Ambiente alimentar escolar: uma análise da efetividade de intervenções e dos aspectos econômicos de cantinas escolares de modelos tradicionais e saudáveis

• Ano de defesa: 2022
• Autor(a) principal: Luísa Arantes Vilela
• Orientador(a): Larissa Loures Mendes
• Banca de defesa: Bruna Vieira de Lima Costa, Vanessa Ramos Kirsten
• Tipo de documento: Dissertação
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Universidade Federal de Minas Gerais
• Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Nutrição e Saúde
• Departamento: ENF - DEPARTAMENTO DE NUTRIÇÃO
• País: Brasil
• Palavras-chave em Português: Alimentação escolar; Dieta saudável; Alimentos industrializados; Ambiente construído
• Link de acesso: http://hdl.handle.net/1843/48485

Introdução: O ambiente alimentar de escolas privadas tem sido caracterizado como um ambiente obesogênico devido à maior disponibilidade e publicidade de alimentos ultraprocessados. Intervenções multicomponentes e regulamentações que visam restrições na comercialização e publicidade desses alimentos nas escolas parecem ser promissoras para a prevenção da obesidade. Entretanto, uma das barreiras que pode ser encontrada para a implementação de cantinas saudáveis é a maior resistência por parte dos gestores de cantinas devido à crença quanto à inviabilidade econômica dos modelos saudáveis. Objetivo: Analisar a efetividade de intervenções no ambiente alimentar escolar sobre o consumo alimentar e os desfechos de saúde de crianças e adolescentes e os aspectos econômicos e comerciais de cantinas escolares de uma metrópole brasileira. Métodos: Foi conduzida uma revisão sistemática de intervenções randomizadas ou quase-experimentais, sem restrição de idioma e data de publicação. A análise da qualidade metodológica dos estudos foi realizada em duplicata por meio das ferramentas ROBINS-I e Rob 2.0. A qualidade geral da evidência foi avaliada por meio do sistema GRADE. Os dados foram extraídos separadamente, em duplicata, e foram agrupados por meio de meta-análise com base em modelos de efeito fixo ou aleatório. Adicionalmente, foi realizado um estudo de caso que contemplou 36 empresas do setor de cantinas escolares em uma metrópole brasileira. Foram coletadas informações sobre os aspectos econômicos, financeiros e relacionados aos alimentos comercializados nas cantinas por meio de um questionário eletrônico. A classificação dos itens comercializados nas cantinas considerou a extensão e o propósito do processamento dos alimentos, conforme a Classificação NOVA. A caracterização e definição de cantinas tradicionais e cantinas saudáveis foi proposta considerando o percentual de alimentos in natura ou minimamente processados e preparações culinárias sem a presença de ultraprocessados; o percentual de alimentos ultraprocessados ou alimentos processados ou preparações culinárias com a presença de alimentos ultraprocessados; e a existência de alimentos proibidos. A análise econômica e financeira foi realizada principalmente por meio da avaliação da lucratividade. Teste de Mann-Whitney e Teste do Qui-Quadrado/Exato de Fisher foram realizados. Resultados: A revisão sistemática contemplou 21 estudos e 10 deles foram incluídos na síntese quantitativa. As intervenções foram caracterizadas como multicomponentes em todos os estudos. A maior redução do índice de massa corporal (Δ z-score) (MD -0,10; IC 95% -0,19, -0,01; I² = 89%) e da circunferência da cintura (Δ cm) (MD: -0,67; IC 95% -0,92, –0,41; I² = 17%) foram apresentados pelo grupo intervenção. Alguns dos estudos incluídos também mostraram que intervenções podem reduzir a prevalência de sobrepeso e obesidade, relação cintura-quadril, colesterol total, triglicerídeos e ingestão de gordura saturada. No entanto, esses resultados devem ser interpretados com cautela, pois a qualidade das evidências relacionadas aos estudos variou de baixa a moderada. Em relação ao estudo de caso, 30 cantinas foram classificadas no modelo tradicional (83,33%) e seis no modelo saudável (16,67%). A mediana do percentual de alimentos in natura, minimamente processados e preparações culinárias comercializados foi maior entre as cantinas de modelo saudável, enquanto a mediana do percentual de alimentos ultraprocessados, processados ou preparações com a presença de ultraprocessados comercializados foi maior nas cantinas de modelo tradicional (p<0,05). Os resultados indicaram que a lucratividade nas cantinas saudáveis foi maior em comparação com as tradicionais (p<0,05). Conclusões: As intervenções que sugeriram mudanças no ambiente alimentar escolar mostraram evidências limitadas quanto aos fatores de risco para DCNT em crianças e adolescentes, denotando a necessidade de avaliações mais robustas. No estudo de caso, as cantinas escolares saudáveis apresentaram melhores resultados financeiros e econômicos em relação às cantinas tradicionais, com destaque para maior lucratividade. Assim, para criar ambientes de alimentação escolar promotores da saúde, recomenda-se que as intervenções envolvam toda a comunidade escolar de forma consistente, incluam a educação alimentar e nutricional no projeto político pedagógico escolar, forneçam apoio e treinamento aos proprietários e trabalhadores da cantina quanto à promoção de uma alimentação adequada e saudável, além de ser fundamental a implementação e o monitoramento de medidas regulatórias nacionais que abarquem escolas privadas. Reforça-se a necessidade de ações que esclareçam a viabilidade econômica e financeira da implementação de cantinas saudáveis nas escolas.