Afasta de mim esse cale-se: a medicalização na vida de pessoas usuárias de um CAPS AD

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Silva, Camilla de Melo
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso embargado
Idioma: por
Instituição de defesa: Universidade Estadual da Paraíba
Pró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa - PRPGP
Brasil
UEPB
Programa de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde - PPGPS
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://tede.bc.uepb.edu.br/jspui/handle/tede/4660
Resumo: A história das drogas atravessou um longo percurso até elas serem compreendidas enquanto fenômeno social. O “mal da humanidade” como já foram declaradas em tantos momentos – em se tratando, é evidente, das ilícitas – é visto como grave problema de saúde pública e um constante desafio político e social – ainda que não seja novidade que existam lentes outras que são utilizadas para enxergar tal questão: lentes da moralidade, lentes da religiosidade, lentes da criminalidade. A partir do discurso da “guerra às drogas”, são viabilizadas práticas que, não sem violência, legitimam um regime de ódio que viola direitos, mina modos de existência e gera entraves nas possibilidades de cuidado, acolhimento e produção de autonomia. No Brasil, a partir da Luta Antimanicomial, os avanços da Reforma Psiquiátrica e a aprovação da lei 10.216/2001, são criados os serviços substitutivos ao modelo asilar. Dentre eles, os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPSad) devem oferecer atendimento diário para pessoas que fazem uso “problemático” de álcool e outras drogas, construindo planos de acolhimento terapêuticos singulares que deveriam ser pautados na Redução de Danos (RD) enquanto estratégia de cuidado. Tais serviços, no entanto, têm sofrido constantes ataques, compondo o hall de retrocessos aos quais tem sido duramente submetida a saúde mental brasileira. Apesar do descrito e proposto, os serviços substitutivos ainda lidam com o desafio de ultrapassar as estratégias terapêuticas advindas do modelo hospitalocêntrico-asilar. Dito isto, inquieta-nos o fato de que a medicamentalização ainda se apresente como sendo a principal estratégia adotada nos serviços que compõem a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Tais serviços veem-se atravessados por práticas medicalizantes e parecem não problematizar tal realidade. Assim, torna-se pertinente que pensemos a medicalização da vida para além da crítica ao saber médico e a prescrição abusiva de medicamentos para que possamos compreendê-la a partir de um jogo de forças que são representadas pelas Instituições, a Indústria, o Estado e pela própria sociedade. Dessa maneira, o presente trabalho de dissertação tem o objetivo de compreender como a medicalização se inscreve na vida das pessoas usuárias do CAPSad II de Campina Grande (PB). Para tal, os objetivos específicos são os seguintes: I) Analisar como usuários e usuárias constroem posicionamentos identitários de si e como estes posicionamentos estão articulados com a medicalização; II) Entender o lugar que a medicamentalização ocupa nos processos de cuidado dos usuários e usuárias do CAPSad II; e III) Identificar os sentidos produzidos pelo processo de medicalização. Para atender aos objetivos propostos, nos embasamos, teórica e metodologicamente, no estudo da produção de sentidos a partir da análise das práticas discursivas e da linguagem em uso (M. J. Spink, 2010a). Assumindo o caráter qualitativo da pesquisa, foi realizada a observação participante no campo-tema e, posteriormente, feita a análise de discurso dos diários de campo. A partir desse movimento, foi possível compreender como a medicalização está inscrita não somente nos processos de cuidado e “tratamento”, mas em experiências de vida que, embora tenham sido relatadas durante as atividades no CAPSad II, assim como em conversas que aconteceram em outros momentos no serviço, passam pelo crivo medicalizante que compõe o cotidiano das pessoas. Assim, identificamos que os sentidos construídos pela medicalização as posiciona, por exemplo, definindo se tais pessoas estão ou não aptas para o mercado de trabalho; legitima a violação de direitos; define o modo como estas são posicionadas por familiares e vizinhos; e se elas terão um lugar para morar – levando em conta a presença ou ausência da abstinência; como também as relações afetivas que poderão ou não ser vividas. Muito ouvimos falar sobre o “tratamento” enquanto uma espécie de script a ser seguido e enquanto pré-requisito para a reinserção numa engrenagem social que não admite desvios. Desse modo, de maneira geral, a medicalização mostrou-se presentificada em posicionamentos identitários tais como o das pessoas usuárias do CAPSad II como sendo “problemáticas”, “desamparadas”, “sem credibilidade”, “agressivas”, “sem rumo”, “sem perspectiva”, “com dificuldades” – posições estas que são legitimadas a partir dos discursos médico, moral, religioso e jurídico, todos componentes do mesmo fenômeno e perpetuados no imaginário social. Em contrapartida, enquanto possível ruptura/resistência aos estigmas (re)produzidos, as pessoas se posicionam enquanto “boas/bondosas”, “tranquilas”, “vencedoras”, “aptas para o trabalho”. Sobre a medicamentalização nos processos de cuidado, identificamos que esta ocupa um lugar central. A prescrição e o uso de medicamentos mostraram-se como sendo determinantes no serviço. A relação de “dependência”, o “controle” operado pelas drogas psiquiátricas, a manutenção da “estabilidade” e a relação com efeitos colaterais foram aspectos que surgiram. A diminuição do uso, uma possível retirada, assim como a busca por condições de manejo de questões do dia-a-dia também foram questões emergentes. Assim, partir das rupturas que se mostraram presentes no decorrer das análises, acreditamos que podemos investir forças coletivas no trabalho e na luta pela implementação de políticas públicas que pensem a promoção de saúde a partir da garantia de acesso à educação, à moradia, à alimentação, ao lazer, dentre outros direitos que, como estes, dizem das “necessidades (singulares) de saúde”.
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spelling Afasta de mim esse cale-se: a medicalização na vida de pessoas usuárias de um CAPS ADGet away from me this shut up: medicalization in the life of CAPS AD usersMedicalizaçãoMedicamentalizaçãoPosicionamentos identitáriosPráticas discursivasCIENCIAS HUMANAS::PSICOLOGIAA história das drogas atravessou um longo percurso até elas serem compreendidas enquanto fenômeno social. O “mal da humanidade” como já foram declaradas em tantos momentos – em se tratando, é evidente, das ilícitas – é visto como grave problema de saúde pública e um constante desafio político e social – ainda que não seja novidade que existam lentes outras que são utilizadas para enxergar tal questão: lentes da moralidade, lentes da religiosidade, lentes da criminalidade. A partir do discurso da “guerra às drogas”, são viabilizadas práticas que, não sem violência, legitimam um regime de ódio que viola direitos, mina modos de existência e gera entraves nas possibilidades de cuidado, acolhimento e produção de autonomia. No Brasil, a partir da Luta Antimanicomial, os avanços da Reforma Psiquiátrica e a aprovação da lei 10.216/2001, são criados os serviços substitutivos ao modelo asilar. Dentre eles, os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPSad) devem oferecer atendimento diário para pessoas que fazem uso “problemático” de álcool e outras drogas, construindo planos de acolhimento terapêuticos singulares que deveriam ser pautados na Redução de Danos (RD) enquanto estratégia de cuidado. Tais serviços, no entanto, têm sofrido constantes ataques, compondo o hall de retrocessos aos quais tem sido duramente submetida a saúde mental brasileira. Apesar do descrito e proposto, os serviços substitutivos ainda lidam com o desafio de ultrapassar as estratégias terapêuticas advindas do modelo hospitalocêntrico-asilar. Dito isto, inquieta-nos o fato de que a medicamentalização ainda se apresente como sendo a principal estratégia adotada nos serviços que compõem a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Tais serviços veem-se atravessados por práticas medicalizantes e parecem não problematizar tal realidade. Assim, torna-se pertinente que pensemos a medicalização da vida para além da crítica ao saber médico e a prescrição abusiva de medicamentos para que possamos compreendê-la a partir de um jogo de forças que são representadas pelas Instituições, a Indústria, o Estado e pela própria sociedade. Dessa maneira, o presente trabalho de dissertação tem o objetivo de compreender como a medicalização se inscreve na vida das pessoas usuárias do CAPSad II de Campina Grande (PB). Para tal, os objetivos específicos são os seguintes: I) Analisar como usuários e usuárias constroem posicionamentos identitários de si e como estes posicionamentos estão articulados com a medicalização; II) Entender o lugar que a medicamentalização ocupa nos processos de cuidado dos usuários e usuárias do CAPSad II; e III) Identificar os sentidos produzidos pelo processo de medicalização. Para atender aos objetivos propostos, nos embasamos, teórica e metodologicamente, no estudo da produção de sentidos a partir da análise das práticas discursivas e da linguagem em uso (M. J. Spink, 2010a). Assumindo o caráter qualitativo da pesquisa, foi realizada a observação participante no campo-tema e, posteriormente, feita a análise de discurso dos diários de campo. A partir desse movimento, foi possível compreender como a medicalização está inscrita não somente nos processos de cuidado e “tratamento”, mas em experiências de vida que, embora tenham sido relatadas durante as atividades no CAPSad II, assim como em conversas que aconteceram em outros momentos no serviço, passam pelo crivo medicalizante que compõe o cotidiano das pessoas. Assim, identificamos que os sentidos construídos pela medicalização as posiciona, por exemplo, definindo se tais pessoas estão ou não aptas para o mercado de trabalho; legitima a violação de direitos; define o modo como estas são posicionadas por familiares e vizinhos; e se elas terão um lugar para morar – levando em conta a presença ou ausência da abstinência; como também as relações afetivas que poderão ou não ser vividas. Muito ouvimos falar sobre o “tratamento” enquanto uma espécie de script a ser seguido e enquanto pré-requisito para a reinserção numa engrenagem social que não admite desvios. Desse modo, de maneira geral, a medicalização mostrou-se presentificada em posicionamentos identitários tais como o das pessoas usuárias do CAPSad II como sendo “problemáticas”, “desamparadas”, “sem credibilidade”, “agressivas”, “sem rumo”, “sem perspectiva”, “com dificuldades” – posições estas que são legitimadas a partir dos discursos médico, moral, religioso e jurídico, todos componentes do mesmo fenômeno e perpetuados no imaginário social. Em contrapartida, enquanto possível ruptura/resistência aos estigmas (re)produzidos, as pessoas se posicionam enquanto “boas/bondosas”, “tranquilas”, “vencedoras”, “aptas para o trabalho”. Sobre a medicamentalização nos processos de cuidado, identificamos que esta ocupa um lugar central. A prescrição e o uso de medicamentos mostraram-se como sendo determinantes no serviço. A relação de “dependência”, o “controle” operado pelas drogas psiquiátricas, a manutenção da “estabilidade” e a relação com efeitos colaterais foram aspectos que surgiram. A diminuição do uso, uma possível retirada, assim como a busca por condições de manejo de questões do dia-a-dia também foram questões emergentes. Assim, partir das rupturas que se mostraram presentes no decorrer das análises, acreditamos que podemos investir forças coletivas no trabalho e na luta pela implementação de políticas públicas que pensem a promoção de saúde a partir da garantia de acesso à educação, à moradia, à alimentação, ao lazer, dentre outros direitos que, como estes, dizem das “necessidades (singulares) de saúde”.The history of drugs has come a long way until drugs were understood as a social phenomenon. The “evil of humanity”, as they have been thought in so many moments - when dealing, of course, with illicit ones – is seen as a serious public health problem and as a constant political and social challenge – yet there are other lenses that are used to see this question: lenses of morality, lenses of religiosity, lenses of criminality. From “war on drugs” discourse, practices, scarcely non-violent, are made possible, and used to legitimize a hate regime that violates rights, undermines modes of existence, and poses obstacles for the possibilities of care, reception and production of autonomy. In Brazil, the Anti-asylum movement, advancements of the Psychiatric Reform, and the approval of Law 10.216/2001 have forced the creation of substitutes for asylum-based services. Psychosocial Care Centers for Alcohol and Other Drugs (CAPSad) are among such substitutions, whose work is to offer daily assistance to people who binge drink alcohol and “problematically” use other drugs, building unique therapeutic reception plans mandatorily based, until very recently, on Damage Reduction (DR) strategies. Such services, however, have faced constant attacks, making up the list of setbacks to which Brazilian mental health has been harshly subjected. Despite of what was described and proposed, substitutive services still deal with the challenge of overcoming therapeutic strategies inherited from the hospitalocentric model. Medicalization still presents itself as the main strategy adopted in the services that make up the Psychosocial Care Network (RAPS). Such services are crossed by medicalizing practices and do not seem to strain this reality. Thus, we have to consider medicalization of life beyond the criticism of medical knowledge and the abusive prescription of medicines so that we can understand it as a game of forces whose participants are, among others, Institutions, Industries, the State and society itself. Thereby, the present dissertation work aims at understanding how medicalization is inscribed in the lives of people who use CAPSad II in Campina Grande, in the State of Paraiba. In order to reach this purpose, we have adopted the following specific objectives: I) to analyze how users construct their own identity positionings and how these positionings are linked to medicalization; II) to understand the place that medication takes in the care processes of CAPSad II users; and III) to identify the meanings produced by the medicalization process. To meet these objectives, we are, theoretically and methodologically, based on the study of the production of meanings from the analysis of discursive practices and the language in use (M. J. Spink, 2010a). Considering the qualitative nature of this research, participant observation was performed in the theme field and, subsequently, discourse analysis of field diaries was carried out. So that it was possible to understand how medicalization is inscribed not only in the care and “treatment” processes, but in life experiences that, though reported during activities at CAPSad II, go through the medicalizing sieve that makes up people's daily lives. Findings show that meanings constructed by medicalization place people and define them, for example, indicating whether or not they are fit for the job market; they legitimize the violation of rights, and define how people are positioned by family members and neighbors, and whether or not they will have a place to live – taking into account the presence or absence of abstinence; as well as affective relationships that may or may not be experienced. "Treatment" is usually seen as a kind of script to be followed and as a prerequisite for reintegration into a social gear that does not allow deviations. So, in general, medicalization proved to be present in identity positionings such as in those of people using CAPSad II. For instance, they usually describe themselves as being "problematic", "helpless", "unreliable", "aggressive", "aimless", "hopeless", "troublesome" – positionings that are legitimized by medical, moral, religious, and legal discourses, all components of the same phenomenon, and perpetuated in social imagination. However, as possible rupture/resistance against stigmatization, people describe themselves as “good/kind”, “calm”, “winners”, “apt for work”. Regarding medicalization in the care processes, we identified that it plays a central role. The prescription and use of medications proved to be a determining factor in the service. "Dependence" and "control" relations operated by psychiatric drugs, maintenance of "stability" and side effects relations were aspects that emerged. The decrease in use, a possible withdrawal, as well as the search for conditions for handling daily issues also emerged. Based on ruptures that came up during the analyses, we believe that we can invest collective strength into the work and into the fight for the implementation of public policies that promote health through guaranteeing access to education, housing, food, leisure, among other rights that, like these, speak of “(unique) health needs”.Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPESUniversidade Estadual da ParaíbaPró-Reitoria de Pós-Graduação e Pesquisa - PRPGPBrasilUEPBPrograma de Pós-Graduação em Psicologia da Saúde - PPGPSVelôso, Thelma Maria Grisihttp://lattes.cnpq.br/1954214035034995Velôso, Thelma Maria Grisihttp://lattes.cnpq.br/1954214035034995Amorim, Ana Karenina de Melo Arraeshttp://lattes.cnpq.br/9847082748841264Oliveira Filho, Pedro dehttp://lattes.cnpq.br/2268597352863613Silva, Camilla de Melo2023-06-02T21:53:23Z2999-12-312020-12-18info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfSILVA, Camilla de Melo. 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description A história das drogas atravessou um longo percurso até elas serem compreendidas enquanto fenômeno social. O “mal da humanidade” como já foram declaradas em tantos momentos – em se tratando, é evidente, das ilícitas – é visto como grave problema de saúde pública e um constante desafio político e social – ainda que não seja novidade que existam lentes outras que são utilizadas para enxergar tal questão: lentes da moralidade, lentes da religiosidade, lentes da criminalidade. A partir do discurso da “guerra às drogas”, são viabilizadas práticas que, não sem violência, legitimam um regime de ódio que viola direitos, mina modos de existência e gera entraves nas possibilidades de cuidado, acolhimento e produção de autonomia. No Brasil, a partir da Luta Antimanicomial, os avanços da Reforma Psiquiátrica e a aprovação da lei 10.216/2001, são criados os serviços substitutivos ao modelo asilar. Dentre eles, os Centros de Atenção Psicossocial Álcool e Outras Drogas (CAPSad) devem oferecer atendimento diário para pessoas que fazem uso “problemático” de álcool e outras drogas, construindo planos de acolhimento terapêuticos singulares que deveriam ser pautados na Redução de Danos (RD) enquanto estratégia de cuidado. Tais serviços, no entanto, têm sofrido constantes ataques, compondo o hall de retrocessos aos quais tem sido duramente submetida a saúde mental brasileira. Apesar do descrito e proposto, os serviços substitutivos ainda lidam com o desafio de ultrapassar as estratégias terapêuticas advindas do modelo hospitalocêntrico-asilar. Dito isto, inquieta-nos o fato de que a medicamentalização ainda se apresente como sendo a principal estratégia adotada nos serviços que compõem a Rede de Atenção Psicossocial (RAPS). Tais serviços veem-se atravessados por práticas medicalizantes e parecem não problematizar tal realidade. Assim, torna-se pertinente que pensemos a medicalização da vida para além da crítica ao saber médico e a prescrição abusiva de medicamentos para que possamos compreendê-la a partir de um jogo de forças que são representadas pelas Instituições, a Indústria, o Estado e pela própria sociedade. Dessa maneira, o presente trabalho de dissertação tem o objetivo de compreender como a medicalização se inscreve na vida das pessoas usuárias do CAPSad II de Campina Grande (PB). Para tal, os objetivos específicos são os seguintes: I) Analisar como usuários e usuárias constroem posicionamentos identitários de si e como estes posicionamentos estão articulados com a medicalização; II) Entender o lugar que a medicamentalização ocupa nos processos de cuidado dos usuários e usuárias do CAPSad II; e III) Identificar os sentidos produzidos pelo processo de medicalização. Para atender aos objetivos propostos, nos embasamos, teórica e metodologicamente, no estudo da produção de sentidos a partir da análise das práticas discursivas e da linguagem em uso (M. J. Spink, 2010a). Assumindo o caráter qualitativo da pesquisa, foi realizada a observação participante no campo-tema e, posteriormente, feita a análise de discurso dos diários de campo. A partir desse movimento, foi possível compreender como a medicalização está inscrita não somente nos processos de cuidado e “tratamento”, mas em experiências de vida que, embora tenham sido relatadas durante as atividades no CAPSad II, assim como em conversas que aconteceram em outros momentos no serviço, passam pelo crivo medicalizante que compõe o cotidiano das pessoas. Assim, identificamos que os sentidos construídos pela medicalização as posiciona, por exemplo, definindo se tais pessoas estão ou não aptas para o mercado de trabalho; legitima a violação de direitos; define o modo como estas são posicionadas por familiares e vizinhos; e se elas terão um lugar para morar – levando em conta a presença ou ausência da abstinência; como também as relações afetivas que poderão ou não ser vividas. Muito ouvimos falar sobre o “tratamento” enquanto uma espécie de script a ser seguido e enquanto pré-requisito para a reinserção numa engrenagem social que não admite desvios. Desse modo, de maneira geral, a medicalização mostrou-se presentificada em posicionamentos identitários tais como o das pessoas usuárias do CAPSad II como sendo “problemáticas”, “desamparadas”, “sem credibilidade”, “agressivas”, “sem rumo”, “sem perspectiva”, “com dificuldades” – posições estas que são legitimadas a partir dos discursos médico, moral, religioso e jurídico, todos componentes do mesmo fenômeno e perpetuados no imaginário social. Em contrapartida, enquanto possível ruptura/resistência aos estigmas (re)produzidos, as pessoas se posicionam enquanto “boas/bondosas”, “tranquilas”, “vencedoras”, “aptas para o trabalho”. Sobre a medicamentalização nos processos de cuidado, identificamos que esta ocupa um lugar central. A prescrição e o uso de medicamentos mostraram-se como sendo determinantes no serviço. A relação de “dependência”, o “controle” operado pelas drogas psiquiátricas, a manutenção da “estabilidade” e a relação com efeitos colaterais foram aspectos que surgiram. A diminuição do uso, uma possível retirada, assim como a busca por condições de manejo de questões do dia-a-dia também foram questões emergentes. Assim, partir das rupturas que se mostraram presentes no decorrer das análises, acreditamos que podemos investir forças coletivas no trabalho e na luta pela implementação de políticas públicas que pensem a promoção de saúde a partir da garantia de acesso à educação, à moradia, à alimentação, ao lazer, dentre outros direitos que, como estes, dizem das “necessidades (singulares) de saúde”.
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