Influências da educação e de doenças neurodegenerativas sobre as relações entre a memória episódica e seus correlatos neurais

• Ano de defesa: 2019
• Autor(a) principal: Elisa de Paula França Resende
• Orientador(a): Paulo Caramelli
• Banca de defesa: Pedro Rosa-Neto, Sônia Maria Dozzi Brucki, Laiss Bertola de Moura Ricardo, Antônio Jaeger
• Tipo de documento: Tese
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Universidade Federal de Minas Gerais
• Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Neurociências
• Departamento: ICB - INSTITUTO DE CIÊNCIAS BIOLOGICAS
• País: Brasil
• Palavras-chave em Português: Memória episódica; Escolaridade; Demência frontotemporal; Hipocampo; Espectroscopia de ressonância; Doença de Alzheimer
• Link de acesso: http://hdl.handle.net/1843/32876; https://orcid.org/0000-0002-5730-1205

Introdução: A interferência de fatores extrínsecos e intrínsecos do indivíduo sobre a relação entre os substratos neurais da memória episódica e o desempenho em testes específicos é motivo de debate na literatura. O nível educacional, exemplo de fator extrínseco, parece promover maior capacidade do cérebro em se adaptar a lesões e, assim, prevenir o declínio cognitivo, possivelmente por modificar a relação entre estruturas cerebrais e suas funções. Doenças neurodegenerativas, como a doença de Alzheimer (DA) e a variante comportamental da demência frontotemporal (DFTvc) são exemplos de fatores intrínsecos. Enquanto na DA existe um déficit clássico de memória episódica por acometimento hipocampal, na DFTvc a memória episódica também pode estar acometida, mas seus correlatos neurais são controversos. Para explorar esses fatores, realizamos dois estudos: um analisando o papel da escolaridade e outro investigando o papel de doenças neurodegenerativas (DA e DFTvc) na relação entre a memória episódica e seus correlatos neurais. Estudo 1 – Objetivo: Identificar como os anos de escolaridade influenciariam a relação entre o volume do hipocampo e o desempenho em teste de memória episódica. População: Cento e oitenta e três idosos (112 cognitivamente saudáveis, 26 com comprometimento cognitivo não-demência e 45 com demência), 40,1% homens, com idade mediana de 78 anos, [intervalo interquartil (IIQ): 76,82] e escolaridade mediana de quatro [IIQ: 2,10] anos. Métodos: O volume do hipocampo foi medido por RM estrutural e a memória episódica avaliada por meio da pontuação na evocação tardia do teste de figuras da Bateria Cognitiva Breve (BCB). Usando modelos de regressão linear múltipla, calculamos o papel da interação nível educacional x volumes hipocampais no desempenho de memória (desfecho). Resultado: Quanto maior o nível educacional, mais robusta foi a relação entre o volume do hipocampo esquerdo e a memória episódica, após ajustes para idade, diagnóstico cognitivo, sexo, etapa de aprendizagem do teste, volume de outras regiões cerebrais importantes para processamento de memória episódica e presença/intensidade de lesões de substância branca. Estudo 2 – Objetivos: Comparar os correlatos neurais de memória episódica entre os pacientes com DA e DFTvc e, dentro do grupo DFTvc, comparar aqueles com perfil amnéstico (n=8) com os não amnésticos (n=11). População: Sessenta e um idosos (19 com DFTvc, 21 com DA e 21 cognitivamente saudáveis), 50,8% homens, idade mediana de 67 [IIQ: 59,74] anos e escolaridade mediana de 11 [IIQ:11,16] anos. Métodos: Cálculo das correlações entre o desempenho de memória episódica avaliada pela evocação tardia do teste de figuras da BCB e os volumes de substância cinzenta cerebral avaliados por RM nos pacientes com DA e DFTvc. Contraste em termos de volume de substância cinzenta dos pacientes com DFTvc amnésticos versus não-amnésticos. Resultados: O desempenho de memória episódica nos pacientes com DA se associou inversamente à atrofia dos hipocampos bilateralmente e precuneus e giro do cíngulo posterior à esquerda. Já nos pacientes com DFTvc houve associação inversa apenas com os hipocampos bilateralmente. A memória episódica não se correlacionou com teste de funções executivas em nenhum grupo, sugerindo que o comprometimento de memória não é decorrente de disfunção executiva. Finalmente, identificamos que os pacientes DFTvc amnésticos tinham maior atrofia dos giros fusiforme e parahipocampal esquerdos e cíngulo e precuneus direitos do que os não amnésticos. Comparados com os pacientes com DA, os DFTvc amnésticos apresentaram maior atrofia do giro fusiforme esquerdo, pólos temporais, giro temporal inferior direito, ínsula e cerebelo. Conclusão: Identificamos que diferentes aspectos intrínsecos e extrínsecos podem influenciar a relação entre a memória episódica e seus correlatos neurais como o hipocampo e outras estruturas.