ODE às mãos: a presença do real nas artes surdas como motivadora do ato responsável e humanizado.

• Ano de defesa: 2023
• Autor(a) principal: MENESES, Ronny Diogenes de.
• Orientador(a): SOUZA, Fábio Marques de.
• Banca de defesa: XAVIER, Manassés Morais., PEREIRA, Márcia Helena de Melo., MORAES, Antonio Henrique Coutelo de., MOURÃO, Cláudio Henrique Nunes.
• Tipo de documento: Tese
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Universidade Federal de Campina Grande
• Programa de Pós-Graduação: PÓS-GRADUAÇÃO EM LINGUAGEM E ENSINO
• Departamento: Centro de Humanidades - CH
• País: Brasil
• Palavras-chave em Português: Libras; Literatura; Artes; Visualidade; Cultura; Literatura; Artes; Visualidad; Cultura.; Brazilian Sign Language; Literature; Art; Visuality; Culture; Langue des signes brésilienne; Littérature; Visualité
• Área do conhecimento CNPq: Letras
• Link de acesso: http://dspace.sti.ufcg.edu.br:8080/jspui/handle/riufcg/33705

O objetivo desta tese é compreender, sob uma perspectiva marxista, como o ato de olhar e refletir sobre as mãos surdas presentes na arte pode nos levar a conhecer a infraestrutura de exclusão e segregação que conduziu os surdos a realizar atos responsáveis e humanizados. Além disso, os objetivos específicos desta investigação são descrever como a humanidade representou e valorizou a mão na arte ao longo dos séculos, ilustrar os valores hierarquizados de uma infraestrutura que culmina no nascimento dos signos ideológicos surdos, ressignificar a nossa compreensão do corpo através dos estudos bakhtinianos e estudar a aparição das mãos nas artes surdas como ato responsável que reflete e refrata o horizonte social surdo. Em nossa pesquisa de mestrado, percebemos que crenças equivocadas ligadas às pessoas surdas podem ser repensadas por meio do contato com as artes surdas, seguindo um possível caminho para a reconfiguração dessas crenças. Nesse processo, verificamos que, nas artes, há um elemento comum a todos os humanos, mas que recebe um alto destaque em praticamente todas as artes surdas: as mãos. Elas surgem como protesto, defesa, expressam medo e revolta, conclamando o espectador a olhar para o surdo. Foi constatado, em nossa pesquisa, que há poucos estudos que abordem os aspectos discursivos das artes produzidas por surdos, assim como a relação da mão com a experiência do ser e estar surdo em uma sociedade predominantemente ouvinte. Portanto, torna-se evidente a necessidade de ampliar as pesquisas sobre essa temática. Tendo isso em consideração, a tese que defendemos é que as mãos presentes nas artes surdas são uma manifestação do ato responsável advindo de uma infraestrutura opressora, e que olhar para essas mãos pode ser um meio de provocar o diálogo e a reflexão sobre o ser e estar surdo e, consequentemente, compreender o caminho que deve ser trilhado para a prática de atos responsáveis e humanizados por nós, ouvintes, frente à comunidade surda. Com isso, surge em nosso trabalho a hipótese de que as mãos surdas são ferramentas ideológicas que são frutos do ato responsável e que refletem e refratam a realidade no horizonte social dos seus autores. Desse modo, pretendemos responder à seguinte questão: Se e como a aparição das mãos nas artes surdas reflete e refrata o ato responsável de seus produtores? Por isso, adotamos uma abordagem qualitativa de cunho exploratório, conduzida por meio de uma pesquisa de base marxista. Essa escolha foi necessária, pois, como Volóchinov (2019) afirma, rejeitamos a concepção burguesa e elitista de fetichização da obra de arte como uma entidade completa e fechada que só pode ser descrita do ponto de vista estético. A partir disso, entendemos a obra de arte como um signo ideológico que é fruto de uma complexa infraestrutura que precisa ser considerada no momento de sua análise. Para isso, foi necessário investigar os fatos a partir da base material em que eles estão inseridos. Isso implicou, primeiramente, ter uma visão geral do contexto, associando-o aos dados gerados na investigação sob a luz dos teóricos discutidos nessa pesquisa. Assim, todo o nosso trabalho está fundamentado na filosofia do ato responsável de Bakhtin (2010) e na concepção de Presença de Gumbrecht (2010). Através dos dados gerados, constatamos que a arte surda é marginalizada e invisibilizada. Contudo, por meio das mãos, eles refletem toda a infraestrutura de opressão exercida pela classe ouvinte. Por fim, concluímos que, ao olharmos para as mãos surdas na arte, olharemos também para a história desse povo, e assim, poderemos conhecer suas lutas, desejos e necessidades. Com isso, poderemos adotar atos responsáveis e humanizados perante o outro-surdo.