Andanças e territorialidades: As contradições da questão da moradia na comunidade da Mata dos Crioulos

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Cerqueira, Maria Clara Salim lattes
Orientador(a): Carneiro, Leonardo de Oliveira lattes
Banca de defesa: Batella, Wagner Barbosa lattes, Correa, Gabriel Siqueira lattes
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-graduação em Geografia
Departamento: ICH – Instituto de Ciências Humanas
País: Brasil
Palavras-chave em Português:
Área do conhecimento CNPq:
Link de acesso: https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/11887
Resumo: As comunidades tradicionais no Brasil, desde sua formação até seu reconhecimento pela sociedade e pelo Estado, passam por variados conflitos de negação de direitos e de autonomia. Trataremos neste trabalho da questão da moradia da comunidade da Mata dos Crioulos, localizada na porção meridional da Serra do Espinhaço no município de Diamantina, Minas Gerais, que se auto reconhece como quilombola e como apanhadores de flores sempre-vivas. Em meio aos intensos conflitos territoriais nos quais está inserida a comunidade, seus controversos modos de morar se relacionam intimamente com seus modos de vida e com a atividade da “apanha” de flores, que é fundamental em sua identidade coletiva. A implantação de Unidades de Conservação de uso restrito que se sobrepõe ao território da comunidade trouxe mudanças significativas para os modos de vida das famílias. A transumância é característica dos seus modos de vida: na época da “apanha” de flores, moram nas lapas, e na época de cuidar das roças, moram nas casas construídas com técnicas tradicionais em barro cru. A área das lapas e campos de flores foram tomados por uma Unidade de Conservação, o que confirma o não reconhecimento do Estado de seus modos de vida, ao negar que essas famílias poderiam ocupar essa porção do território. Não bastando essa invisibilização das lapas como formas legítimas de moradia, as casas de barro cru também são consideravelmente desvalorizadas perante o Estado e a sociedade de modo geral. A partir de um trabalho de campo estruturado na observação participante e apresentado em forma de relato etnográfico, esta pesquisa tece algumas reflexões a respeito do porquê esses modos de morar não são considerados legítimos pela sociedade ocidental urbana e pelos agentes do Estado. A partir da compreensão da ideologia como forma de consciência social específica e de uma investigação acerca da relação sociedade/natureza, compreendemos que a desvalorização das lapas e das casas de barro que articulam a territorialidade dos apanhadores de flores estão diretamente ligadas às concepções de natureza externa e universal, à depreciação das técnicas construtivas tradicionais e à sua lógica que não segue os princípios da propriedade privada. Conclui-se dessa forma que as moradias que cumprem sua função de abrigo, independentemente das relações de produção e reprodução do capital são autênticas por cumprirem sua função de territorialidade da comunidade.
id UFJF_8ab756bd505778fa5c7abe197edb923e
oai_identifier_str oai:hermes.cpd.ufjf.br:ufjf/11887
network_acronym_str UFJF
network_name_str Repositório Institucional da UFJF
repository_id_str
spelling Carneiro, Leonardo de Oliveirahttp://lattes.cnpq.br/2000986107434204Fávero, Claudenirhttp://lattes.cnpq.br/2662590758764296Batella, Wagner Barbosahttp://lattes.cnpq.br/7454170339374328Correa, Gabriel Siqueirahttp://lattes.cnpq.br/5349528715198337http://lattes.cnpq.br/6584339876404483Cerqueira, Maria Clara Salim2020-11-19T18:44:06Z2020-11-192020-11-19T18:44:06Z2019-02-14https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/11887As comunidades tradicionais no Brasil, desde sua formação até seu reconhecimento pela sociedade e pelo Estado, passam por variados conflitos de negação de direitos e de autonomia. Trataremos neste trabalho da questão da moradia da comunidade da Mata dos Crioulos, localizada na porção meridional da Serra do Espinhaço no município de Diamantina, Minas Gerais, que se auto reconhece como quilombola e como apanhadores de flores sempre-vivas. Em meio aos intensos conflitos territoriais nos quais está inserida a comunidade, seus controversos modos de morar se relacionam intimamente com seus modos de vida e com a atividade da “apanha” de flores, que é fundamental em sua identidade coletiva. A implantação de Unidades de Conservação de uso restrito que se sobrepõe ao território da comunidade trouxe mudanças significativas para os modos de vida das famílias. A transumância é característica dos seus modos de vida: na época da “apanha” de flores, moram nas lapas, e na época de cuidar das roças, moram nas casas construídas com técnicas tradicionais em barro cru. A área das lapas e campos de flores foram tomados por uma Unidade de Conservação, o que confirma o não reconhecimento do Estado de seus modos de vida, ao negar que essas famílias poderiam ocupar essa porção do território. Não bastando essa invisibilização das lapas como formas legítimas de moradia, as casas de barro cru também são consideravelmente desvalorizadas perante o Estado e a sociedade de modo geral. A partir de um trabalho de campo estruturado na observação participante e apresentado em forma de relato etnográfico, esta pesquisa tece algumas reflexões a respeito do porquê esses modos de morar não são considerados legítimos pela sociedade ocidental urbana e pelos agentes do Estado. A partir da compreensão da ideologia como forma de consciência social específica e de uma investigação acerca da relação sociedade/natureza, compreendemos que a desvalorização das lapas e das casas de barro que articulam a territorialidade dos apanhadores de flores estão diretamente ligadas às concepções de natureza externa e universal, à depreciação das técnicas construtivas tradicionais e à sua lógica que não segue os princípios da propriedade privada. Conclui-se dessa forma que as moradias que cumprem sua função de abrigo, independentemente das relações de produção e reprodução do capital são autênticas por cumprirem sua função de territorialidade da comunidade.Numerous conflicts permeate the context of tradicional communities in Brazil, from their formation to their recognition by society and the State. Their rights and autonomy are often denied. In this research, we will deal with the housing issue in the Mata dos Crioulos community, located in the southern portion of Serra do Espinhaço in the municipality of Diamantina in Minas Gerais: they recognize themselfs as quilombolas and as “apanhadores de flores sempre-vivas”, or evergreen flower catchers. Amid the intense territorial conflicts in which the community is inserted, their dwelling are intimately related to their ways of life and to their tradicional activity, which is an important part of their collective identity. The implementation of restricted-use Conservation Units that overlaps the community territory has brought significant changes to the livelihoods of families. Transhumance was characteristic of their ways of living: in the time of flower catching, they lived in lapas, and in the time of farming, they lived in houses built with traditional techniques in raw clay. The lapa area and flowers fields were taken by a Conservation Unit, which confirms the State's non-recognition of their ways of life, by denying that these families could occupy that part of the territory. Notwithstanding the invisibility of these lapas as legitimate forms of housing, the houses of raw clay are also considerably devalued towards the state and society in general. Based on a fieldwork structured in participant observation and ethnographic reporting, this research pursuit some reflections on why these ways of living are not considered legitimate by urban western society and the State and its agents. From the understanding of ideology as a specific form of social consciousness and an deepening into the society and nature relation, we understand that the devaluation of the lapas and clay houses that articulate the evergreen flowers catchers territoriality are directly linked to the conceptions of external and universal nature, the depreciation of traditional constructive techniques and to its logic that does not follow the principles of private property. It is thus concluded that any housing that fulfills its function of shelter, independently of the relations of production and reproduction of capital, are authentic, for they fulfill their function in the community’s territoriality.porUniversidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)Programa de Pós-graduação em GeografiaUFJFBrasilICH – Instituto de Ciências HumanasAttribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Brazilhttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/info:eu-repo/semantics/openAccessCNPQ::CIENCIAS HUMANAS::GEOGRAFIAIdeologiaNaturezaConflitoMoradiaEstadoIdeologyNatureConflictDwellingStateAndanças e territorialidades: As contradições da questão da moradia na comunidade da Mata dos Crioulosinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisreponame:Repositório Institucional da UFJFinstname:Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)instacron:UFJFORIGINALmariaclarasalimcerqueira.pdfmariaclarasalimcerqueira.pdfapplication/pdf7626291https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/11887/3/mariaclarasalimcerqueira.pdf1ef4ea2fcdc539e5bcc4177fb1c2ff60MD53TEXTmariaclarasalimcerqueira.pdf.txtmariaclarasalimcerqueira.pdf.txtExtracted texttext/plain483108https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/11887/4/mariaclarasalimcerqueira.pdf.txte2eba3be1e7b69b8b88bc634cbbcc4f7MD54THUMBNAILmariaclarasalimcerqueira.pdf.jpgmariaclarasalimcerqueira.pdf.jpgGenerated Thumbnailimage/jpeg1230https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/11887/5/mariaclarasalimcerqueira.pdf.jpg9fc8a10615be2594099b64311e132078MD55CC-LICENSElicense_rdflicense_rdfapplication/rdf+xml; charset=utf-8811https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/11887/1/license_rdfe39d27027a6cc9cb039ad269a5db8e34MD51LICENSElicense.txtlicense.txttext/plain; charset=utf-81748https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/11887/2/license.txt8a4605be74aa9ea9d79846c1fba20a33MD52ufjf/118872022-05-17 03:07:25.429oai:hermes.cpd.ufjf.br:ufjf/11887Tk9URTogUExBQ0UgWU9VUiBPV04gTElDRU5TRSBIRVJFClRoaXMgc2FtcGxlIGxpY2Vuc2UgaXMgcHJvdmlkZWQgZm9yIGluZm9ybWF0aW9uYWwgcHVycG9zZXMgb25seS4KCk5PTi1FWENMVVNJVkUgRElTVFJJQlVUSU9OIExJQ0VOU0UKCkJ5IHNpZ25pbmcgYW5kIHN1Ym1pdHRpbmcgdGhpcyBsaWNlbnNlLCB5b3UgKHRoZSBhdXRob3Iocykgb3IgY29weXJpZ2h0Cm93bmVyKSBncmFudHMgdG8gRFNwYWNlIFVuaXZlcnNpdHkgKERTVSkgdGhlIG5vbi1leGNsdXNpdmUgcmlnaHQgdG8gcmVwcm9kdWNlLAp0cmFuc2xhdGUgKGFzIGRlZmluZWQgYmVsb3cpLCBhbmQvb3IgZGlzdHJpYnV0ZSB5b3VyIHN1Ym1pc3Npb24gKGluY2x1ZGluZwp0aGUgYWJzdHJhY3QpIHdvcmxkd2lkZSBpbiBwcmludCBhbmQgZWxlY3Ryb25pYyBmb3JtYXQgYW5kIGluIGFueSBtZWRpdW0sCmluY2x1ZGluZyBidXQgbm90IGxpbWl0ZWQgdG8gYXVkaW8gb3IgdmlkZW8uCgpZb3UgYWdyZWUgdGhhdCBEU1UgbWF5LCB3aXRob3V0IGNoYW5naW5nIHRoZSBjb250ZW50LCB0cmFuc2xhdGUgdGhlCnN1Ym1pc3Npb24gdG8gYW55IG1lZGl1bSBvciBmb3JtYXQgZm9yIHRoZSBwdXJwb3NlIG9mIHByZXNlcnZhdGlvbi4KCllvdSBhbHNvIGFncmVlIHRoYXQgRFNVIG1heSBrZWVwIG1vcmUgdGhhbiBvbmUgY29weSBvZiB0aGlzIHN1Ym1pc3Npb24gZm9yCnB1cnBvc2VzIG9mIHNlY3VyaXR5LCBiYWNrLXVwIGFuZCBwcmVzZXJ2YXRpb24uCgpZb3UgcmVwcmVzZW50IHRoYXQgdGhlIHN1Ym1pc3Npb24gaXMgeW91ciBvcmlnaW5hbCB3b3JrLCBhbmQgdGhhdCB5b3UgaGF2ZQp0aGUgcmlnaHQgdG8gZ3JhbnQgdGhlIHJpZ2h0cyBjb250YWluZWQgaW4gdGhpcyBsaWNlbnNlLiBZb3UgYWxzbyByZXByZXNlbnQKdGhhdCB5b3VyIHN1Ym1pc3Npb24gZG9lcyBub3QsIHRvIHRoZSBiZXN0IG9mIHlvdXIga25vd2xlZGdlLCBpbmZyaW5nZSB1cG9uCmFueW9uZSdzIGNvcHlyaWdodC4KCklmIHRoZSBzdWJtaXNzaW9uIGNvbnRhaW5zIG1hdGVyaWFsIGZvciB3aGljaCB5b3UgZG8gbm90IGhvbGQgY29weXJpZ2h0LAp5b3UgcmVwcmVzZW50IHRoYXQgeW91IGhhdmUgb2J0YWluZWQgdGhlIHVucmVzdHJpY3RlZCBwZXJtaXNzaW9uIG9mIHRoZQpjb3B5cmlnaHQgb3duZXIgdG8gZ3JhbnQgRFNVIHRoZSByaWdodHMgcmVxdWlyZWQgYnkgdGhpcyBsaWNlbnNlLCBhbmQgdGhhdApzdWNoIHRoaXJkLXBhcnR5IG93bmVkIG1hdGVyaWFsIGlzIGNsZWFybHkgaWRlbnRpZmllZCBhbmQgYWNrbm93bGVkZ2VkCndpdGhpbiB0aGUgdGV4dCBvciBjb250ZW50IG9mIHRoZSBzdWJtaXNzaW9uLgoKSUYgVEhFIFNVQk1JU1NJT04gSVMgQkFTRUQgVVBPTiBXT1JLIFRIQVQgSEFTIEJFRU4gU1BPTlNPUkVEIE9SIFNVUFBPUlRFRApCWSBBTiBBR0VOQ1kgT1IgT1JHQU5JWkFUSU9OIE9USEVSIFRIQU4gRFNVLCBZT1UgUkVQUkVTRU5UIFRIQVQgWU9VIEhBVkUKRlVMRklMTEVEIEFOWSBSSUdIVCBPRiBSRVZJRVcgT1IgT1RIRVIgT0JMSUdBVElPTlMgUkVRVUlSRUQgQlkgU1VDSApDT05UUkFDVCBPUiBBR1JFRU1FTlQuCgpEU1Ugd2lsbCBjbGVhcmx5IGlkZW50aWZ5IHlvdXIgbmFtZShzKSBhcyB0aGUgYXV0aG9yKHMpIG9yIG93bmVyKHMpIG9mIHRoZQpzdWJtaXNzaW9uLCBhbmQgd2lsbCBub3QgbWFrZSBhbnkgYWx0ZXJhdGlvbiwgb3RoZXIgdGhhbiBhcyBhbGxvd2VkIGJ5IHRoaXMKbGljZW5zZSwgdG8geW91ciBzdWJtaXNzaW9uLgo=Repositório InstitucionalPUBhttps://repositorio.ufjf.br/oai/requestopendoar:2022-05-17T06:07:25Repositório Institucional da UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)false
dc.title.pt_BR.fl_str_mv Andanças e territorialidades: As contradições da questão da moradia na comunidade da Mata dos Crioulos
title Andanças e territorialidades: As contradições da questão da moradia na comunidade da Mata dos Crioulos
spellingShingle Andanças e territorialidades: As contradições da questão da moradia na comunidade da Mata dos Crioulos
Cerqueira, Maria Clara Salim
CNPQ::CIENCIAS HUMANAS::GEOGRAFIA
Ideologia
Natureza
Conflito
Moradia
Estado
Ideology
Nature
Conflict
Dwelling
State
title_short Andanças e territorialidades: As contradições da questão da moradia na comunidade da Mata dos Crioulos
title_full Andanças e territorialidades: As contradições da questão da moradia na comunidade da Mata dos Crioulos
title_fullStr Andanças e territorialidades: As contradições da questão da moradia na comunidade da Mata dos Crioulos
title_full_unstemmed Andanças e territorialidades: As contradições da questão da moradia na comunidade da Mata dos Crioulos
title_sort Andanças e territorialidades: As contradições da questão da moradia na comunidade da Mata dos Crioulos
author Cerqueira, Maria Clara Salim
author_facet Cerqueira, Maria Clara Salim
author_role author
dc.contributor.advisor1.fl_str_mv Carneiro, Leonardo de Oliveira
dc.contributor.advisor1Lattes.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/2000986107434204
dc.contributor.advisor-co1.fl_str_mv Fávero, Claudenir
dc.contributor.advisor-co1Lattes.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/2662590758764296
dc.contributor.referee1.fl_str_mv Batella, Wagner Barbosa
dc.contributor.referee1Lattes.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/7454170339374328
dc.contributor.referee2.fl_str_mv Correa, Gabriel Siqueira
dc.contributor.referee2Lattes.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/5349528715198337
dc.contributor.authorLattes.fl_str_mv http://lattes.cnpq.br/6584339876404483
dc.contributor.author.fl_str_mv Cerqueira, Maria Clara Salim
contributor_str_mv Carneiro, Leonardo de Oliveira
Fávero, Claudenir
Batella, Wagner Barbosa
Correa, Gabriel Siqueira
dc.subject.cnpq.fl_str_mv CNPQ::CIENCIAS HUMANAS::GEOGRAFIA
topic CNPQ::CIENCIAS HUMANAS::GEOGRAFIA
Ideologia
Natureza
Conflito
Moradia
Estado
Ideology
Nature
Conflict
Dwelling
State
dc.subject.por.fl_str_mv Ideologia
Natureza
Conflito
Moradia
Estado
Ideology
Nature
Conflict
Dwelling
State
description As comunidades tradicionais no Brasil, desde sua formação até seu reconhecimento pela sociedade e pelo Estado, passam por variados conflitos de negação de direitos e de autonomia. Trataremos neste trabalho da questão da moradia da comunidade da Mata dos Crioulos, localizada na porção meridional da Serra do Espinhaço no município de Diamantina, Minas Gerais, que se auto reconhece como quilombola e como apanhadores de flores sempre-vivas. Em meio aos intensos conflitos territoriais nos quais está inserida a comunidade, seus controversos modos de morar se relacionam intimamente com seus modos de vida e com a atividade da “apanha” de flores, que é fundamental em sua identidade coletiva. A implantação de Unidades de Conservação de uso restrito que se sobrepõe ao território da comunidade trouxe mudanças significativas para os modos de vida das famílias. A transumância é característica dos seus modos de vida: na época da “apanha” de flores, moram nas lapas, e na época de cuidar das roças, moram nas casas construídas com técnicas tradicionais em barro cru. A área das lapas e campos de flores foram tomados por uma Unidade de Conservação, o que confirma o não reconhecimento do Estado de seus modos de vida, ao negar que essas famílias poderiam ocupar essa porção do território. Não bastando essa invisibilização das lapas como formas legítimas de moradia, as casas de barro cru também são consideravelmente desvalorizadas perante o Estado e a sociedade de modo geral. A partir de um trabalho de campo estruturado na observação participante e apresentado em forma de relato etnográfico, esta pesquisa tece algumas reflexões a respeito do porquê esses modos de morar não são considerados legítimos pela sociedade ocidental urbana e pelos agentes do Estado. A partir da compreensão da ideologia como forma de consciência social específica e de uma investigação acerca da relação sociedade/natureza, compreendemos que a desvalorização das lapas e das casas de barro que articulam a territorialidade dos apanhadores de flores estão diretamente ligadas às concepções de natureza externa e universal, à depreciação das técnicas construtivas tradicionais e à sua lógica que não segue os princípios da propriedade privada. Conclui-se dessa forma que as moradias que cumprem sua função de abrigo, independentemente das relações de produção e reprodução do capital são autênticas por cumprirem sua função de territorialidade da comunidade.
publishDate 2019
dc.date.issued.fl_str_mv 2019-02-14
dc.date.accessioned.fl_str_mv 2020-11-19T18:44:06Z
dc.date.available.fl_str_mv 2020-11-19
2020-11-19T18:44:06Z
dc.type.status.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/publishedVersion
dc.type.driver.fl_str_mv info:eu-repo/semantics/masterThesis
format masterThesis
status_str publishedVersion
dc.identifier.uri.fl_str_mv https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/11887
url https://repositorio.ufjf.br/jspui/handle/ufjf/11887
dc.language.iso.fl_str_mv por
language por
dc.rights.driver.fl_str_mv Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Brazil
http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/
info:eu-repo/semantics/openAccess
rights_invalid_str_mv Attribution-NonCommercial-NoDerivs 3.0 Brazil
http://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/
eu_rights_str_mv openAccess
dc.publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
dc.publisher.program.fl_str_mv Programa de Pós-graduação em Geografia
dc.publisher.initials.fl_str_mv UFJF
dc.publisher.country.fl_str_mv Brasil
dc.publisher.department.fl_str_mv ICH – Instituto de Ciências Humanas
publisher.none.fl_str_mv Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
dc.source.none.fl_str_mv reponame:Repositório Institucional da UFJF
instname:Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
instacron:UFJF
instname_str Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
instacron_str UFJF
institution UFJF
reponame_str Repositório Institucional da UFJF
collection Repositório Institucional da UFJF
bitstream.url.fl_str_mv https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/11887/3/mariaclarasalimcerqueira.pdf
https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/11887/4/mariaclarasalimcerqueira.pdf.txt
https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/11887/5/mariaclarasalimcerqueira.pdf.jpg
https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/11887/1/license_rdf
https://repositorio.ufjf.br/jspui/bitstream/ufjf/11887/2/license.txt
bitstream.checksum.fl_str_mv 1ef4ea2fcdc539e5bcc4177fb1c2ff60
e2eba3be1e7b69b8b88bc634cbbcc4f7
9fc8a10615be2594099b64311e132078
e39d27027a6cc9cb039ad269a5db8e34
8a4605be74aa9ea9d79846c1fba20a33
bitstream.checksumAlgorithm.fl_str_mv MD5
MD5
MD5
MD5
MD5
repository.name.fl_str_mv Repositório Institucional da UFJF - Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF)
repository.mail.fl_str_mv
_version_ 1793962476365152256