Vivência do sofrimento moral na estratégia de saúde da família: visão dos profissionais

• Ano de defesa: 2015
• Autor(a) principal: Cecília Maria Lima Cardoso
• Orientador(a): Maria Jose Menezes Brito
• Banca de defesa: Valéria Conceição de Oliveira, Claudia Maria de Mattos Penna
• Tipo de documento: Dissertação
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Universidade Federal de Minas Gerais
• Palavras-chave em Português: Enfermagem; Dano Moral; Estratégia de Saúde da Família; Ética
• Link de acesso: http://hdl.handle.net/1843/ANDO-9X5FDQ

A implantação da Estratégia de Saúde da Família (ESF) tem como propósito produzir uma atuação voltada para a alteração dos modelos assistencial e gerencial predominantes, sugerindo novos arranjos no processo de trabalho das equipes e da relação com os usuários do Sistema Único de Saúde (SUS). No contexto da ESF as equipes de saúde passam a ser organizadoras das demandas locais, planejadoras das ações de saúde e, principalmente agentes de transformação social. Esse cenário de mudanças no paradigma de atenção à saúde pode desencadear nos profissionais a vivência de problemas éticos e Sofrimento Moral (SM), entendido como dor ou angústia que acomete a mente, o corpo ou as relações interpessoais no trabalho, quando a pessoa faz um julgamento moral sobre o que é correto fazer, porém se vê impedida de executá-lo por restrições de variadas ordens. Este estudo objetivou, portanto, compreender a vivência do SM no cotidiano de profissionais da ESF. Trata-se de um estudo de caso com abordagem qualitativa, realizado com 28 profissionais das equipes de saúde da família do município de Paraopeba-MG, abrangendo médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem e Agentes Comunitários de Saúde. Após a aprovação da realização da pesquisa pelo Comitê de Ética em Pesquisa da UFMG (Parecer nº749142) e da assinatura do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido pelos sujeitos, procedeu-se a coleta de dados por meio de entrevista com roteiro semiestruturado, observação participante e técnica projetiva. Os dados foram analisados segundo a Análise de Conteúdo de Bardin. Da análise emergiram as categorias: Compreendendo a ESF na visão de quem a executa: incongruências entre discursos e prática, em que reflexão crítica acerca do trabalho dos profissionais que atuam na ESF teve destaque; Organização dos Serviços de Saúde e Condições de Trabalho na ESF como Condicionantes ao SM, nessa categoria, as questões relacionadas ás situações estruturais das unidades; escassez de insumos materiais, improvisação, sobrecarga de trabalho, falta de valorização profissional e as fragilidades de atuação das Redes de Atenção a Saúde, configuram-se como desrespeito ao cumprimento dos princípios do SUS e denotam implicações éticas para os profissionais tornando-se fonte preeminente de sentimentos de impotência, frustação e desânimo no trabalho; em Atribuições Profissionais e Relações Interpessoais no Trabalho da ESF como Condicionantes ao SM, foi possível evidenciar um limite tênue entre a definição dos papéis de cada integrante da equipe e a execução das funções podendo gerar nos profissionais conflitos inerentes á prática profissional problemática. Quanto às relações interpessoais, surgiram fatores relacionados à hegemonia médica e gestão pouco participativa, que tornam as relações conflituosas com tendência a problemas éticos e SM; na categoria Vivência do SM na ESF: A Realidade Expressa em Cenas do Cotidiano, narrativas sobre fatos reais do cotidiano de trabalho desvelam o SM na ESF; e por fim, Estratégias para Enfrentamento do SM: Uma Agenda para Preservar os Valores Profissionais, identifica as principais estratégias adotadas pelos profissionais para enfrentarem o SM, a fim de evitar a naturalização desse fenômeno nas práticas de saúde. Esses resultados apontam a presença de problemas éticos e SM na ESF como situações rotineiras no serviço e, que por não configurarem-se na maioria das vezes como questões dilemáticas e dramáticas, tornam-se invisíveis, e menos discutidas nos serviços. Portanto, faz-se necessária a reflexão sobre a vivência do SM no trabalho com enfoque às condições e elementos envolvidos que causam sofrimento a fim de sensibilizar para questões morais e éticas, promovendo o protagonismo e a transformação dos sujeitos.