Entre ruas e avenidas : memória e representações sociais do período militar (1964-1985) em Belo Horizonte/MG

• Ano de defesa: 2021
• Autor(a) principal: Jaíza Pollyanna Dias da Cruz Rocha
• Orientador(a): Ingrid Faria Gianordoli Nascimento
• Banca de defesa: Maria de Fátima de Souza Santos, Angela Maria de Oliveira Almeida, Ricardo Vieiralves de Castro, Zeidi Araujo Trindade
• Tipo de documento: Tese
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Universidade Federal de Minas Gerais
• Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Psicologia
• Departamento: FAF - DEPARTAMENTO DE PSICOLOGIA
• País: Brasil
• Palavras-chave em Português: Memória social.; Ditadura; Representação social
• Link de acesso: http://hdl.handle.net/1843/45636

Neste trabalho, tomamos a memória em aspecto psicossocial, considerando-a uma construção social, em que lembrança, silêncio e esquecimento são produtos intrínsecos, em uma trama, que articula passado, presente e futuro. A partir da Abordagem Psicossocial da Memória, enfocamos o estudo da construção da memória histórica do período militar no Brasil (1964-1985), no contexto ditatorial e pós-ditatorial, partindo dos pilares da Justiça de Transição, que visam à busca por memória, verdade e justiça. Considerando as recomendações de documentos oficiais, como o relatório final da Comissão Nacional da Verdade, que reitera a necessidade de atos de reparação simbólica aos mortos e desaparecidos políticos, analisamos os atos simbólicos de nomeação de logradouros públicos, no município de Belo Horizonte/MG, que homenageiam tais militantes. Assim, objetivamos compreender a construção de uma memória histórica e as representações sociais dos moradores de BH sobre o “período militar”. A partir do uso de métodos mistos, para a coleta e análise dos dados, o desenho metodológico quali-quantitativo se dividiu em quatro etapas, nas quais realizamos: 1) pesquisa Documental, identificando os logradouros públicos objetos de homenagem, organizando, a partir da análise de conteúdo, as informações sobre os locais e os militantes homenageados; 2) mapeamento dos locais homenageados, por meio da cartografia digital e dos softwares ArcGIS, QGIS e Google Earth, para a criação de uma mapa estático com os 200 pontos identificados no levantamento, e um mapa interativo, com os logradouros em que realizamos a pesquisa de campo; 3) entrevista semiestruturada com o ex-vereador Betinho Duarte, autor do projeto de lei “Rua Viva”, que nomeou centenas de logradouros públicos em BH, homenageando os militantes políticos de oposição à ditadura militar no Brasil. Por meio da análise de conteúdo, estabelecemos categorias, que envolvem a atividade legislativa e a toponímia urbana, a relação entre o projeto e a história de militância do ex-vereador, além da perspectiva de projetos futuros; 4) pesquisa de campo em 20 logradouros públicos (ruas, praças, avenidas e beco), nas nove regionais de BH, com 150 respondentes de faixa etária jovem, adulta e idosa, para os quais aplicamos um instrumento único, composto por um questionário misto e por tarefas de associação livre de palavras (TALP). Os dados foram analisados, por meio de estatística simples, valendo-se do cálculo da frequência das respostas fechadas, e da análise de conteúdo temático-categorial das questões abertas. As evocações foram analisadas, por meio da análise prototípica, por intermédio do software IRaMuTeQ, visando a identificação da estrutura central e periférica de uma possível representação social, na qual o núcleo central de “período militar” é composto por elementos que contrastam sentimentos de respeito, ordem e segurança, e os que indicam a existência de uma ditadura, que provocou torturas, mortes e falta de liberdade. No contexto investigado, o desconhecimento da população sobre as homenagens nos logradouros públicos, parece não advir apenas da falta de informação da conjuntura do período militar no Brasil, mas da complexa relação entre memória, silêncio e esquecimento, produtos das disputas intergrupais pela preservação de versões de memória, que contribui para a proteção da identidade social dos grupos.