Fios de sonho : a poética dos Múrui do noroeste amazônico através do dijoma jágai
Ano de defesa: | 2022 |
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Autor(a) principal: | |
Orientador(a): | |
Banca de defesa: | , , , |
Tipo de documento: | Tese |
Tipo de acesso: | Acesso aberto |
Idioma: | por |
Instituição de defesa: |
Universidade Estadual de Londrina. Centro de Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras.
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Programa de Pós-Graduação: |
Não Informado pela instituição
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Departamento: |
Não Informado pela instituição
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País: |
BR
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Link de acesso: | http://www.bibliotecadigital.uel.br/document/?code=vtls000236721 |
Resumo: | O presente trabalho é o resultado de uma pesquisa sobre a poética oral do povo múrui do noroeste amazônico. Também conhecido como uitoto, este é um povo originário do interflúvio dos rios Caquetá-Putumayo, no sul da Colômbia. O meu objetivo principal neste trabalho é estudar três variantes da narrativa mítica Dijoma jágai, registradas nas variedades dialetais mika, minika, e bue da língua múrui, mutuamente inteligíveis entre elas. A metodologia presenta duas ramificações. Por um lado, procuro desvendar, do nível da diacronia, os contextos históricos nos quais as diversas versões do Dijoma jágai foram atualizadas ao longo dos séculos XX e XXI. Por outro lado, atento para a questão sincrônica dos gêneros poéticos nativos, com especial ênfase na forma verbal jágai (relato mítico), gênero do qual ofereço três transcrições poéticas em múrui com suas respetivas traduções para o português. Minha pesquisa demonstra que a arte verbal do povo múrui não está fundada só em técnicas xamânicas para entrar em contato com as palavras e as forças das entidades espirituais, mas é um sistema poético altamente elaborado cujo género maior é o rafue ou festa ritual. Na segunda parte, apresento transcrições e traduções de textos em língua múrui. Elas visam demonstrar que o trabalho com fontes escritas de origem oral é muito produtivo, pois permite possar questões que às vezes se afastam dos problemas tradicionais da literatura escrita. Minha conclusão central é que o pensamento das culturas indígenas do noroeste amazônico está fundamentado em uma experiência corporal, e não em categorias abstratas e teóricas como acontece no pensamento ocidental. Essa corporalidade do pensamento múrui se complementa e se espelha na série de processos, de técnicas, de ideias e de símbolos que ele tece ao redor de suas três principais substâncias rituais: a coca, o tabaco e a mandioca. Concluo também que o estudo da poética oral indígena implica o estudo das línguas vernaculares em que tais poéticas se exprimem. Sem esse estudo prévio, o pesquisador em poéticas indígenas mal poderia compreender os simbolismos, significados e associações elaboradas nas línguas indígenas. |
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info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisFios de sonho : a poética dos Múrui do noroeste amazônico através do dijoma jágaiDream yarns: the poetry of the Murui from the northwest of the Amazon through the dijoma jágai2022-03-07Frederico Augusto Garcia Fernandes . Juan Alvaro Echeverri Laura Taddei Brandini Eudes Fernando Leite Luiz Carlos Migliozzi Ferreira de MelloGustavo Adolfo Zuluaga HoyosUniversidade Estadual de Londrina. Centro de Letras e Ciências Humanas. Programa de Pós-Graduação em Letras.URLBRO presente trabalho é o resultado de uma pesquisa sobre a poética oral do povo múrui do noroeste amazônico. Também conhecido como uitoto, este é um povo originário do interflúvio dos rios Caquetá-Putumayo, no sul da Colômbia. O meu objetivo principal neste trabalho é estudar três variantes da narrativa mítica Dijoma jágai, registradas nas variedades dialetais mika, minika, e bue da língua múrui, mutuamente inteligíveis entre elas. A metodologia presenta duas ramificações. Por um lado, procuro desvendar, do nível da diacronia, os contextos históricos nos quais as diversas versões do Dijoma jágai foram atualizadas ao longo dos séculos XX e XXI. Por outro lado, atento para a questão sincrônica dos gêneros poéticos nativos, com especial ênfase na forma verbal jágai (relato mítico), gênero do qual ofereço três transcrições poéticas em múrui com suas respetivas traduções para o português. Minha pesquisa demonstra que a arte verbal do povo múrui não está fundada só em técnicas xamânicas para entrar em contato com as palavras e as forças das entidades espirituais, mas é um sistema poético altamente elaborado cujo género maior é o rafue ou festa ritual. Na segunda parte, apresento transcrições e traduções de textos em língua múrui. Elas visam demonstrar que o trabalho com fontes escritas de origem oral é muito produtivo, pois permite possar questões que às vezes se afastam dos problemas tradicionais da literatura escrita. Minha conclusão central é que o pensamento das culturas indígenas do noroeste amazônico está fundamentado em uma experiência corporal, e não em categorias abstratas e teóricas como acontece no pensamento ocidental. Essa corporalidade do pensamento múrui se complementa e se espelha na série de processos, de técnicas, de ideias e de símbolos que ele tece ao redor de suas três principais substâncias rituais: a coca, o tabaco e a mandioca. Concluo também que o estudo da poética oral indígena implica o estudo das línguas vernaculares em que tais poéticas se exprimem. Sem esse estudo prévio, o pesquisador em poéticas indígenas mal poderia compreender os simbolismos, significados e associações elaboradas nas línguas indígenas.The current thesis is the result of an oral poetry research on the Múrui people of the northwest Amazonian. Also known as Witoto (also Huitoto or Uitoto), they are from the interfluve of the Caquetá-Putumayo rivers in southern Colombia. In this work I studied three variants of the mythical narrative Dijoma jágai, collected in the dialectal varieties mika, minika, and bue of the múrui language, mutually intelligible among them. Methodology had two ramifications. On the one hand, within the level of diachrony, I studied the historical contexts in which the various versions of Dijoma jágai were updated throughout the 20th and 21st centuries. On the other hand, I studied within the sinchronic level, the issue of múrui poetic genres, with special emphasis on the verbal form jágai ("mythical report"), from which I offer three poetic transcriptions in múrui with their respective translations to Portuguese. Main results of my research include to demonstrate that the verbal genres (which I call verbal art) of the Múrui people is not solely founded on shamanic techniques to contact words and forces from spiritual entities, but it is a highly elaborate poetic system whose greatest genre is the rafue or ritual feast. Another result, of a more practical nature, concerns the transcriptions and translations in the múrui language presented here. Their inclusion wants to demonstrate the importance of working with sources of oral origins, as they allow to rely on questions sometimes deviant from traditional problems of written literature. Other conclusion is that the train of thought of indigenous cultures in the northwest Amazon is based on a bodily experience, rather than abstract and theoretical categories as in the Western philosophy. Their corporality mirrors a series of processes, techniques, ideas, and symbols woven around their three main ritual substances: coca, tobacco, and cassava. Likewise, I have also concluded that the study of indigenous oral poetry relies on study of the vernacular languages in which such poetry is expressed. Without this previous study, the researcher in indigenous poetry could hardly understand the symbolisms, meanings and associations preserved by indigenous languages.http://www.bibliotecadigital.uel.br/document/?code=vtls000236721porreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UELinstname:Universidade Estadual de Londrina (UEL)instacron:UELinfo:eu-repo/semantics/openAccess2022-10-26T10:08:12Zoai:uel.br:vtls000236721Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.bibliotecadigital.uel.br/PUBhttp://www.bibliotecadigital.uel.br/OAI/oai2.phpbcuel@uel.br||opendoar:2022-06-23T19:49:03Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UEL - Universidade Estadual de Londrina (UEL)false |
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