A biopolítica da fome na contemporaneidade: a invisibilidade da vida nua dos famintos e a valorização do animal laborans nas narrativas da revista Veja

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2023
Autor(a) principal: Bozi, Alba Lívia Tallon
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Não Informado pela instituição
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: http://app.uff.br/riuff/handle/1/30112
Resumo: Esta tese analisa a narrativa jornalística em torno da miséria e, mais precisamente, da fome enquanto sintoma dela decorrente considerando o discurso jornalístico como um indicador dos modos como a sociedade percebe e catalisa tal questão. O fenômeno social da fome e da miséria é examinado enquanto dispositivo de poder no mundo globalizado de fins do século XX e início do XXI. O quadro deplorável no qual se encontram milhões de pessoas configurase em meio aos paradoxos do capitalismo contemporâneo, que eleva o consumismo como valor moral ao mesmo tempo em que exacerba a exclusão do jogo econômico de grande parte da população. As questões desta tese são debatidas à luz dos conceitos de animal laborans, elaborado pela filósofa alemã Hannah Arendt em 1958, de biopoder, formulado pelo filósofo francês Michael Foucault na década de 1970, e vida nua, do filósofo italiano Giorgio Agambem, apresentado nos anos 1990. A articulação dessas três noções permite alavancar uma profunda reflexão sobre alguns dos grandes paradoxos do capitalismo contemporâneo. Para sustentar empiricamente a hipótese proposta, o objeto de pesquisa escolhido compreende as reportagens que tratam dos assuntos fome e miséria, publicadas entre os anos 1968 e 2012 na revista Veja periódico impresso semanal de maior circulação no Brasil e mais antigo neste segmento. A tese aqui defendida detecta e examina, por meio da análise dessas reportagens, certa naturalização do persistente problema da fome na sociedade contemporânea, que apesar de todos os avanços e conquistas obtidas no campo dos direitos humanos, das liberdades individuais e, inclusive, dos avanços econômicos e tecnocientíficos não reage nem toma medidas para solucionar tais mazelas que ainda afetam grande parte da população global. Além disso, certos discursos que atualmente circulam com crescente vigor, representados pelas reportagens da revista Veja, mostram que os famintos são responsabilizados por sua própria situação miserável, especialmente por eles não corresponderem ao ideal do empreendedorismo individual que rege a sociedade contemporânea. Ao mesmo tempo, são incluídos nos direitos considerados essenciais, numa tentativa de minimizar sequelas ao estilo de vida apoiado no consumismo e impulsionado pelo movimento dos mercados globais, num regime que fora batizado por Gilles Deleuze como sociedades de controle . Neste estudo, observam-se várias transformações nas narrativas jornalísticas ao longo do período abordado. Inicialmente, influenciadas pela concepção do Estado do bem-estar social, as coberturas tratam a questão sob um prisma político e ético. Com a ascensão do ideário neoliberal, porém, identifica-se a prioridade dada pelo periódico nas últimas duas décadas, que segue uma tendência percebida em outras publicações do gênero, a assuntos de interesse dos consumidores-cidadãos da atualidade em detrimento daquelas análises com viés social
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A tese aqui defendida detecta e examina, por meio da análise dessas reportagens, certa naturalização do persistente problema da fome na sociedade contemporânea, que apesar de todos os avanços e conquistas obtidas no campo dos direitos humanos, das liberdades individuais e, inclusive, dos avanços econômicos e tecnocientíficos não reage nem toma medidas para solucionar tais mazelas que ainda afetam grande parte da população global. Além disso, certos discursos que atualmente circulam com crescente vigor, representados pelas reportagens da revista Veja, mostram que os famintos são responsabilizados por sua própria situação miserável, especialmente por eles não corresponderem ao ideal do empreendedorismo individual que rege a sociedade contemporânea. Ao mesmo tempo, são incluídos nos direitos considerados essenciais, numa tentativa de minimizar sequelas ao estilo de vida apoiado no consumismo e impulsionado pelo movimento dos mercados globais, num regime que fora batizado por Gilles Deleuze como sociedades de controle . Neste estudo, observam-se várias transformações nas narrativas jornalísticas ao longo do período abordado. Inicialmente, influenciadas pela concepção do Estado do bem-estar social, as coberturas tratam a questão sob um prisma político e ético. 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The subjects of this thesis are analysed under the concept of animal laborans, created by the germany philosopher Hanna Arendt at 1958; under the concept of biopower, elaborated by french philosopher Michael Foucault in the 1970's; and too under concept naked life, from the italian philosopher Giorgio Aganbem, presented at 1990's. With the combination of this three perceptions is possible to promote a deep reflexion about some of big paradoxes in the contemporani capitalism. To support this hypothesis empirically, the research object chosen is formed by reports about hunger and poverty, published between the years 1968 and 2012 in Veja magazine printed weekly with the largest circulation in Brazil and oldest in this segment. The thesis defended here detects and examines, through the analysis of these reports, some naturalization of persistent hunger problem in contemporary society, which despite all the advances and achievements in the field of human rights, individual freedoms and even the economic and technological advances not taking measures to solve these problems that still affect much of the population worldwide. In addition, certain discourses currently circulating with increasing force, represented by Veja magazine reports show that hungry people are responsible for their own situations of misery, especially they do not correspond to the ideal of individual entrepreneur, who directs the contemporary society. At the same time, they are considered essential to the rights included in an attempt to reduce the sequelae lifestyle consumerism supported and driven by the movement of global markets, a system which was called by Gilles Deleuze societies of control . In this analysis, we observe the transformation in journalistic narratives during the period analyzed. Initially influenced by the idea of the state of social welfare, the reports about these issues are focused on politics and ethics. With the rise of neoliberal ideas, however, it is possible to identify the approach taken by the journal over the past two decades, which follows a trend seen in other similar publications, issues of interest to consumer-citizens at the expense of the analysis with social focus241 f.Sibilia, Maria Paulahttp://lattes.cnpq.br/5318250490460865Barros, Carla Fernanda Pereirahttp://lattes.cnpq.br/2826493667924064Mendonça, Kleber Santos dehttp://lattes.cnpq.br/4214232692385373Freire Filho, João Batista de Macedohttp://lattes.cnpq.br/6936704860361247Vaz, Paulohttp://lattes.cnpq.br/6036694416056026Bozi, Alba Lívia Tallon2023-08-28T12:32:59Z2023-08-28T12:32:59Zinfo:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfBOZI, Alba Lívia Tallon. A biopolítica da fome na contemporaneidade: a invisibilidade da vida nua dos famintos e a valorização do animal laborans nas narrativas da revista Veja. 2013. 241 f. 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