Aspectos ecológicos da fauna flebotomínea (Diptera, Psychodidae) e suas implicações na epidemiologia das leishmanioses em Cotia, Estado de São Paulo, Brasil

• Ano de defesa: 2006
• Autor(a) principal: Delano Aníbal da Silva
• Orientador(a): Eunice Aparecida Bianchi Galati
• Banca de defesa: Carlos Frederico Loiola, Delsio Natal
• Tipo de documento: Dissertação
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Universidade de São Paulo
• Programa de Pós-Graduação: Saúde Pública
• País: BR
• Link de acesso: https://doi.org/10.11606/D.6.2006.tde-13092021-102125

INTRODUÇÃO. As leishmanioses são antropozoonoses cujos agentes etiológicos são parasitos do gênero Leishmania e transmitidos aos vertebrados por flebotomíneos (Diptera, Psychodidae). No Estado de São Paulo (SP) a incidência das leishmanioses tegumentar (LT) e visceral (LV) vem aumentando. No município de Cotia, região da Grande São Paulo, casos humanos de LT têm sido notificados e, recentemente também, casos caninos de LV. O presente estudo teve como objetivo analisar a ocorrência da LT nos municípios que compõem a Dir V (Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, Centro de Vigilância Epidemiológica), onde se insere Cotia e estudar a fauna flebotomínea em área de transmissão de ambas as parasitoses neste município, para identificação de seus vetores. METODOLOGIA. Estimou-se a incidência da LT na população humana através de dados obtidos no Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE/SP) e IBGE. Para o estudo dos insetos foram amostrados cinco pontos no município de Cotia, no período de junho de 2004 a agosto de 2005. Para a captura dos alados utilizou-se as técnicas de armadilha de Shannon, armadilhas automáticas luminosas tipo CDC e aspiração. Para as formas imaturas, armadilhas de Casanova e amostragem de solo. As capturas com armadilhas de Shannon modificadas, nas cores branca e preta, foram mensais, durante 13 horas, para determinação do ritmo horário noturno, e uma vez a cada estação do ano, por 25 horas. As armadilhas automáticas luminosas foram instaladas mensalmente das 18:00 às 6:00 horas, por três noites consecutivas em ambiente domiciliar, peridomiciliar e mata. Foi investigada a Infecção natural por flagelados por dissecção e por PCR das fêmeas. RESULTADOS E DISCUSSÃO. OS Coeficientes de Incidência Média Acumulada (CI) para os municípios da diretoria V - Osasco mostram-se variáveis, porém sempre abaixo de 10/100.000 hab. Cotia apresentou um CI = 2,39/100.000 hab. O total de flebotomíneos capturados durante o período de estudo foi de 2.690 espécimes pertencentes às seguintes espécies, listadas em ordem decrescente de freqüência: Pintomyia fischeri, Pintomyia monticola, Migonemyia migonei, Psychodopygus lIoydi, Psychodopygus ayrozai, Evandromyia cortelezzii, Evandromyia lenti, Evandromyia edwardsi, Brumptomyia brumpti, Brumptomyia cardosoi, Brumptomyia nitzulescui, Psathyromyia pascalei, Psathyromyia lanei, Expapillata firmatoi e Micropygomyia ferreirana. Segundo o índice de Abundância de Espécies Padronizado (IAEP) as espécies que mais se destacaram foram Pi. fischeri (0,95), PS. lIoydi (0,85); Mg. migonei (0,69) e Pi. monticola (0,52). Segundo a Média de Williams/por captura, destacaram-se na mata, P. fischeri (1,05 insetos/por armadilha). Mg. migonei (0,36) e PS. lIoydi (0,31). No intradomicílio, Mg. migonei (0,48). Estes resultados confirmam a endofilia de Mg. migonei. O índice de Similaridade para o ambiente de mata e peridomiciliar foi de 0,87. Indicando que espécies encontradas na mata também se adaptam bem ao peridomicílio. Na comparação entre mata e domicílio, o índice foi de 0,50, mostrando maior discrepância entre as faunas, com espécies diferentes prevalecendo nos diferentes ambientes. O índice entre peridomicílio e domicílio foi de 0,43, indicando também a presença de faunas distintas nestes dois ambientes. Observou-se pico na freqüência dos flebotomíneos entre 20-21 horas e em períodos com alternância de estiagem e precipitação. De 37 fêmeas de flebotomíneos dissecadas, em nenhuma se observou infecção natural por flagelados. Pela técnica PCR detectou-se uma taxa mínima de infecção natural por tripanossomatídeos de 1,15% entre as fêmeas de Pi. fischeri, 4,41% de Mg. migonei e 6,7% de PS. lIoydi. Na busca por criadouros não foram encontrados flebotomíneos. CONCLUSÕES. Cotia apresenta incidência moderada de casos de leishmaniose em relação aos demais municípios do Estado de São Paulo. As espécies de flebotomíneos capturadas em maior abundância são tipicamente silvestres. As faunas de flebotomíneos capturadas nos ecótopos de mata e peridomicílio foram similares, porém diferentes daquela encontrada no intradomicílio, onde predominou Mg. migonei; Os flebotomíneos foram capturados predominantemente à noite, com pico entre 20:00 e 21:00 horas. O mês de maior rendimento foi março, período coincidente com médias de temperatura mais altas e períodos cíclicos de precipitação e estiagem. A população do município de Cotia cujas casas estão situadas junto as matas está sob risco de adquirir leishmaniose, principalmente devido ao tipo de ocupação do solo, pois apresenta residências em contato direto com matas. Pelos resultados obtidos, o papel vetorial pode estar sendo desempenhado por três das espécies da fauna flebotomínea local, Pi. fischeri, Mg. migonei e PS. lIoydi.