Língua e direitos humanos: pessoas surdas na construção da igualdade linguística

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Xavier, Alexandre Guedes Pereira
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://app.uff.br/riuff/handle/1/29143
Resumo: Esta pesquisa qualitativa tem por objetivo, no âmbito das relações entre língua e direitos humanos, dimensionar o alcance da igualdade linguística – igualdade de línguas, variedades e falantes – a partir da condição e da ação das pessoas surdas. Partiu-se do fato de que a afirmação do direito às línguas de sinais em instrumento internacional vinculante de direitos humanos, em 2006, coexiste com barreiras ao reconhecimento linguístico e às políticas públicas correspondentes e com práticas orientadas a fazer com que surdos não existam e/ou que ouçam e falem as línguas orais nacionais, o que corrobora a conclusão de estudo global coordenado por pesquisadora surda e pela Federação Mundial de Surdos de que a cidadania das pessoas surdas parece existir só no papel. Desde uma perspectiva glotopolítica, segundo a formulação inicial de Louis Guespin e Jean-Baptiste Marcellesi e as ideias de Elvira Arnoux, José Del Valle, Xoán Lagares, e por meio do método da igualdade, proposto por Jacques Rancière, combinado com formulações dos campos da antropologia, da linguística e da comunicação intercultural – respectivamente, os conceitos de liminaridade, de Victor Turner; autoetnografia, de Mary Louise Pratt; e audismo, do pesquisador surdo Tom Humphries – desenvolvemos o estudo em torno: (1) da condição liminar na vida de pessoas surdas em relação à língua, entre o dano à igualdade linguística, por mecanismos de identificação, e o tratamento desse dano em processos de subjetivação política; (2) das relações entre o princípio da igualdade linguística e mecanismos desigualitários no Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos das Nações Unidas; (3) de atos de cidadania pelos quais pessoas surdas, ao defender seu direito à língua com base no pressuposto da igualdade linguística, criam um dissenso, demonstrando a existência de dois mundos em um, onde seu direito à língua existe e não existe, onde elas existem para fazer essa demanda e onde se quer que não existam ou que não existam como são. A pesquisa conclui que o princípio da igualdade linguística vem pautando os processos de subjetivação política e afirmação das línguas de sinais e das pessoas e comunidades surdas, mas encontra limites ao seu alcance tanto nas muitas ambiguidades, contradições, estereótipos e omissões nos instrumentos do direito internacional dos direitos humanos quanto em formas individuais, institucionais e socialmente disseminadas de audismo, como as que naturalizam a privação linguística e a negligência na comunicação na vida de pessoas surdas e criam barreiras à educação em língua de sinais desde a primeira infância, que é fundamental para enfrentar esse problema. Faz-se necessário, então, tornar o princípio da igualdade linguística um eixo de luta política e construção coletiva da mudança, ao lado da igualdade de gênero e da igualdade racial.
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Partiu-se do fato de que a afirmação do direito às línguas de sinais em instrumento internacional vinculante de direitos humanos, em 2006, coexiste com barreiras ao reconhecimento linguístico e às políticas públicas correspondentes e com práticas orientadas a fazer com que surdos não existam e/ou que ouçam e falem as línguas orais nacionais, o que corrobora a conclusão de estudo global coordenado por pesquisadora surda e pela Federação Mundial de Surdos de que a cidadania das pessoas surdas parece existir só no papel. Desde uma perspectiva glotopolítica, segundo a formulação inicial de Louis Guespin e Jean-Baptiste Marcellesi e as ideias de Elvira Arnoux, José Del Valle, Xoán Lagares, e por meio do método da igualdade, proposto por Jacques Rancière, combinado com formulações dos campos da antropologia, da linguística e da comunicação intercultural – respectivamente, os conceitos de liminaridade, de Victor Turner; autoetnografia, de Mary Louise Pratt; e audismo, do pesquisador surdo Tom Humphries – desenvolvemos o estudo em torno: (1) da condição liminar na vida de pessoas surdas em relação à língua, entre o dano à igualdade linguística, por mecanismos de identificação, e o tratamento desse dano em processos de subjetivação política; (2) das relações entre o princípio da igualdade linguística e mecanismos desigualitários no Sistema Internacional de Proteção dos Direitos Humanos das Nações Unidas; (3) de atos de cidadania pelos quais pessoas surdas, ao defender seu direito à língua com base no pressuposto da igualdade linguística, criam um dissenso, demonstrando a existência de dois mundos em um, onde seu direito à língua existe e não existe, onde elas existem para fazer essa demanda e onde se quer que não existam ou que não existam como são. A pesquisa conclui que o princípio da igualdade linguística vem pautando os processos de subjetivação política e afirmação das línguas de sinais e das pessoas e comunidades surdas, mas encontra limites ao seu alcance tanto nas muitas ambiguidades, contradições, estereótipos e omissões nos instrumentos do direito internacional dos direitos humanos quanto em formas individuais, institucionais e socialmente disseminadas de audismo, como as que naturalizam a privação linguística e a negligência na comunicação na vida de pessoas surdas e criam barreiras à educação em língua de sinais desde a primeira infância, que é fundamental para enfrentar esse problema. Faz-se necessário, então, tornar o princípio da igualdade linguística um eixo de luta política e construção coletiva da mudança, ao lado da igualdade de gênero e da igualdade racial.This qualitative research aims at, within the relationships between language and human rights, dimensioning the reach of linguistic equality – the equality of languages, in their modalities and varieties, as well as of speakers of languages – as of the condition, and action, of deaf persons. We departed from the fact that the affirmation of the right to sign languages in an international biding human rights’ instrument, in 2006, coexists with barriers to language recognition and to the correspondent public policies as well as with practices which aim at making cease to exist and/or listen and speak national oral languages, what corroborates the conclusion of the global study coordinated by a Deaf researcher and by the World Federation of the Deaf that the citizenship of deaf people, in the world, seems to be a ‘paper status’. From a Glottopolitical perspective, according to primary formulation by Louis Guespin and Jean-Baptiste Marcellesi and ideas by Elvira Arnoux, José Del Valle, Xoán Lagares, as well as through the method of equality , as proposed by Jacques Rancière, combined with formulations from the fields of Anthropology, Linguistics and Cross-Cultural Communication – respectively, the concepts of liminality, by Victor Turner; autoethnography, by Mary Louise Pratt; and audism, by the Deaf researcher Tom Humphries – we developed the study around: (1) the liminal condition in the life of deaf persons concerning language, between the damage to linguistic equality, by identification mechanisms, and the treatment of that damage in political subjectivization processes; (2) the relationships between the principle of linguistic equality and unequal mechanisms within the United Nations International System of Human Rights Protection; (3) acts of citizenship through which deaf people and their organizations, by advocating their right to language based on the presupposition of linguistic equality, create a dissensus, demonstrating the existence of two worlds in one, where their right to language exists and does not exist, where they exist to make such demand and where they are expected to exist at all or not to exist as they are. The research concludes that the principle of linguistic equality has been guiding the subjectivization processes and affirmation of sign languages and Deaf persons and communities, but faces limits to its reach both by the many ambiguities, contradictions, stereotypes and omissions within human rights international law instruments, and by individual, institutional and socially disseminated forms of audism, as those that naturalize linguistic deprivation and communication neglect in the life of deaf persons – that causes cognitive and psychosocial damage – and create barriers to early childhood sign language education, which is fundamental to face that problem. Therefore, it’s necessary to make the principle of linguistic equality an axis of political struggle and collective construction of change, alongside gender equality and racial equality.423 p.Diez, Xoán Carlos LagaresRezende-Curione, Patrícia LuízaSouza, Regina Maria deDel Valle, JoséMedeiros, Vanise Gomes deXavier, Alexandre Guedes Pereira2023-06-19T13:33:47Z2023-06-19T13:33:47Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfXAVIER, Alexandre Guedes Pereira. Língua e direitos humanos: pessoas surdas na construção da igualdade linguística. 2023. 423 f. Tese (Doutorado em Estudos de Linguagem) - Programa de Pós-Graduação em Estudos de Linguagem, Instituto de Letras, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2023.http://app.uff.br/riuff/handle/1/29143CC-BY-SAinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)instname:Universidade Federal Fluminense (UFF)instacron:UFF2023-06-27T12:58:19Zoai:app.uff.br:1/29143Repositório InstitucionalPUBhttps://app.uff.br/oai/requestriuff@id.uff.bropendoar:21202023-06-27T12:58:19Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) - Universidade Federal Fluminense (UFF)false
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