Dividir em Comum: Práticas costumeiras de transmissão do patrimônio familiar no Médio Jequitinhonha - MG

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2008
Autor(a) principal: Raquel Oliveira Santos Teixeira
Orientador(a): Andrea Luisa Moukhaiber Zhouri
Banca de defesa: Eduardo Viana Vargas, Eliane Cantarino Odwyer
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Federal de Minas Gerais
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://hdl.handle.net/1843/VCSA-888FKH
Resumo: As chamadas terras de herança do Médio Jequitinhonha se constituíram a partir de relações complexas que, de saída, articularam processos e modalidades hegemônicas de apropriação do espaço às formas locais colonizadas de produção dos territórios sociais (LITTLE, 2002). A exposição às experiências históricas de expropriação e a exigüidade de seu território, que não encontra terras livres à sua expansão, conformaram um quadro de intenso agenciamento sobre a disposição e a transmissão da terra, compondo uma gramática local de costumes sucessórios orientados para a garantia da reprodução social das famílias. Este trabalho procura examinar as práticas costumeiras de gestão desses territórios, enfatizando três tipos de estratégias articuladas à herança: as uniões matrimoniais; a migração e a transação de direitos. O material etnográfico da pesquisa sugere que a herança não pode ser traduzida por um conjunto sistemático de regras exteriores aos agentes, estáveis, coerentes e coercivas. Ao contrário, como aponta Wittgenstein (1994), a noção de regra que se torna pertinente está relacionada ao domínio da prática, posto que está incorporada nos sujeitos e se realiza por meio de suas ações. É, portanto, a partir das contribuições do conhecimento praxiológico (BOURDIEU, 1983) que situamos este estudo, examinando a transmissão do patrimônio no Médio Jequitinhonha. Os arranjos produzidos no sistema de herança local demonstram que a consideração, o respeito e a exclusão do estrangeiro são, nessa perspectiva, regras não codificadas a que chamamos costume. Elas operam como uma espécie de conhecimento tácito ou competência subjacente que orienta as escolhas e realiza a conformação das práticas às expectativas locais. A hipótese é a de que tais estratégias de gestão do patrimônio estão assentadas sob um corpus prático (WITTGENSTEIN, 1994), costumeiro (THOMPSON, 1998) e localizado (ESCOBAR, 2005) cujas expressões tomam a forma de disposições éticas e afetivas articuladas ao discurso genealógico e à memória coletiva, registros estes que asseveram a legitimidade de seus direitos territoriais.
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Este trabalho procura examinar as práticas costumeiras de gestão desses territórios, enfatizando três tipos de estratégias articuladas à herança: as uniões matrimoniais; a migração e a transação de direitos. O material etnográfico da pesquisa sugere que a herança não pode ser traduzida por um conjunto sistemático de regras exteriores aos agentes, estáveis, coerentes e coercivas. Ao contrário, como aponta Wittgenstein (1994), a noção de regra que se torna pertinente está relacionada ao domínio da prática, posto que está incorporada nos sujeitos e se realiza por meio de suas ações. É, portanto, a partir das contribuições do conhecimento praxiológico (BOURDIEU, 1983) que situamos este estudo, examinando a transmissão do patrimônio no Médio Jequitinhonha. Os arranjos produzidos no sistema de herança local demonstram que a consideração, o respeito e a exclusão do estrangeiro são, nessa perspectiva, regras não codificadas a que chamamos costume. Elas operam como uma espécie de conhecimento tácito ou competência subjacente que orienta as escolhas e realiza a conformação das práticas às expectativas locais. A hipótese é a de que tais estratégias de gestão do patrimônio estão assentadas sob um corpus prático (WITTGENSTEIN, 1994), costumeiro (THOMPSON, 1998) e localizado (ESCOBAR, 2005) cujas expressões tomam a forma de disposições éticas e afetivas articuladas ao discurso genealógico e à memória coletiva, registros estes que asseveram a legitimidade de seus direitos territoriais.The known inheritance lands in the Medium Jequitinhonha Valley were constituted by complex relations which, at the very beginning, articulated hegemonic processes and models of appropriation to the colonized local forms dedicated to the production of social territories (LITTLE, 2002). The exposure to expropriative historical experiences and the reduction of their territory, which can not find free lands to their expansion, shaped a frame of intense activity over the disposition and transmittion ofthe land, resulting in local successory customs which attempt to retain and perpetuate the patrimony for the safety and social reproduction of the families. This dissertation seeks to investigate the customary management practices of these territories. Doing so, we emphasize three types of strategies articulated in the inheritance system: marriage,migration and the transaction of rights. The ethnographic material suggests that the heritage can not be translated into a systematic code constructed of rules which are coherent, established and coercive. On the contrary, according to Wittgensteins approach (1994), the notion of rule is related to domain of practice, therefore it is incorporated by the agents, producing itself through the actions and choices made by them. Following the praxiologic knowledge of Bourdieus analysis (1983) we situate this study, examining the transmittion of the patrimony, in the Medium Jequitinhonha. The arrangements produced by the inheritance local system indicates that the consideração, the respect and the exclusion of the foreigner are, in this perspective, non-codified rules, which we call customs. They operate as tacit knowledge whichorients the choices and produces adjustment between the acts and local expectations. The hypothesis is that these strategies are based on practical (WITTGENSTEIN, 1994), customary (THOMPSON, 1998) and localized knowledge (ESCOBAR, 2005) whose expressions takes the form of ethical and affective dispositions which are articulated intheir genealogic discourse and collective memory. Both are registers that ensure the legitimacy of their territorial rights.Universidade Federal de Minas GeraisUFMGSociologiaHerança e sucessãoTrabalho familiarPosse da terraUsos e costurmesHerançaVale do JequitinhonhaCostumeDividir em Comum: Práticas costumeiras de transmissão do patrimônio familiar no Médio Jequitinhonha - MGinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da UFMGinstname:Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)instacron:UFMGORIGINALdisserta__o_raquel_oliveira_santos_teixeira.pdfapplication/pdf1473414https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/VCSA-888FKH/1/disserta__o_raquel_oliveira_santos_teixeira.pdf7b8457fcc8f2fd78963b673e8d47a324MD51TEXTdisserta__o_raquel_oliveira_santos_teixeira.pdf.txtdisserta__o_raquel_oliveira_santos_teixeira.pdf.txtExtracted texttext/plain389085https://repositorio.ufmg.br/bitstream/1843/VCSA-888FKH/2/disserta__o_raquel_oliveira_santos_teixeira.pdf.txt215f6b3b2cb67c42ca66fcdfa0438f8fMD521843/VCSA-888FKH2019-11-14 09:34:50.997oai:repositorio.ufmg.br:1843/VCSA-888FKHRepositório de PublicaçõesPUBhttps://repositorio.ufmg.br/oaiopendoar:2019-11-14T12:34:50Repositório Institucional da UFMG - Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)false
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