Diagnóstico epidemiológico da esporotricose em Belo Horizonte, Minas Gerais, 2015 a 2018

• Ano de defesa: 2019
• Autor(a) principal: Lívian Otávio Lecca
• Orientador(a): Danielle Ferreira de Magalhães Soares
• Banca de defesa: Kelly Moura Keller, Elisa Helena Paz Andrade, Maria Helena Franco Morais, Maria Isabel de Azevedo
• Tipo de documento: Dissertação
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Universidade Federal de Minas Gerais
• Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Ciência Animal
• Departamento: VET - DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA PREVENTIVA
• País: Brasil
• Palavras-chave em Português: Epidemiologia; Saúde Pública
• Link de acesso: http://hdl.handle.net/1843/48655

Esporotricose é uma micose cutânea causada por fungos dimórficos pertencentes ao complexo Sporothrix schenckii. Seu potencial de transmissão zoonótica, quase sempre envolvendo gatos como fonte de infecção, vem se tornando um problema de saúde pública no Brasil. O objetivo deste estudo foi investigar a ocorrência da esporotricose felina em Belo Horizonte, Minas Gerais, com ênfase na Regional Barreiro, onde os primeiros casos humanos e animais foram relatados, a fim de identificar áreas prioritárias de ações. A Regional Barreiro é a maior área administrativa de Belo Horizonte, onde a população felina vem crescendo consideravelmente ao longo dos anos. Foi realizado um estudo epidemiológico observacional, descritivo e prospectivo, com realização de diagnóstico laboratorial para esporotricose em gatos e posterior análise espacial dos casos, nos anos de 2016 a 2018, nessa regional. Adicionalmente, foram realizados outros dois estudos: um retrospectivo com aplicação de questionários a estabelecimentos veterinários da regional para obtenção dos casos atendidos entre 2015 e 2018 para complementação do diagnóstico situacional e noções de dispersão da doença ao longo dos anos; e mapeamento de todos os casos felinos diagnosticados entre 2015 e 2018, obtidos por diferentes fontes, juntamente aos casos humanos notificados pela Prefeitura de Belo Horizonte (PBH) entre 2016 e 2018, na mesma área, a fim de analisar a relação entre os casos e o possível caráter zoonótico da transmissão. Na fase de investigação domiciliar, foi realizada busca ativa de gatos suspeitos de esporotricose, com posterior aplicação de questionário e coleta de material para análise laboratorial confirmatória. As amostras obtidas de lesões ulceradas foram submetidas à cultura micológica a partir de sua semeadura nos meios Brain Heart Infusion Ágar (BHI), incubado a 36oC e Sabouraud Dextrose Ágar (SDA) acrescido ou não de cloranfenicol, incubado a 25oC. Foram avaliados os fatores de risco das variáveis presentes nos questionários e mapeados os casos encontrados. Foram submetidos à coleta de amostras 152 gatos, dos quais 90 (59,21%) foram positivos no teste laboratorial, 28 (18,42%) positivos nos critérios clínico-epidemiológicos e 34 (22,37%) negativos no teste laboratorial e nos critérios clínico-epidemiológicos. Houve associação estatisticamente significativa entre o resultado positivo para esporotricose e as seguintes variáveis: acesso à rua (IC95% 3,0212; p=0,0324), bom estado corporal (IC95% 0,2588; p=0,0098), presença de lesão ulcerada (IC95% 4,6666; p=0,0061), presença de lesão em cicatrização (IC95% 0,1216; p=0,0011), presença de lesão em membros (IC95% 2,8619; p=0,0185), sinais respiratórios (IC95% 4,0124; p=0,0057), presença de jardim e/ou vasos de plantas (IC95% 2,2518; p=0,0316) e óbito (IC95% 6,3097; p=0,0000). Houve associação estatisticamente significativa entre as variáveis estado corporal (IC95% 0,1558; p=0,0001) e extensão das lesões (IC95% 3,6315; p=0,0018) com a ocorrência de óbito. A prevalência encontrada foi de 8,36‰, coeficiente de mortalidade de 4,6‰ e taxa de letalidade de 55,08%. Dos 26 estabelecimentos veterinários do Barreiro, 22 (84,6%) aceitaram participar do estudo. Desses, 86,36% (19/22) possuíam casos registrados de esporotricose no período, totalizando 282 gatos atendidos com a doença nos últimos quatro anos. Ao longo dos anos analisados, percebeu-se tendência de crescimento dos casos. Na análise da relação espacial entre os casos humanos e animais, foram contabilizados 186 gatos e 56 pessoas, estando distribuídos por toda a regional. Os casos felinos concentraram-se nas Áreas de Abrangência Diamante/Teixeira Dias, Regina, Barreiro de Baixo e Tirol, que somam juntas 57,52% dos casos no período. Os casos humanos concentram-se nas Áreas de Abrangência Lindeia, Diamante/Teixeira Dias e Barreiro de Baixo, com destaque para a primeira. As três áreas somam 62,49% dos casos humanos. A partir dos resultados obtidos, pode-se concluir que a esporotricose é uma zoonose que está presente em Belo Horizonte e em crescimento em uma área de grande densidade populacional, com casos em humanos e gatos, com prognóstico desfavorável para os gatos. Por isso é necessária adoção de medidas pelo poder público, a fim de identificar os casos humanos e animais, possibilitar sua notificação e, assim, evitar que essa zoonose alcance níveis epidêmicos na capital. Para tanto, são necessárias também ações para conscientização de tutores e médicos veterinários.