As imagens em trase e os personagens povoadores no cinema de Glauber Rocha

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Luz, Guilherme Gonçalves da
Orientador(a): Silva, Alexandre Rocha da
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Palavras-chave em Inglês:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/10183/213829
Resumo: Para Glauber “o Cinema Novo é um projeto que se realiza na política da fome, e sofre, por isto mesmo, todas as fraquezas consequentes de sua existência” (ROCHA, 2004, p. 67). É assim que o transe que aqui pretendemos delimitar, quando visto a partir de uma ambivalente condição que o compreende ao mesmo tempo como doença e como cura, multiplica suas formas: há o transe da fome, capaz de produzir meios famintos, esgotados; o transe religioso, forjado no seio de um tempo messiânico; o transe do ébrio, que faz incidir sobre um plano de organização um plano dionisíaco, o transe da música, capaz de trazer, em seus elementos mínimos, um passado para dentro do presente; o transe da falação, que desmonta os dizeres em um rumorejar da linguagem. Ao cinema glauberiano interessou as vidas errantes e os meios doentes. Nesta tese, investigamos este transe, em Glauber Rocha, a partir de uma série de desdobramentos dos insights produzidos por Gilles Deleuze (2006) no breve texto chamado O Cinema Político Moderno. Segundo o autor, a especificidade deste cinema está centrada em sua capacidade de fazer devir nas imagens “um povo por vir” (DELEUZE, 2006, p. 281). Assim, as imagens que aqui investigamos, atualizadas em distorções, deformidades, vultos, rastros de um eterno fazer-se e desfazer-se das formas, são como maquinações da desabituação de um Brasil colonial e normativo, reconstruído na agitação de uma matéria vibrante a partir de processos heterogenéticos. Metodologicamente, as imagens em transe foram pensadas segundo três componentes: a primeira delas, constituída por motivos territoriais, organiza-se segundo codificações primárias nos fluxos de matéria, são feixes luminosos, gradientes de cor, granulações de película que são agenciadas segundo sínteses conectivas. A segunda componente, como meio de inscrição, é formulada no seio das descrições em transe, das narrações rituais e das narrações em transe, produtoras de meios de registro que deixam ver imagens ao mesmo tempo atuais e virtuais: desenquadramentos, descentramentos, narrações falsificantes e espacialidades em transe. A última componente decorre de uma descodificação generalizada que faz comunicarem-se fragmentos de matéria fílmica: são fonações, grafismos, gestos, matérias sublinguísticas que, ao serem associadas, mantêm as desterritorializações em estados de conjunção. Estas três componentes das imagens em transe se desenvolverão segundo questões suscitadas pelo que chamamos, para fins metodológicos, de personagens povoadores, que são personagens cuja colocação de problemas traz às imagens inquirições propriamente cinemáticas. São eles: O Cancioneiro, O Gago, O Cego Vidente, O Tirano, O Messias.
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Nesta tese, investigamos este transe, em Glauber Rocha, a partir de uma série de desdobramentos dos insights produzidos por Gilles Deleuze (2006) no breve texto chamado O Cinema Político Moderno. Segundo o autor, a especificidade deste cinema está centrada em sua capacidade de fazer devir nas imagens “um povo por vir” (DELEUZE, 2006, p. 281). Assim, as imagens que aqui investigamos, atualizadas em distorções, deformidades, vultos, rastros de um eterno fazer-se e desfazer-se das formas, são como maquinações da desabituação de um Brasil colonial e normativo, reconstruído na agitação de uma matéria vibrante a partir de processos heterogenéticos. Metodologicamente, as imagens em transe foram pensadas segundo três componentes: a primeira delas, constituída por motivos territoriais, organiza-se segundo codificações primárias nos fluxos de matéria, são feixes luminosos, gradientes de cor, granulações de película que são agenciadas segundo sínteses conectivas. A segunda componente, como meio de inscrição, é formulada no seio das descrições em transe, das narrações rituais e das narrações em transe, produtoras de meios de registro que deixam ver imagens ao mesmo tempo atuais e virtuais: desenquadramentos, descentramentos, narrações falsificantes e espacialidades em transe. A última componente decorre de uma descodificação generalizada que faz comunicarem-se fragmentos de matéria fílmica: são fonações, grafismos, gestos, matérias sublinguísticas que, ao serem associadas, mantêm as desterritorializações em estados de conjunção. Estas três componentes das imagens em transe se desenvolverão segundo questões suscitadas pelo que chamamos, para fins metodológicos, de personagens povoadores, que são personagens cuja colocação de problemas traz às imagens inquirições propriamente cinemáticas. São eles: O Cancioneiro, O Gago, O Cego Vidente, O Tirano, O Messias.To Glauber Rocha (2004), “the Cinema Novo is a project that emerges in the politics of hunger, and suffers, for this very reason, all the weaknesses resulting from its existence” (p. 67). The trance, seen as a disease as well as a cure, multiplies its forms: there is the famine trance, capable of producing a communication channel from hungry and exhaustion, the religious trance, forged inside a messianic time, the inebriation trance, which turns an organization dimension into a Dionysian dimension, the music trance, capable of bringing, in its minimal elements, a past into the present, the rustle trance which dismantles the words in a rustling language. Glauber Rocha cinema was interested in wandering lives and deteriorated communication channels. This thesis aims to investigate this trance, in Glauber Rocha, based on the insights produced by Gilles Deleuze (2006) in text called The Modern Political Cinema. According to the author, this cinema has the ability to produce a to become in the images of “a people to come” (DELEUZE, 2006, p. 281). The images that we investigate here are similar as machinations of the withdrawal of a colonial and normative Brazil, reconstructed in the agitation of a vibrant matter (distortions, deformities, shapes, traces of an eternal making and undoing of shapes) created with heterogeneous procedures. As a method, the trance images are classified by three components. The first one, constituted by territorial reasons, is organized in primary encodes level, in the flows of substance. They are light beams, color gradients, film granulation that are brought together in consonance with connective syntheses. The second component, as an inscription channel, is formulated in the interior of trance descriptions, in the procedural narrations and trance narrations, producing recording media that show present and virtual images: mismatches, decentralization, falsifying narrations and trance domains. The last component results from a generalized decoding that makes interconnect fragments of film material. They are phonation, graphics, gestures and sublinguistic materials when associated keep the deterritorializations in states of conjunction. These three components of trance images will be developed according to the interrogations brought by the inhabiting characters: the Singer, the Stutterer, the blind Psychic, the Tyrant, the Messiah.application/pdfporCinema NovoSemióticaRocha, Glauber, 1939-1981 : Crítica e interpretaçãoTranceCinemaImageAs imagens em trase e os personagens povoadores no cinema de Glauber Rochainfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisUniversidade Federal do Rio Grande do SulFaculdade de Biblioteconomia e ComunicaçãoPrograma de Pós-Graduação em ComunicaçãoPorto Alegre, BR-RS2020doutoradoinfo:eu-repo/semantics/openAccessreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGSinstname:Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)instacron:UFRGSTEXT001118305.pdf.txt001118305.pdf.txtExtracted Texttext/plain602856http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/213829/2/001118305.pdf.txta1a0658b658a2d1d87bf3a6eec58940fMD52ORIGINAL001118305.pdfTexto completoapplication/pdf3682343http://www.lume.ufrgs.br/bitstream/10183/213829/1/001118305.pdf80a5e7399679991066c7c3f19b78f1f2MD5110183/2138292022-02-22 05:04:44.347499oai:www.lume.ufrgs.br:10183/213829Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttps://lume.ufrgs.br/handle/10183/2PUBhttps://lume.ufrgs.br/oai/requestlume@ufrgs.br||lume@ufrgs.bropendoar:18532022-02-22T08:04:44Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UFRGS - Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS)false
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