Aos amigos o Direito, aos inimigos a lei: mandonismo, coronelismo, júri e cangaço na literatura de José Lins do Rego

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2017
Autor(a) principal: João Paulo Mansur
Orientador(a): Ricardo Sontag
Banca de defesa: Vitor Bartoletti Sartori, Ivan de Andrade Vellasco
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Minas Gerais
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/1843/BUOS-ASXFYE
Resumo: O romancista brasileiro José Lins do Rego Cavalcanti (1901-1957) nasceu na casagrande de um engenho de cana-de-açúcar. Seu avô materno, que era dono de seis engenhos, descendia de um tronco familiar que possuía muitas propriedades na região aos arredores da sede do município do Pilar-PB, chegando a ultrapassar a fronteira com Pernambuco para alcançar Timbaúba e Itambé. Seus familiares, além de serem socioeconomicamente poderosos, dominaram a política daqueles municípios durante os primeiros anos do século XX, assim como angariaram cargos de deputado estadual e de desembargador de justiça na Parahyba do Norte e no Recife. Quando, na década de 1930, José Lins do Rego iniciou sua carreira como romancista, denominou seus cinco primeiros livros como Ciclo da cana-deaçúcar, conjunto de obras que, em tom autobiográfico e memorialístico, resgatou o mundo dos engenhos em que ele viveu na infância. O Ciclo do cangaço, misticismo e seca é outro conjunto de obras do autor que retrata o ambiente nordestino, entrando, porém, no sertão. Esta dissertação se propõe a utilizar a literatura de José Lins do Rego, principalmente, no que se refere a esses dois Ciclos, para estudar a relação entre o poder privado dos senhores de engenho e o direito estatal na Primeira República. Desde o Império, o Brasil incorporou o moderno projeto do absolutismo jurídico. As leis estatais deveriam ser, doravante, o guia categórico na regulação da vida social e na resolução dos conflitos. Isso implicou transformações na forma como os senhores de engenho administravam o mandonismo e a ordem privada em suas terras. Também colocou os senhores de engenho em disputas eleitorais, por vezes, fraudulentas e facinorosas, que visavam ao controle político das instituições estatais - do chefe de polícia, do júri, do fiscal de tributos, etc. Eis o coronelismo. Com auxílio da historiografia de Gilberto Freyre, amigo íntimo e mentor intelectual do romancista, esta dissertação analisa a visão de mundo de José Lins do Rego acerca desses fenômenos sociais. Tradicionalista, o romancista sentia saudade do mundo dos engenhos, que se desmoronava com a industrialização e com a urbanização do início do século XX. A figura do senhor de engenho, arbitrário, mas, em sua visão, capaz de ser solidário e de construir uma ordem privada, desaparecia perante o moderno direito impessoal e individualista promovido pelas leis estatais. Mas, em uma literatura cheia de tensões internas, Rego também era capaz de denunciar as violências das disputas políticas coronelistas, que inclusive levavam, por vezes, ao envolvimento dos senhores de terras com cangaceiros.
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Quando, na década de 1930, José Lins do Rego iniciou sua carreira como romancista, denominou seus cinco primeiros livros como Ciclo da cana-deaçúcar, conjunto de obras que, em tom autobiográfico e memorialístico, resgatou o mundo dos engenhos em que ele viveu na infância. O Ciclo do cangaço, misticismo e seca é outro conjunto de obras do autor que retrata o ambiente nordestino, entrando, porém, no sertão. Esta dissertação se propõe a utilizar a literatura de José Lins do Rego, principalmente, no que se refere a esses dois Ciclos, para estudar a relação entre o poder privado dos senhores de engenho e o direito estatal na Primeira República. Desde o Império, o Brasil incorporou o moderno projeto do absolutismo jurídico. As leis estatais deveriam ser, doravante, o guia categórico na regulação da vida social e na resolução dos conflitos. Isso implicou transformações na forma como os senhores de engenho administravam o mandonismo e a ordem privada em suas terras. Também colocou os senhores de engenho em disputas eleitorais, por vezes, fraudulentas e facinorosas, que visavam ao controle político das instituições estatais - do chefe de polícia, do júri, do fiscal de tributos, etc. Eis o coronelismo. Com auxílio da historiografia de Gilberto Freyre, amigo íntimo e mentor intelectual do romancista, esta dissertação analisa a visão de mundo de José Lins do Rego acerca desses fenômenos sociais. Tradicionalista, o romancista sentia saudade do mundo dos engenhos, que se desmoronava com a industrialização e com a urbanização do início do século XX. A figura do senhor de engenho, arbitrário, mas, em sua visão, capaz de ser solidário e de construir uma ordem privada, desaparecia perante o moderno direito impessoal e individualista promovido pelas leis estatais. Mas, em uma literatura cheia de tensões internas, Rego também era capaz de denunciar as violências das disputas políticas coronelistas, que inclusive levavam, por vezes, ao envolvimento dos senhores de terras com cangaceiros.The Brazilian novelist José Lins do Rego Cavalcanti (1901-1957) was born in the farmhouse (casa-grande) of a northeastern sugar cane farm. His maternal grandfather, who was owner of six sugar cane farms (engenhos), descended from a family trunk that had many properties in the region around the headquarters of the municipality of Pilar-PB, and, overtaking the border with Pernambuco, in the region of Timbaúba and Itambé. His relatives, in addition to being socioeconomically powerful, they dominated the politics of those municipalities during the first years of the twentieth century, as well as they had obtained positions of state deputy and judge in Parahyba do Norte and Recife. When, in the 1930s, José Lins do Rego began his career as a novelist, he named his first five books as "Sugar cane cycle", a series of works that, in an autobiographical and memorialistic tone, rescued the world of sugar cane farms in which he had lived his childhood. The "Cangaço, mysticism and drought cycle" is another set of works written by the author that portrays the Brazilian northeast, however, entering the dry hinterlands. This dissertation proposes to use the literature of José Lins do Rego, mainly in relation to these two "cycles", to study, in the Brazilian First Republic, the relationship between the private power of sugar cane farmers and the law made by the State. Since the Empire, Brazil has incorporated the modern project of legal absolutism. The laws made by the State should be, henceforth, the categorical guide in regulating social life and in resolving conflicts. This implied transformations in the way with the farmers managed their bossy leadership ("mandonismo") and the private order in their lands. It also put sugar cane farmers in electoral disputes, sometimes fraudulent and virulent, that aimed at the political control of the State institutions - the police chief, the jury, the tax inspector, etc. Here is the "coronelismo". Traditionalist, the novelist missed the world of sugar cane farms with their archaic mills, which has crumbled with the industrialization and urbanization in the early twentieth century. The image of the sugar cane farmer, arbitrary, but, in his view, capable to support people in need and of building a private order, has disappeared in front of the impersonal and individualist modern law promoted by the State. But, in a literature filled with internal tensions, Rego was also able to denounce the violence of the political disputes, that, sometimes, led to the involvement between landowners and itinerant bandits, who were named "cangaceiros".Universidade Federal de Minas GeraisUFMGCoronelismoJúriDireito HistoriaCoronelismoJúriCangaçoJosé Lins do Rego (1901-1957)MandonismoHistória do DireitoAos amigos o Direito, aos inimigos a lei: mandonismo, coronelismo, júri e cangaço na literatura de José Lins do Regoinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALdisserta__o_jo_o_paulo_mansur._fd._ufmg._pdf.pdfapplication/pdf1623625https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-ASXFYE/1/disserta__o_jo_o_paulo_mansur._fd._ufmg._pdf.pdf7e703f13dfe8ece4775c4115282772afMD51TEXTdisserta__o_jo_o_paulo_mansur._fd._ufmg._pdf.pdf.txtdisserta__o_jo_o_paulo_mansur._fd._ufmg._pdf.pdf.txtExtracted texttext/plain738786https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/BUOS-ASXFYE/2/disserta__o_jo_o_paulo_mansur._fd._ufmg._pdf.pdf.txt0876b061debfed0c0340f8e618e5e921MD521843/BUOS-ASXFYE2022-02-03 12:38:48.494oai:repositorio.ufmg.br:1843/BUOS-ASXFYERepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2022-02-03T15:38:48Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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