Patologização do luto : uma análise genealógica do DSM

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2019
Autor(a) principal: Thais Fernanda Roberto Oliveira
Orientador(a): Marcos Alexandre Gomes Nalli .
Banca de defesa: Paulo Roberto de Carvalho, Lucia Cecilia da Silva
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual de Londrina. Centro de Ciências Biológicas. Programa de Pós-Graduação em Psicologia.
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: BR
Link de acesso: http://www.bibliotecadigital.uel.br/document/?code=vtls000230549
Resumo: O DSM-5 foi muito criticado, pois vários aspetos da vida cotidiana passam por um processo de patologização e medicalização. O luto é um processo da vida cotidiana, diferente dos demais por ser algo inerente à existência humana e uma experiência estruturante pois, ao se deparar com a morte, o homem se depara com a impossibilidade. Esta pesquisa surge da questão: como os processos de luto são citados nos DSMs e como se construiu o processo de psicopatologização desta experiência? É uma pesquisa descritiva qualitativa, documental. Teve como foco a descrição dos processos de luto no DSM-5, porém foi realizado um mapeamento das incidências deste termo nas outras edições. Antes o luto era compreendido como uma dor cuja manifestação era legítima e necessária, atualmente a sociedade exige dos enlutados um autocontrole. Pode-se pensar nas estratégias de classificação dos manuais diagnósticos como dispositivos biopolíticos. A biopolítica tem como alvo o homem como ser vivo e como espécie; tem como objeto de intervenção, os processos biológicos; pretende estabelecer sobre os homens uma espécie de regulamentação. A medicina social diz respeito a uma sucessão de estratégias biopolíticas para controle e gestão da população, visando uma atuação preventiva contra qualquer possibilidade de perigo. A população passa a ser um problema biopolítico e por isso se estabelece uma classe de medicalização. A psiquiatria abdica de sua função de cura, concentrando-se no papel de proteção e ordenação social e biológica, tornando as fronteiras entre o normal e o patológico cada vez mais ambíguas, naturalizando a medicalização de comportamentos, estendendo-se a todos os domínios da existência. O movimento psicopatologizante das experiências cotidianas aparece ao longo das edições do DSM, tendo seu ápice no DSM-5. Isto ocorre com diversos transtornos. O luto foi retirado dos critérios de exclusão do diagnóstico do Transtorno Depressivo Maior, portanto, alguém que está passando por um processo de luto pode ser diagnosticado com depressão caso os sintomas persistam por mais de duas semanas; isto pode incentivar o diagnóstico prematuro de depressão na sequência ao luto. Há uma preocupação de que pacientes em luto possam ser prescritos com antidepressivos para administrar as reações esperadas ao luto. Houve uma diminuição no período de tempo em que as reações ao luto são consideradas esperadas, sendo três meses no DSM-III, dois meses no DSM-IV e duas semanas no DSM-5. O DSM-5 propõe o “Transtorno do Luto Complexo Persistente”, sendo a primeira edição que sugere o luto patológico como uma categoria diagnóstica. Este manual continua patologizando e permitindo uma medicalização da vida cotidiana e do processo de luto. Para Han os principais mecanismos de controle não incidem mais sobre a matéria e sim sobre a psique. Ele descreve a sociedade do século XXI como uma sociedade de desempenho. Pode-se dizer que alguns dos transtornos apresentados no DSM são determinados por um excesso de positividade. Qualquer aspecto relativo à negatividade é descartado, porém este é um dos aspectos que nos torna humanos. A sociedade já não faz pausas, o homem se torna uma máquina de desempenho a serviço do neoliberalismo.
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spelling info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisPatologização do luto : uma análise genealógica do DSMPathologization of bereavement : a genealogic analisys of the DSM2019-12-20Marcos Alexandre Gomes Nalli . Paulo Roberto de Carvalho Lucia Cecilia da SilvaThais Fernanda Roberto OliveiraUniversidade Estadual de Londrina. Centro de Ciências Biológicas. Programa de Pós-Graduação em Psicologia.URLBRO DSM-5 foi muito criticado, pois vários aspetos da vida cotidiana passam por um processo de patologização e medicalização. O luto é um processo da vida cotidiana, diferente dos demais por ser algo inerente à existência humana e uma experiência estruturante pois, ao se deparar com a morte, o homem se depara com a impossibilidade. Esta pesquisa surge da questão: como os processos de luto são citados nos DSMs e como se construiu o processo de psicopatologização desta experiência? É uma pesquisa descritiva qualitativa, documental. Teve como foco a descrição dos processos de luto no DSM-5, porém foi realizado um mapeamento das incidências deste termo nas outras edições. Antes o luto era compreendido como uma dor cuja manifestação era legítima e necessária, atualmente a sociedade exige dos enlutados um autocontrole. Pode-se pensar nas estratégias de classificação dos manuais diagnósticos como dispositivos biopolíticos. A biopolítica tem como alvo o homem como ser vivo e como espécie; tem como objeto de intervenção, os processos biológicos; pretende estabelecer sobre os homens uma espécie de regulamentação. A medicina social diz respeito a uma sucessão de estratégias biopolíticas para controle e gestão da população, visando uma atuação preventiva contra qualquer possibilidade de perigo. A população passa a ser um problema biopolítico e por isso se estabelece uma classe de medicalização. A psiquiatria abdica de sua função de cura, concentrando-se no papel de proteção e ordenação social e biológica, tornando as fronteiras entre o normal e o patológico cada vez mais ambíguas, naturalizando a medicalização de comportamentos, estendendo-se a todos os domínios da existência. O movimento psicopatologizante das experiências cotidianas aparece ao longo das edições do DSM, tendo seu ápice no DSM-5. Isto ocorre com diversos transtornos. O luto foi retirado dos critérios de exclusão do diagnóstico do Transtorno Depressivo Maior, portanto, alguém que está passando por um processo de luto pode ser diagnosticado com depressão caso os sintomas persistam por mais de duas semanas; isto pode incentivar o diagnóstico prematuro de depressão na sequência ao luto. Há uma preocupação de que pacientes em luto possam ser prescritos com antidepressivos para administrar as reações esperadas ao luto. Houve uma diminuição no período de tempo em que as reações ao luto são consideradas esperadas, sendo três meses no DSM-III, dois meses no DSM-IV e duas semanas no DSM-5. O DSM-5 propõe o “Transtorno do Luto Complexo Persistente”, sendo a primeira edição que sugere o luto patológico como uma categoria diagnóstica. Este manual continua patologizando e permitindo uma medicalização da vida cotidiana e do processo de luto. Para Han os principais mecanismos de controle não incidem mais sobre a matéria e sim sobre a psique. Ele descreve a sociedade do século XXI como uma sociedade de desempenho. Pode-se dizer que alguns dos transtornos apresentados no DSM são determinados por um excesso de positividade. Qualquer aspecto relativo à negatividade é descartado, porém este é um dos aspectos que nos torna humanos. A sociedade já não faz pausas, o homem se torna uma máquina de desempenho a serviço do neoliberalismo.The DSM-5 was heavily criticized, as various aspects of everyday life go through a process of pathologization and medicalization. Bereavement is a process of daily life, unlike any other because it is inherent to human existence and a structuring experience, because when faced with death, man is faced with impossibility. This research arises from the question: how are the grieving processes mentioned in the DSMs and how the psychopathologization process of this experience was built? It is a qualitative, documentary, and descriptive research. It focused on the description of the bereavement processes in DSM-5, but a mapping of the incidences of this term in other editions was done. Formerly bereavement was understood as a pain whose manifestation was legitimate and necessary, nowadays society demands self-control from the mourners. One can think of the diagnostic manuals’ classification strategies as biopolitical devices. Biopolitics focus on the man as a living being and as a species; its object of intervention is the biological processes; it intends to establish a kind of regulation over men. Social medicine concerns a succession of biopolitical strategies for population control and management, aiming at preventive action against any possibility of danger. The population becomes a biopolitical problem, it is because of it that a class of medicalization is established. Psychiatry abdicates its healing function, concentrating on the role of protection and social and biological ordering, making the boundaries between normal and pathological each time more ambiguous, naturalizing the medicalization of behaviors, extending to all domains of existence. The movement of psychopathologization of everyday experiences occurs throughout the editions of DSM, with its peak in DSM-5. This occurs with disorders other than bereavement. Bereavement has been removed from the exclusion criteria for diagnosis of Major Depressive Disorder, so someone who is undergoing grief can be diagnosed with depression if symptoms persist for more than two weeks; this can encourage premature diagnosis of depression following bereavement. There is a concern that grieving patients may be prescribed with antidepressants to manage the expected bereavement reactions. There was a decrease in the time period of when grief reactions are considered expected, being three months in DSM-III, two months in DSM-IV and two weeks in DSM-5. The DSM-5 proposes “Persistent Complex Bereavement Disorder”, being the first edition suggesting pathological bereavement as a diagnostic category. This manual continues to pathologize and allow a medicalization of everyday life and the grieving process. For Han, the main control mechanisms no longer fixate on the matter but on the psyche. He describes 21st century society as a performance society. It can be said that some of the disorders presented in the DSM are determined by an excess of positivity. Any aspect related to negativity is discarded, however this is one of the aspects that makes us humans. Society no longer makes pauses, the man becomes a performance machine in the service of neoliberalism.http://www.bibliotecadigital.uel.br/document/?code=vtls000230549porreponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UELinstname:Universidade Estadual de Londrina (UEL)instacron:UELinfo:eu-repo/semantics/openAccess2022-10-26T10:08:42Zoai:uel.br:vtls000230549Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.bibliotecadigital.uel.br/PUBhttp://www.bibliotecadigital.uel.br/OAI/oai2.phpbcuel@uel.br||opendoar:2020-02-28T13:12:32Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da UEL - Universidade Estadual de Londrina (UEL)false
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