Sou um negro que correu para a polícia Carlos Magno Nazareth Cerqueira (1937-1999) e o sonho pedagógico de um novo policial

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2020
Autor(a) principal: Silva, Jefferson Basílio Cruz da
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Dissertação
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://app.uff.br/riuff/handle/1/15673
Resumo: Este trabalho propõe-se a estudar um personagem: Carlos Magno Nazareth Cerqueira (1937-1999). Policial, intelectual, formado em filosofia e psicologia, um dos pioneiros na formulação do policiamento comunitário no Brasil e primeiro Comandante-Geral negro da história da corporação, sendo um dos raros quadros da própria polícia e não do Exército a assumir o comando da Polícia Militar do Estado do Rio de Janeiro até então, em 1983. Ao lado dessas caracterizações pretende-se acrescentar mais uma: a de educador. Baseando-se na metodologia biográfica e no jogo de escalas, objetiva-se demonstrar como a dimensão intelectual do coronel fora articulada em diversos momentos com uma intencionalidade própria do discurso pedagógico, no sentido de alterar os parâmetros de uma formação policial a qual ele não via sentido. De uma formação dentro de uma mentalidade repressiva e guerreira baseada em uma noção de força, Cerqueira procurou fundamentalmente transformar a formação baseada numa ideia de serviço, de forma preventiva e em diálogo com a comunidade. Além disso, a produção de material didático, como manuais, cartilhas, revistas e os cadernos de polícia, a alteração nos currículos da formação de oficiais e praças, o investimento em uma editora própria da polícia, bem como da biblioteca, a tentativa de mudança na relação ensino- aprendizagem e a experiência do policiamento comunitário em si enquanto duplo eixo formador na relação entre polícia e comunidade são elementos que ao meu ver possibilitem uma interpretação de Cerqueira enquanto um educador não só perante a polícia, mas também diante da sociedade civil. Nesse sentido, no período dos seus comandos, o contexto de possibilidade (1983-1987) e consolidação (1991-1994) democrática é o atravessamento formativo nesta relação entre polícia e sociedade visto por Cerqueira como propício para a implementação de suas propostas. O ex comandante fora Secretário de Polícia Militar em um governo de orientações progressistas e comprometido com pautas caras às mulheres, à população negra e aos povos indígenas, no caso, o Partido Democrático Trabalhista do governador Leonel Brizola. Interpreto que esse contato fora uma inflexão no pensamento de Cerqueira para a polícia que tivera reverberações em seus comandos, em especial no segundo. Mais do que isso, porém, as demandas de um gestor público em um governo atento a grupos como o já mencionado movimento negro e que tinha integrantes nos quadros do mandato levara Cerqueira a um movimento de reavaliação de valores identitários próprios, como a ressignificação do racismo sofrido e da afirmação de sua negritude. Assim, tal dimensão e politização convergem em efeitos tanto pessoais quanto nas suas diretrizes para a polícia, em que isso fica nítido ao meu ver no segundo comando. A despeito de seus esforços para uma nova polícia e um novo policial serem a história de um fracasso, parafraseando o mesmo, e com o final do segundo comando ganhando tons de dramaticidade, Cerqueira mantivera-se ativo após sua experiência no governo pedetista. Cada vez mais amadurecido intelectual e politicamente, e mantendo-se preocupado com a formação policial, sua vida é interrompida tragicamente por um assassinato de circunstâncias mal resolvidas até o momento que escrevo
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Baseando-se na metodologia biográfica e no jogo de escalas, objetiva-se demonstrar como a dimensão intelectual do coronel fora articulada em diversos momentos com uma intencionalidade própria do discurso pedagógico, no sentido de alterar os parâmetros de uma formação policial a qual ele não via sentido. De uma formação dentro de uma mentalidade repressiva e guerreira baseada em uma noção de força, Cerqueira procurou fundamentalmente transformar a formação baseada numa ideia de serviço, de forma preventiva e em diálogo com a comunidade. Além disso, a produção de material didático, como manuais, cartilhas, revistas e os cadernos de polícia, a alteração nos currículos da formação de oficiais e praças, o investimento em uma editora própria da polícia, bem como da biblioteca, a tentativa de mudança na relação ensino- aprendizagem e a experiência do policiamento comunitário em si enquanto duplo eixo formador na relação entre polícia e comunidade são elementos que ao meu ver possibilitem uma interpretação de Cerqueira enquanto um educador não só perante a polícia, mas também diante da sociedade civil. Nesse sentido, no período dos seus comandos, o contexto de possibilidade (1983-1987) e consolidação (1991-1994) democrática é o atravessamento formativo nesta relação entre polícia e sociedade visto por Cerqueira como propício para a implementação de suas propostas. O ex comandante fora Secretário de Polícia Militar em um governo de orientações progressistas e comprometido com pautas caras às mulheres, à população negra e aos povos indígenas, no caso, o Partido Democrático Trabalhista do governador Leonel Brizola. Interpreto que esse contato fora uma inflexão no pensamento de Cerqueira para a polícia que tivera reverberações em seus comandos, em especial no segundo. Mais do que isso, porém, as demandas de um gestor público em um governo atento a grupos como o já mencionado movimento negro e que tinha integrantes nos quadros do mandato levara Cerqueira a um movimento de reavaliação de valores identitários próprios, como a ressignificação do racismo sofrido e da afirmação de sua negritude. Assim, tal dimensão e politização convergem em efeitos tanto pessoais quanto nas suas diretrizes para a polícia, em que isso fica nítido ao meu ver no segundo comando. A despeito de seus esforços para uma nova polícia e um novo policial serem a história de um fracasso, parafraseando o mesmo, e com o final do segundo comando ganhando tons de dramaticidade, Cerqueira mantivera-se ativo após sua experiência no governo pedetista. Cada vez mais amadurecido intelectual e politicamente, e mantendo-se preocupado com a formação policial, sua vida é interrompida tragicamente por um assassinato de circunstâncias mal resolvidas até o momento que escrevoCoordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível SuperiorThis work proposes to study one character: Carlos Magno Nazareth Cerqueira (1937-1999). Police officer, intellectual, philosophy and psychology graduate, one of the pioneers in the formulation of community policing in Brazil, and the first black Commander-General in the history of the corporation, being one of the rare officials of the police rather than the army to take command of the Military Police of Rio de Janeiro State until then, in 1983. Alongside these characterizations I intend to add one more: educator. Based on biographical methodology and on the game of scales, the objective is to show how the colonel’s intellectual depth was articulated with an intentionality particular to the pedagogical discourse in various moments, in an effort of changing the parameters of a police training that he considered senseless. Coming from a training with strength-based, warlike and repressive mentality, Cerqueira sought to fundamentally transform the police training, basing it in an idea of serving, working preventively and communicating with the community. Besides, the production of courseware, such as manuals, booklets, magazines and police journals, the change in the training curriculum of officers and enlisted personnel, the investment in a publisher for the police as well as a library, the effort to change the relationship between teaching and learning, and the experience of community policing being in itself a double axis in the relationship between the police and the community are the elements that enable my interpretation of Cerqueira as an educator not only before the police, but also before the civil society. In this sense, during his command, the context of democratic possibility (1983-1987) and consolidation (1991-1994) is the formative path in this relationship between police and society, seen by Cerqueira as favorable to the implementation of his proposals. The former commander was a Military Police Secretary in a government of progressive orientation and committed to policies dear to the women, to the black population and to the indigenous peoples, as was the case of the Worker’s Democrat Party (PDT) of governor Leonel Brizola. I understand that this contact was an inflection in the thought that Cerqueira had for the police that had reverberations in his tenures, especially the second. More than that, however, the demands of a public manager in a government that was alert to groups like the previously mentioned black movement and that had constituents in his tenure led Cerqueira to a movement of reevaluation of his own identity values, such as the resignification of the racism he suffered and the affirmation of his blackness. Thus, said dimension and politization converge in personal as well as police directive effects, which I understand becomes clearer in his second command. Despite his efforts to make a new police and a new police officer turning out a failure story, paraphrasing his words, and with a dramatic ending to his second tenure, Cerqueira remained active after his experience in the PDT government. Having intellectually and politically matured, and having remained worried with the police training, his life was tragically ended by an assassination of circumstances uncertain until this writing186 fAndrade, Everardo Paiva deSchueler, Alessandra Frota Martinez deSilva, Ana Paula Barcelos Ribeiro daCosta, Warley daSilva, Jefferson Basílio Cruz da2020-10-30T18:49:52Z2020-10-30T18:49:52Z2020info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/masterThesisapplication/pdfSILVA, Jefferson Basílio Cruz da. “Sou um negro que correu para a polícia" Carlos Magno Nazareth Cerqueira (1937-1999) e o sonho pedagógico de um novo policial. 2020. 186 f. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de Educação, Universidade Federal Fluminense, Niterói, 2020.https://app.uff.br/riuff/handle/1/15673openAccesshttp://creativecommons.org/licenses/by-nc-nd/3.0/br/CC-BY-SAinfo:eu-repo/semantics/openAccessporreponame:Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF)instname:Universidade Federal Fluminense (UFF)instacron:UFF2021-11-01T21:51:04Zoai:app.uff.br:1/15673Repositório InstitucionalPUBhttps://app.uff.br/oai/requestriuff@id.uff.bropendoar:21202021-11-01T21:51:04Repositório Institucional da Universidade Federal Fluminense (RIUFF) - Universidade Federal Fluminense (UFF)false
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