A constituição simbólica de um acontecimento: uma análise do processo de individualização do Mensalão

• Ano de defesa: 2011
• Autor(a) principal: Maria Terezinha da Silva
• Orientador(a): Vera Regina Veiga Franca, Jean Mouchon
• Banca de defesa: Elton Antunes, Maria Helena Weber, Marta Regina Maia
• Tipo de documento: Tese
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Universidade Federal de Minas Gerais
• Palavras-chave em Português: Personalização da corrupção; Mensalão; Mídias e política; Folha de São Paulo; Escândalo; Acontecimento; Transgressão; Enquadramento; Problemas públicos
• Link de acesso: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-8VEKVG

Nesta pesquisa estudamos o processo de constituição simbólica do Mensalão, um dos acontecimentos mais importantes da história política recente do Brasil, ocorrido em 2005, e que teve ampla repercussão pública e midiática. Procuramos, mais especificamente, identificar a forma como ele é individualizado, ganhando uma significação e uma identidade enquanto acontecimento singular. Partimos de uma exploração das propostas teóricas sobre o escândalo, categoria que geralmente nomeia este tipo de ocorrência. Destacamos e integramos três perspectivas que consideramos complementares (Thompson, 2002; Adut, 2005; e De Blic e Lemieux, 2005), que indicam quatro elementos constitutivos de um escândalo: uma transgressão a normas e valores sociais; sua revelação e reações públicas; e consequências para atores e instituições implicadas. Um escândalo, porém, é uma forma de classificar e tratar uma ocorrência que, por suas características de imprevisibilidade e impacto, aparece como um acontecimento: algo que provoca uma ruptura na experiência de indivíduos e/ou coletividades, que, afetados, buscam definir e compreender o que aconteceu, atuam para tratar a situação e recompor a continuidade da experiência. Assim, nos apoiamos na abordagem do acontecimento proposta por Louis Quéré (1997; 2005) e dela retiramos os operadores analíticos para estudar o Mensalão: a descrição, a narração, a dimensão pragmática, os problemas públicos expostos e a normalização do acontecimento. Aplicamos esta grade analítica sobre um corpus de 1.269 textos jornalísticos, selecionados da cobertura feita pelo jornal Folha de S. Paulo entre junho e dezembro de 2005. Através de uma análise qualitativa deste material discursivo, identificamos e analisamos o processo de individualização do Mensalão: 1) a descrição, que revela, entre outros aspectos, a disputa entre os atores pelo enquadramento do acontecimento (escândalo; crise; disputa eleitoral antecipada; e tentativa de golpe); 2) a narração, que indica Roberto Jefferson e José Dirceu como principais protagonistas e mostra os diferentes passados (impeachment de Collor em 1992, golpe de 1964, etc.) e futuros convocados para este acontecimento (eleições presidenciais de 2006, etc.); 3) a dimensão pragmática, com as ações constitutivas deste tipo de ocorrência (denúncias e 6 acusações; investigações, defesas, depoimentos; recomposição de apoios políticos; manifestações públicas, etc.); 4) a comercialização do apoio político e a prática de caixa dois de campanha eleitoral como principais problemas públicos expostos, a maneira como são tratados pelos atores e a forma como os enquadramentos mobilizados condicionam o tratamento do problema; e 5) a normalização do acontecimento através da punição de alguns dos implicados nas denúncias. A radiografia da construção narrativa e do processo de normalização do acontecimento mostra como os problemas públicos revelados foram diluídos na personalização do problema da corrupção.