"Pau neles, não nos nossos ": as representações sociais do tráfico de drogas na revista Veja (1968-2010) e suas implicações nas dinâmicas identitárias

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2013
Autor(a) principal: Flaviane da Costa Oliveira
Orientador(a): Ingrid Faria Gianordoli Nascimento
Banca de defesa: Maria Cristina Smith Menandro, Erika Lourenco
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Minas Gerais
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-9NSGE6
Resumo: Este trabalho focaliza uma das atividades criminosas com maior expressão nos meios de comunicação brasileiros, o tráfico de drogas. Suas estruturas sociais, econômicas, políticas e organizacionais têm despertado o interesse de grande número de estudiosos. A investigação realizada tem caráter exploratório e documental, e busca compreender o processo de construção social do fenômeno ao longo da história recente do país. Pretendemos identificar e descrever os elementos presentes nas Representações Sociais do tráfico de drogas, visando compreender as relações entre representações sociais e as dinâmicas identitárias intergrupais, que se refletem nas produções da mídia de massa e contribuem sobremaneira para as relações e desigualdades sociais. A produção documental jornalística, não apenas registra os fatos vivenciados, mas reproduz/reforça formas de pensar peculiares, em um tempo e espaço, sendo rica fonte de pesquisa para as ciências humanas. Reunimos matérias e fragmentos de matérias da revista Veja, do período entre 1968 e 2010, que tratavam da temática. A seleção e coleta dos dados foram realizadas no site do acervo digital do semanário, a partir dos termos: tráfico, traficante e narcotráfico. O conjunto das matérias selecionadas foi depurado, a partir de uma leitura exploratória, incluindo-se um exemplar por mês, o que totalizou 321 itens. O corpus foi submetido à análise lexical desenvolvida com o auxílio do software ALCESTE. O dendrograma resultante da análise apresentou sete classes, organizadas em dois grandes grupos. Os elementos textuais bordejam o consumo de drogas; os efeitos individuais e sociais; a violência; a ameaça; e o combate ao tráfico de drogas; seus contextos e personagens. Tanto no cenário internacional como no nacional, a estratégia de proteção da identidade social dos grupos dominantes leva a construção de representações sociais do tráfico de drogas como algo que pertence ao estrangeiro ou ao grupo de fora. Assim, os subúrbios do globo ou os territórios da pobreza das grandes cidades brasileiras, são vistos como reservatório do risco das drogas, que se expressam de forma emblemática nas favelas e prisões. A figura do drogado não representa a principal preocupação do Estado, os inimigos a serem combatidos são os produtores do mal, agricultores ou traficantes de drogas. A maior parte das matérias se organiza em torno de argumentos técnico-científicos de especialistas, características do sistema de comunicação de difusão, que resgatam e reeditam teses científicas eugênicas e higienistas, nascidas no século XIX, e que embasam a discriminação das classes perigosas. Quando o tráfico de drogas é representado como coisa de pobre, os consumidores da classe média e alta se mantêm a salvo da crítica social. São pouquíssimas as reportagens que trazem elementos contrastantes, criticando a vitimização da classe média no Brasil. Desta forma, compreendemos que a mídia é importante instrumento de disseminação de versões dos fatos sociais, contribuindo para a construção do reservatório de significados atribuídos ao fenômeno, materializando personagens marginalizados e sem controle, que assolam o imaginário social e se tornam elementos fundamentais nas Representações sociais do Tráfico de drogas.
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A produção documental jornalística, não apenas registra os fatos vivenciados, mas reproduz/reforça formas de pensar peculiares, em um tempo e espaço, sendo rica fonte de pesquisa para as ciências humanas. Reunimos matérias e fragmentos de matérias da revista Veja, do período entre 1968 e 2010, que tratavam da temática. A seleção e coleta dos dados foram realizadas no site do acervo digital do semanário, a partir dos termos: tráfico, traficante e narcotráfico. O conjunto das matérias selecionadas foi depurado, a partir de uma leitura exploratória, incluindo-se um exemplar por mês, o que totalizou 321 itens. O corpus foi submetido à análise lexical desenvolvida com o auxílio do software ALCESTE. O dendrograma resultante da análise apresentou sete classes, organizadas em dois grandes grupos. Os elementos textuais bordejam o consumo de drogas; os efeitos individuais e sociais; a violência; a ameaça; e o combate ao tráfico de drogas; seus contextos e personagens. Tanto no cenário internacional como no nacional, a estratégia de proteção da identidade social dos grupos dominantes leva a construção de representações sociais do tráfico de drogas como algo que pertence ao estrangeiro ou ao grupo de fora. Assim, os subúrbios do globo ou os territórios da pobreza das grandes cidades brasileiras, são vistos como reservatório do risco das drogas, que se expressam de forma emblemática nas favelas e prisões. A figura do drogado não representa a principal preocupação do Estado, os inimigos a serem combatidos são os produtores do mal, agricultores ou traficantes de drogas. A maior parte das matérias se organiza em torno de argumentos técnico-científicos de especialistas, características do sistema de comunicação de difusão, que resgatam e reeditam teses científicas eugênicas e higienistas, nascidas no século XIX, e que embasam a discriminação das classes perigosas. Quando o tráfico de drogas é representado como coisa de pobre, os consumidores da classe média e alta se mantêm a salvo da crítica social. São pouquíssimas as reportagens que trazem elementos contrastantes, criticando a vitimização da classe média no Brasil. Desta forma, compreendemos que a mídia é importante instrumento de disseminação de versões dos fatos sociais, contribuindo para a construção do reservatório de significados atribuídos ao fenômeno, materializando personagens marginalizados e sem controle, que assolam o imaginário social e se tornam elementos fundamentais nas Representações sociais do Tráfico de drogas.This paper focuses on one of the criminal activities with higher expression in Brazilian media, the drug traffic. Its social, economical, political and organizational structures have aroused the interest of a great number of scholars. The research conducted has exploratory and documentary feature, and seeks to comprehend the process of social construction of the phenomenon throughout the country recent history. We intend to identify and describe the elements present in drug traffic Social Representations, aiming to comprehend the relations between social representations and the intergroup identity dynamics, that is reflected in mass media production and greatly contribute to the relations and social inequalities. The journalistic documentary production not only records the events experienced, but plays / reinforce peculiar ways of thinking, in a time and space, being a rich source of research for human sciences. We gathered reportage and fragments of reportage from Veja Magazine from the period between 1968 and 2010 which dealt with the theme. The data selection and collection were performed at the website digital collection; from the terms traffic, trafficker and drug trafficking. The selected set of reportages was stripped from an exploratory reading, including one exemplary per month, what totalized 321 items. The corpus was submitted to lexical analysis, developed with the aid of ALCESTE software. The analysis resulting dendrogram showed seven classes, organized in two big groups. The textual elements cover drugs consumption; the social and individual effects; the violence; the threat; and the combat over drug traffic, its contexts and characters. Both in the international and national levels, the protection strategy of social identity of the dominant groups leads to construction of social representations of drug trafficking as something that belongs to the foreign or to the out group. Thus, the globe "suburbs" or poverty territories of large cities are seen as a reservoir of the risk of drugs, which are expressed emblematically in the slums and prisons. The figure of drug user is not the main concern of the state. The enemies to be combated are the "producers of evil", farmers or drug dealers. Most reportages are organized around technical-scientific arguments of experts, features of the communication system of broadcasting that restore and re-edit scientific eugenic and hygienists theories, which were born in the nineteenth century, and support discrimination against "dangerous classes" . When the drug trade is represented as "thing of poor people", consumers of middle and upper class remain safe from social criticism. Very few stories bring contrasting elements, criticizing the victimization of the middle class in Brazil. Thus, we understand that the media is an important tool for dissemination of versions of social factors, contributing to the construction of the reservoir of meanings attributed to the phenomenon, materializing marginalized and without control characters, which plague the social imagination and become key elements in Social Representations of Drug Traffic.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGVeja (Revista) esesráfico de drogasRepresentações sociaisPsicologiaTráfico de drogasALCESTERevista VejaRepresentações sociais"Pau neles, não nos nossos ": as representações sociais do tráfico de drogas na revista Veja (1968-2010) e suas implicações nas dinâmicas identitáriasinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALoliveira._f_pau_neles__n_o_nos_nossos.pdfapplication/pdf7701380https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-9NSGE6/1/oliveira._f_pau_neles__n_o_nos_nossos.pdf3205429161c85218d7bcbe59698bf198MD51TEXToliveira._f_pau_neles__n_o_nos_nossos.pdf.txtoliveira._f_pau_neles__n_o_nos_nossos.pdf.txtExtracted texttext/plain358165https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-9NSGE6/2/oliveira._f_pau_neles__n_o_nos_nossos.pdf.txtcba22dadc7b54b80fdb95c0931360652MD521843/BUOS-9NSGE62019-11-14 11:50:53.398oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUOS-9NSGE6Repositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T14:50:53Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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