Impacto da implementação de bundles de prevenção de infecções relacionadas à assistência à saúde em unidade de terapia intensiva especializada em cuidados de receptores de transplante de rim

• Ano de defesa: 2023
• Autor(a) principal: Santos, Maria Bethânia Peruzzo [UNIFESP]
• Orientador(a): Requiao Moura, Lucio Roberto [UNIFESP]
• Tipo de documento: Dissertação
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Universidade Federal de São Paulo
• Palavras-chave em Português: Infecções relacionadas à assistência à saúde; Unidade de terapia intensiva; Transplante de rim; Imunossupressão; Bundles
• Link de acesso: https://repositorio.unifesp.br/11600/69152

Introdução: As infecções relacionadas à assistência à saúde (IRAS) são um grave problema de saúde pública. Nos últimos anos, a implementação de medidas agrupadas, sistemáticas e supervisionadas para prevenção de IRAS (bundles) reduziu de forma substancial a sua incidência, mas essas evidências não têm considerado a estratificação de pacientes, de acordo com seus perfis de vulnerabilidade. Os receptores de transplante de rim (TxR) estão sob elevado risco de apresentar quadros infecciosos mais graves, bem como de outras situações de saúde que necessitam de cuidados avançados de vida, com alta exposição de risco às IRAS. Ainda não há dados na literatura demonstrando o impacto da implementação de bundles de controle de IRAS nessa população. Objetivo: Mensurar o impacto da implementação de bundles de prevenção das IRAS associadas à dispositivo na sua incidência de casos, em uma UTI especializada em cuidados de TxR. Metodologia: Estudo de coorte retrospectiva realizado em centro único, com a inclusão de TxR admitidos na UTI entre 2016 e 2019, e que necessitaram de um dos dispositivos de interesse: cateter venoso central (CVC), cateter vesical de demora (CVD) e ventilação mecânica (VM). Em dezembro de 2017 os bundles de prevenção de IRAS foram completamente implementados na UTI e os pacientes internados 3 meses antes e 3 meses após esse período foram excluídos (período de adaptação). Dessa forma, foram incluídos 798 pacientes, 449 na era antes e 349 na era depois da implementação dos bundles. Desfecho primário: IRAS associadas à dispositivo, infecção de corrente sanguínea associada à CVC (ICS-CVC), infecção urinária associada à CVD (ITU-CVD) e PAV. O desfecho secundário: óbito em 30 e 90 dias. Análise multivariada para a ocorrência de IRAS foi realizada por regressão logística. Sobrevidas do paciente foram estimadas por Kaplan-Meier e comparadas de acordo com a ocorrência de IRAS por teste Logrank. Para estimar o impacto da ocorrência de IRAS nas chances de óbito do paciente, um modelo de regressão Poisson foi realizado através de sistema de equações estruturais generalizadas. Resultados: Algumas diferenças significativas foram observadas nos pacientes de acordo com as eras (antes vs. depois, respectivamente): maior frequência de doadores falecidos (80,6 vs. 72,8%, p=0,009), maior incidência de infecção pelo citomegalovírus (CMV) prévia à internação na UTI (40,1 vs. 32,4%, p=0,024), menor tempo de transplante (47,0 vs. 65,2 meses, p=0,001); SOFA mais elevado (6,0 vs. 5,0, p=0,001), TFG ligeiramente maior (20,4 vs. 19,8 ml/min/1,73m2, p=0,02) e maior contagem de leucócitos totais (10.000 vs. 8.600 células/mm3, p=0,005) à admissão na UTI; e menor frequência de utilização de CVC (78,6 vs. 87,1%, p=0,002). Com a implementação dos bundles, a incidência de casos das IRAS-dispositivo reduziu de 8,7% para 4,0% (p=0,009) e as de ICS-CVC de 8,5% para 3,9% (p=0,017). Paras as ITU-CVD e PAV as reduções foram de 1,5% para 0,4% (p=0,34) e de 2,0% para 0,6% (p=0,38), respetivamente. Na análise de múltiplas variáveis, a implementação dos bundles reduziu o risco de IRAS-dispositivo em 59% (OR=0,411; p=0,006). As sobrevidas do paciente em 30 e 90 dias foram, respectivamente, de 76,4% e 71,7%, para os pacientes que não apresentaram IRAS-dispositivos, e de 58,5% e 37,7%, para os que apresentaram (p<0,001). Na análise de múltiplas variáveis, a ocorrência de IRAS-dispositivo aumentou em 2,63 o risco de óbito (HR=2,63; p<0,001). Conclusão: Com a implementação de medidas de prevenção de IRAS em uma UTI especializada em cuidados de TxR houve uma redução significativa no risco de sua ocorrência, em linhas com as evidências em estudos realizados em populações não específicas. Independente da implementação de controle de IRAS, a sua ocorrência aumentou de forma significativa o risco de óbito em até 90 dias de seguimento.