A ficção do eu e o outro na literatura da homossexualidade

• Ano de defesa: 2016
• Autor(a) principal: Leandro Soares da Silva
• Orientador(a): Marcos Antonio Alexandre
• Banca de defesa: Sandra Regina Goulart Almeida, Antonio Barreto Hildebrando, Leonardo Francisco Soares, Mário César Lugarinho
• Tipo de documento: Tese
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Universidade Federal de Minas Gerais
• Palavras-chave em Português: subjetivação; literatura comparada; teoria literária; homossexualidades
• Link de acesso: http://hdl.handle.net/1843/ECAP-A7MQ2A

Esta pesquisa aborda como o relato de teor biográfico, com ênfase no texto literário, resolve a questão sobre a subjetivação dos sujeitos e de suas identidades. Se, por um lado, a subjetivação opera num nível anterior ao sujeito, mas, ao mesmo tempo, ele pode cooperar com esse processo com a finalidade de tornar a si mesmo um sujeito inteligível e possível na interlocução com o outro, compreende-se aqui o relato de si como uma estratégica ficcional e discursiva na qual os sujeitos procuram adquirir alguma agência sobre suas subjetividades. O exemplo utilizado para ilustrar o problema é a produção literária de quatro autores homens que, seja por suas biografias ou temáticas autorais, estiveram envolvidos com formas de identificação relacionadas à homossexualidade. Deste modo, o problema específico diz respeito às normas identitárias relativas aos homens gays, por um lado, e das formas de sociabilidade, convivência e afetos desenvolvidas por esses homens, que, consequentemente, dialogam ou consentem com as normas. A escrita literária desenvolvida pelos autores é avaliada de modo a destacar que os processos de subjetivação são falíveis, isto é, nem sempre são responsáveis por descrever e normatizar as pessoas homossexuais da mesma maneira. Por esse motivo, notou-se que essas pessoas continuam a produzir suas próprias maneiras de resistência e existência, às quais se deu o nome de ethos homossexual. Esse nome é a síntese do problema formulado anteriormente: se os sujeitos são sempre subjetivados, o que significa narrar a si mesmo? A narrativa ou relato da experiência homossexual demonstra a ineficácia e a violência da identidade singular porque, para produzir sujeitos legítimos, ela exige a conformação à norma. Não se trata apenas de uma normatividade heterossexual, mas também de sua equivalente homossexual. O sujeito que narra a si mesmo ou a sua experiência precisa continuar a prestar contas de si não só porque se vê coagido pela norma que o torna legítimo, mas também para dizer ao outro quem ele é. Essa interpelação do outro implica a necessidade de uma ética na qual se reconheça que os sujeitos não são sempre os mesmos nem devem necessariamente corresponder às expectativas de gênero para serem reconhecidos e, sobretudo, para reconhecer a si mesmos. A comparação entre os textos dos quatro autores revelou que cada um deles tenta responder à pergunta 'O que é um homossexual?'. As respostas para essa interpelação, na verdade, questionam a própria validade desse tipo de questão, seja porque desde já ela anuncia uma identidade homossexual, seja porque ela não é eficaz para descrever sujeitos que possuem muito pouco ou nada em comum. Além disso, o recorte temporal desta tese, nos textos avaliados, demonstrou que a interpelação mencionada é sempre modulada de acordo com os padrões de masculinidades de cada época. Logo, a subjetivação mobilizada por meio da homossexualidade não está separada das formas de masculino e até mesmo são necessárias ou condicionadas a elas.