História da pediatria no Brasil de final dos século XIX a meadosdo século XX

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2006
Autor(a) principal: Junia Sales Pereira
Orientador(a): Betania Goncalves Figueiredo
Banca de defesa: Maria Amelia Mascarenhas Dantes, Luiz Antônio da Silva Teixeira, Rita de Cassia Marques, Bernardo Jefferson de Oliveira
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Minas Gerais
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/1843/VCSA-6X6KSN
Resumo: A história da pediatria no Brasil foi elaborada a partir da história das outras especialidades emergentes entre o século XIX e XX. Contudo, a pediatria surge não como uma medicina voltada para uma doença ou uma parte do corpo (como a oftalmologia e a ortopedia, por exemplo), mas para uma idade da vida. Nesse sentido, a pediatria é compreendida como uma especialidade especial porque ela não segmenta o corpo, mas pensa o corpo infantil em sua singularidade e diferença em relação ao corpo adulto. Ela o faz a partir do pressuposto de que o corpo infantil é inconcluso, está em desenvolvimento e em crescimento e é "em processo de ser", residindo nisso a singularidade do tempo da infância segundo a pediatria. Ao se voltar para uma idade da vida, a pediatria, nesse sentido, contribuiu para estabelecimento de uma forma de demarcação geracional e de concepção da infância como tempo singularizado de vida. A atuação pediátrica foi forjada, nesse processo de institucionalização da pediatria, para atendimento exclusivo, pelo médico, de crianças doentes. Ao demarcar esse terreno da doença infantil como exclusividade do pediatra (em relação aos demais especialistas), a pediatria contribuiria para que os pediatras tributários dessa tradição conceitual, teórica e prática tivessem um olhar clínico sobre a infância, confundida como infância doente. A infância concebida pela pediatria, nesse processo de demarcação de terreno em relação às demais especialidades, tornar-se-ia a infância doente e o desdobramento histórico desse processo é que ainda hoje os pediatras clínicos têm dificuldade de pensar a infância saudável, ou mais,pensar e conceber a doença como parte da realidade da vida e da saúde. No limite, a pediatria na história não fala da morte infantil, porque excluiu de seu campo de formação e de prática o enfrentamento reflexivo e a simbologia dos limites de seu saber. Para refletir sobre a constituição desse saber pediátrico foram avaliados alguns relatórios de prática médica do início do século no Brasil e as primeiras fichas de saúde da criança. Foi possível perceber o estabelecimento - arbitrado - de padrões normais de crescimento e desenvolvimento da 6criança. Foi possível também perceber como a idéia de normalidade foi crucial à pediatria nascente: afinal, era preciso dizer da normalidade para estabelecer critérios de atendimento pediátrico - crianças saudáveis (a serem cuidadas por quaisquer pessoas e profissionais) ecrianças doentes (a serem cuidadas exclusivamente por pediatras). Nesses critérios e procedimentos figuraram com centralidade as curvas de crescimento e desenvolvimento infantis, com previsão de parâmetros determinados de normalidade. Ao compreender os parâmetros de normalidade como historicamente datados, foi possível refletir sobre aconstrução sócio-histórica da medicina e sobre o enfrentamento de embates na definição de critérios de validade no movimento de institucionalização da especialidade... A medicina pediátrica, nessa análise histórica, surge não como um campo em que os dados e informações são neutros, mas como um campo em que a seleção de normas, regras, procedimentos e critérios de verdade é mediada pelo valor que uma comunidade de pares atribui a essas mesmas regras, procedimentos, verdades.... um campo de consentimentos, recortado por tensões, disputas e acordos tácitos, que pareciam mais adequados aos profissionais. Dessa maneira, a medicina pediátrica é compreendida como campo de partilha de uma comunidade de referendo, que, especialmente no momento de sua institucionalização como especialidade, regras e procedimentos tidos como canônicos podem determinar toda a história de práticas profissionais desse mesmo campo, a despeito do esforço transformador de sujeitos esociedades profissionais posteriores. De alguma forma, foi possível avaliar também o peso da tradição profissional, que informava determinadas práticas como válidas e canônicas, estrategicamente repetidas em grande medida na atualidade na pediatria.
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No limite, a pediatria na história não fala da morte infantil, porque excluiu de seu campo de formação e de prática o enfrentamento reflexivo e a simbologia dos limites de seu saber. Para refletir sobre a constituição desse saber pediátrico foram avaliados alguns relatórios de prática médica do início do século no Brasil e as primeiras fichas de saúde da criança. Foi possível perceber o estabelecimento - arbitrado - de padrões normais de crescimento e desenvolvimento da 6criança. Foi possível também perceber como a idéia de normalidade foi crucial à pediatria nascente: afinal, era preciso dizer da normalidade para estabelecer critérios de atendimento pediátrico - crianças saudáveis (a serem cuidadas por quaisquer pessoas e profissionais) ecrianças doentes (a serem cuidadas exclusivamente por pediatras). Nesses critérios e procedimentos figuraram com centralidade as curvas de crescimento e desenvolvimento infantis, com previsão de parâmetros determinados de normalidade. 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