Doutorado em História) - Universidade Federal Fluminense. Niterói, 2012.https://app.uff.br/riuff/handle/1/16292Aluno de Doutoradohttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/CC-BY-SAinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)instname:Universidade Federal Fluminense (UFF)instacron:UFF2022-07-18T17:42:29Zoai:app.uff.br:1/16292Repositório InstitucionalPUBhttps://app.uff.br/oai/requestriuff@id.uff.bropendoar:21202022-07-18T17:42:29Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) - Universidade Federal Fluminense (UFF)false
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