Dois presentes, dois passados, dois futuros: funcionamento discursivo dos votos dos deputados na sessão do impeachment de Dilma Rousseff

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2021
Autor(a) principal: Silva, Ariana da Rosa
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://app.uff.br/riuff/handle/1/21833
Resumo: Filiada ao arcabouço teórico e aos procedimentos de análise da Análise do Discurso materialista (PÊCHEUX, 2014a [1969], 2014c [1975]), (ORLANDI, 2011 [1984], 2015 [1992]), esta pesquisa tem como objetivo compreender o funcionamento discursivo dos enunciados dos votos dos deputados favoráveis e contrários ao golpe/impeachment da presidenta Dilma Rousseff (Partido dos Trabalhadores) em 2016 no Brasil. O corpus de nossa pesquisa é composto por enunciados formulados por sujeitos do lugar institucional de deputados federais na votação realizada na Sessão Deliberativa Extraordinária nº 091.2.55.0 da Câmara dos Deputados em 17 de abril de 2016 direcionada à instauração do processo de impeachment contra Dilma Rousseff (PT). De modo específico, buscamos depreender os processos de produção de sentidos dos enunciados formulados pelos sujeitos do lugar institucional de deputados federais, inscritos em formações discursivas distintas, que significam o tempo presente das condições sócio-históricas, políticas e econômicas do país que circunscrevem o acontecimento histórico, político e discursivo do golpe/impeachment. Consideramos que esses processos discursivos são determinados pelas relações de forças contraditórias e desiguais no campo político no qual se inserem e que estão sempre em relação a outros processos discursivos que os delimitam. Para o gesto de análise empreendido nesta tese, foram mobilizados conceitos teórico-analíticos como os de intradiscurso, interdiscurso, memória, formação discursiva, paráfrase, polissemia, metáfora. De acordo com a Análise do Discurso, o sujeito não é livre e não possui total controle do que enuncia, uma vez que os sentidos não têm origem no sujeito. Nessa perspectiva, os sentidos não são únicos e estáveis, mas se constituem historicamente, à revelia do sujeito, nas contradições ideológicas, entre a memória e as atualizações de sentidos na língua e nas práticas discursivas. O sujeito, ao enunciar seu voto, ocupa determinadas posições e inscreve-se em diferentes formações discursivas, que comportam determinados saberes que regulam o que pode/não pode e deve/não deve ser dito em dadas condições de produção. Desse modo, é no interior das relações de forças e de sentidos, que os sujeitos buscam preencher os votos “sim” e “não” de sentidos, chegando a uma saturação e silenciando sentidos outros. Foi possível depreender, em nosso gesto de análise, que as práticas discursivas dos votos se produziam numa aglutinação de memória de tempos descontínuos da história, construindo duas narrativas, estabelecendo dois lugares, entre muitos outros possíveis, de construção de uma memória que pode ou não se sedimentar na escrita da história deste acontecimento. Dessa forma, os processos discursivos em análise se constituem em relação a uma rede de memória, possibilitando a construção de uma memória do presente, atualizando uma memória do passado e ainda projetando uma memória do futuro: uma memória sempre atravessada pelo funcionamento ideológico que constitui o imaginário do sujeito. Delimitam-se, assim, duas formações discursivas antagônicas: formação discursiva antipetista (votos favoráveis ao impeachment) e formação discursiva democrática (votos contrários ao golpe) que regulam a produção de sentidos. Pudemos verificar que há um empobrecimento do simbólico político no discurso político brasileiro que, com o efeito de dicotomização, simplifica a complexidade da sociedade, a complexidade da história, silenciando as nuances e apagando a luta de classes
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O corpus de nossa pesquisa é composto por enunciados formulados por sujeitos do lugar institucional de deputados federais na votação realizada na Sessão Deliberativa Extraordinária nº 091.2.55.0 da Câmara dos Deputados em 17 de abril de 2016 direcionada à instauração do processo de impeachment contra Dilma Rousseff (PT). De modo específico, buscamos depreender os processos de produção de sentidos dos enunciados formulados pelos sujeitos do lugar institucional de deputados federais, inscritos em formações discursivas distintas, que significam o tempo presente das condições sócio-históricas, políticas e econômicas do país que circunscrevem o acontecimento histórico, político e discursivo do golpe/impeachment. Consideramos que esses processos discursivos são determinados pelas relações de forças contraditórias e desiguais no campo político no qual se inserem e que estão sempre em relação a outros processos discursivos que os delimitam. Para o gesto de análise empreendido nesta tese, foram mobilizados conceitos teórico-analíticos como os de intradiscurso, interdiscurso, memória, formação discursiva, paráfrase, polissemia, metáfora. De acordo com a Análise do Discurso, o sujeito não é livre e não possui total controle do que enuncia, uma vez que os sentidos não têm origem no sujeito. Nessa perspectiva, os sentidos não são únicos e estáveis, mas se constituem historicamente, à revelia do sujeito, nas contradições ideológicas, entre a memória e as atualizações de sentidos na língua e nas práticas discursivas. O sujeito, ao enunciar seu voto, ocupa determinadas posições e inscreve-se em diferentes formações discursivas, que comportam determinados saberes que regulam o que pode/não pode e deve/não deve ser dito em dadas condições de produção. Desse modo, é no interior das relações de forças e de sentidos, que os sujeitos buscam preencher os votos “sim” e “não” de sentidos, chegando a uma saturação e silenciando sentidos outros. Foi possível depreender, em nosso gesto de análise, que as práticas discursivas dos votos se produziam numa aglutinação de memória de tempos descontínuos da história, construindo duas narrativas, estabelecendo dois lugares, entre muitos outros possíveis, de construção de uma memória que pode ou não se sedimentar na escrita da história deste acontecimento. Dessa forma, os processos discursivos em análise se constituem em relação a uma rede de memória, possibilitando a construção de uma memória do presente, atualizando uma memória do passado e ainda projetando uma memória do futuro: uma memória sempre atravessada pelo funcionamento ideológico que constitui o imaginário do sujeito. Delimitam-se, assim, duas formações discursivas antagônicas: formação discursiva antipetista (votos favoráveis ao impeachment) e formação discursiva democrática (votos contrários ao golpe) que regulam a produção de sentidos. Pudemos verificar que há um empobrecimento do simbólico político no discurso político brasileiro que, com o efeito de dicotomização, simplifica a complexidade da sociedade, a complexidade da história, silenciando as nuances e apagando a luta de classesCoordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superiorrocesses that delimit them. For the analysis undertaken in this thesis, theoretical-analytical concepts were mobilized, such as the intradiscourse, interdiscourse, memory, discursive formation, paraphrase, polysemy, metaphor. According to Discourse Analysis, the subject is not free and does not have full control of what he enunciates, since the senses do not originate in the subject. In this perspective, the senses are not unique and stable, but they are historically constituted, in absentia of the subject, in ideological contradictions, between memory and meaning updates in language and in discursive practices. When enunciating its vote, the subject occupies certain positions and enrolls himself in different discursive formations, which include certain knowledge that regulate what can / cannot and should / should not be said under given conditions of production. Thereby, it is within the relations of forces and meanings that the subjects seek to fill the votes "yes" and "no" of senses, reaching saturation and silencing other senses. It was possible to understand, in our analysis, that the discursive practices of the vows were produced in an agglutination of memory of discontinuous times in history, building two narratives, establishing two places, among many other possible ones, for building a memory that may or may not settle down in the writing of the history of this event. Thus, the discursive processes under analysis are constituted in relation to a memory network, enabling the construction of a memory of the present, updating a memory of the past and projecting a memory of the future: a memory always crossed by the ideological functioning that constitutes the subject's imaginary. Two antagonistic discursive formations are delimited: “antipetista” discursive formation (votes in favor of impeachment) and democratic discursive formation (votes against the coup) that regulate the production of meanings. We were able to verify that there is an impoverishment of the political symbolic in the Brazilian political discourse that, with the effect of dichotomization, simplifies the complexity of society, the complexity of history, silencing the nuances and erasing the class struggle386 f.Mariani, BethaniaRodrigues, AndréaGrigoletto, EvandraSobrinho, Helson Flávio da SilvaCunha, Isabel FerinSilva, Ariana da Rosa2021-05-03T16:52:45Z2021-05-03T16:52:45Z2021info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfSILVA, Ariana da Rosa. Dois presentes, dois passados, dois futuros: funcionamento discursivo dos votos dos deputados na sessão do impeachment de Dilma Rousseff. 2021. 386 f. 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