Da “meca da revolução” a “um país vazio” : o exílio brasileiro na Argélia (1965-1979)

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Kreuz, Débora Strieder
Orientador(a): Padrós, Enrique Serra
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/219845
Resumo: A partir das premissas da segurança nacional, a ditadura brasileira, vigente entre 1964 e 1985, fez com que saíssem do país milhares de brasileiros: foram os exilados. Um dos países que os acolheu foi a Argélia. Independente da França em 1962, adotou uma política de não-alinhamento às duas potências que emergiram da Segunda Guerra, trazendo para o debate a ideia de solidariedade entre o Terceiro Mundo. Assim, a presente tese busca compreender o processo de exílio nesse país, desde as formas de saída do Brasil, as relações que lá se estabeleceram e a forma com que a ditadura brasileira monitorou os mesmos, a partir do prisma do inimigo interno. Por fim, busco analisar como que se desenrolaram as relações entre os estados brasileiro e argelino. Para a realização da proposta utilizei principalmente três tipos de fontes: memórias de exilados que em algum momento passaram pela Argélia (orais e escritas); documentos dos órgãos de informação da ditadura que se encontram no Arquivo Nacional e a documentação diplomática trocada entre a Embaixada do Brasil em Argel e Ministério das Relações Exteriores, conhecido como Itamaraty. Concluí que o país africano recebeu brasileiros em momentos distintos, com destaque para o intervalo entre 1965 e 1974, quando o fluxo de exilados ocorreu de maneira mais intensa. Foi possível identificar dois grupos: o primeiro vinculado ao governador deposto de Pernambuco, Miguel Arraes, que chegou ao país em 1965 e, a partir de então aglutinou pessoas sobretudo vinculadas ao seu governo; o segundo, identificado com a luta armada, e que utilizou a Argélia como um espaço para a obtenção de documentos e rearticulação política, com o objetivo central de retornar ao Brasil. Assim, compreendi a Argélia como um destino de exílio possível em distintos momentos e em cujo território os exilados encontraram um espaço seguro para se estabelecer. Diferentemente do que ocorreu em outros territórios, em que o aparato de vigilância brasileiro se estabeleceu de maneira ostensiva com o CIEx, na Argélia a embaixada era um espaço de atuação mais restrita contra a comunidade exilada, basicamente de monitoramento, embora as relações diplomáticas entre os países tivessem se mantido por todo o período em análise.
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Para a realização da proposta utilizei principalmente três tipos de fontes: memórias de exilados que em algum momento passaram pela Argélia (orais e escritas); documentos dos órgãos de informação da ditadura que se encontram no Arquivo Nacional e a documentação diplomática trocada entre a Embaixada do Brasil em Argel e Ministério das Relações Exteriores, conhecido como Itamaraty. Concluí que o país africano recebeu brasileiros em momentos distintos, com destaque para o intervalo entre 1965 e 1974, quando o fluxo de exilados ocorreu de maneira mais intensa. Foi possível identificar dois grupos: o primeiro vinculado ao governador deposto de Pernambuco, Miguel Arraes, que chegou ao país em 1965 e, a partir de então aglutinou pessoas sobretudo vinculadas ao seu governo; o segundo, identificado com a luta armada, e que utilizou a Argélia como um espaço para a obtenção de documentos e rearticulação política, com o objetivo central de retornar ao Brasil. Assim, compreendi a Argélia como um destino de exílio possível em distintos momentos e em cujo território os exilados encontraram um espaço seguro para se estabelecer. Diferentemente do que ocorreu em outros territórios, em que o aparato de vigilância brasileiro se estabeleceu de maneira ostensiva com o CIEx, na Argélia a embaixada era um espaço de atuação mais restrita contra a comunidade exilada, basicamente de monitoramento, embora as relações diplomáticas entre os países tivessem se mantido por todo o período em análise.The Brazilian dictatorship, in force between 1964 and 1985, based on the premises of national security, made thousands of Brazilians leave the country: they became the exiles. One of the countries that welcomed them was Algeria. Independent of France in 1962, Algeria started a policy of non-alignment with the two powers that emerged from World War II, opening to the debate an idea of solidarity between the Third World. Thus, the present thesis seeks to understand the process of exile in that country, from the ways of leaving Brazil, the relations that were established there and the way in which the Brazilian dictatorship monitored the exiles, from the perspective of the internal enemy. Finally, I seek to analyze how the relations between the Brazilian and Algerian states unfolded. For the realization of the proposal, I mainly used three types of sources: memories of the exiles (oral and written), who at some point passed through Algeria; documents from the dictatorship's media that were obtained in the National Archives and diplomatic documents exchanged between the Brazilian Embassy in Algeria and the Ministry of Foreign Affairs, known as Itamaraty. I concluded that Algeria received Brazilians at different times, especially between 1965 and 1974, when the flow of exiles occurred more intensely. It was possible to identify two groups: the first group, linked to the deposed governor of Pernambuco, Miguel Arraes, who arrived in the country in 1965 and, since then, brought together people linked to his government; the second, identified with the armed struggle, which used Algeria as a space for obtaining documents and political articulation, with the main objective of returning to Brazil. In this way, I understood Algeria as a possible exile destination at different times and a territory where the exiles found a safe space to settle. Unlike in other places where the Brazilian surveillance apparatus was ostensibly established with the CIEx, in Algeria the embassy was a more restricted area of action against the exiled community, basically of monitoring, although diplomatic relations between the two countries had remained throughout the period under review.application/pdfporDitadura militarExílio políticoMemóriaVigilânciaArgéliaHistóriaNational security dictatorshipExile in AlgeriaMemoriesSurveillanceDa “meca da revolução” a “um país vazio” : o exílio brasileiro na Argélia (1965-1979)info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulInstituto de Filosofia e Ciências HumanasPrograma de Pós-Graduação em HistóriaPorto Alegre, BR-RS2020doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001123908.pdf.txt001123908.pdf.txtExtracted Texttext/plain659590http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/219845/2/001123908.pdf.txt53ff63d58438ce94b7bb4dc78373fba7MD52ORIGINAL001123908.pdfTexto completoapplication/pdf2534945http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/219845/1/001123908.pdf91ecc6620f52b5bd034eb7f74e95a8cfMD5110183/2198452021-05-07 04:42:36.089643oai:www.lume.ufrgs.br:10183/219845Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532021-05-07T07:42:36Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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