A política de reconhecimento de saberes do ponto de vista da atividade de trabalho docente na Educação Profissional

• Ano de defesa: 2019
• Autor(a) principal: Natália Valadares Lima
• Orientador(a): Daisy Moreira Cunha
• Banca de defesa: Joaquim Luiz Medeiros Alcoforado, Hervé Breton, Antônia Vitória Soares Aranha, Silvania Sousa do Nascimento
• Tipo de documento: Tese
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Universidade Federal de Minas Gerais
• Programa de Pós-Graduação: Programa de Pós-Graduação em Educação - Conhecimento e Inclusão Social
• Departamento: FAE - FACULDADE DE EDUCAÇÃO
• País: Brasil
• Palavras-chave em Português: Reconhecimento de saberes; Atividade de trabalho; Educação Profissional e Tecnológica; Trabalho docente
• Link de acesso: http://hdl.handle.net/1843/32657; https://orcid.org/0000-0001-6073-7854

A presente tese tem como objetivo analisar a implementação e o desenvolvimento da política de Reconhecimento de Saberes e Competências (RSC) dos professores da carreira do Ensino Básico, Técnico e Tecnológico (EBTT) no âmbito do Centro Federal de Educação Tecnológica de Minas Gerais (CEFET-MG) interrogando os pressupostos teórico- metodológicos que a fundamentam. Para tal, problematizamos a proposição de avaliação de saberes do RSC face aos aspectos emergentes da análise da atividade de trabalho de dois docentes do Curso Técnico de Nível Médio em Redes de Computadores, ofertado pelo CEFET-MG. Metodologicamente, foram realizadas análises documental e bibliográfica, observação das aulas ministradas pelos professores acompanhados, entrevistas semiestruturadas e entrevistas de autoconfrontação. A análise do trabalho docente, por sua vez, fundamenta-se nos aportes teóricos da teoria da atividade de perspectiva histórico- cultural, que embasa-se nas produções de Vygotsky, sendo desenvolvida por Leontiev e, atualmente, por Engeström e seus pares; e da abordagem ergológica do trabalho, que tem Schwartz como um de seus principais representantes. A aproximação entre essas correntes teóricas possibilitou compreender as diferenças na apropriação e no tratamento da noção de atividade. Nesse escopo, a teoria da atividade elabora uma concepção de atividade relacionada com suas dimensões sociais, culturais e históricas, propondo sua análise a partir da constituição de sistemas de atividades. Já a ergologia, ao fundar seus pressupostos na distância entre o trabalho prescrito e o trabalho real, propõe um reposicionamento da compreensão de tais dimensões, em função de um olhar centrado no micro do trabalho, na relação singular estabelecida entre o sujeito e o meio. A análise do trabalho docente na Educação Profissional ancorada em ambas as correntes nos ajuda a evidenciar, então, tanto os aspectos sociais que influenciam e perpassam o trabalho docente, bem como a singularidade da atividade nesse campo profissional, o que faz com que o trabalho se torne um espaço de mobilização e (re)contrução de saberes situados e sempre em parte singulares. Para analisar os saberes construídos e mobilizados pelos docentes na sua atividade de trabalho, por seu turno, fundamos nossa análise na ideia de ciclos de aprendizagem expansiva, proposta pela teoria da atividade, e na noção de renormalização, desenvolvida pela abordagem ergológica do trabalho. Nesse contexto, a análise detalhada de duas situações de atendimento de alunos, voltadas, portanto, para o ensino, empreendidas pelos professores acompanhados explicita que o trabalho docente nas disciplinas técnicas da Educação Profissional e Tecnológica mobiliza saberes relacionados com os valores e com experiências pessoais e profissionais. Assim, com base em tal análise, constatamos que a prática competente desses profissionais relaciona-se com os conhecimentos técnicos construídos antes e durante o exercício docente, mas, também, com o saber bem conduzir a turma; saber organizar e cadenciar os conteúdos a serem ensinados; ser capaz de ponderar acerca da forma de atendimento mais adequada a cada aluno ou grupo de alunos; se preocupar com o cuidado com os equipamentos, com o bem comum e com os alunos; procurar formas de atualização, realizando pesquisas relacionadas com o conteúdo a ser ensinado; dentre outras. Tratam-se, portanto, de competências que os sujeitos aprenderam no trabalho, na condução de turmas, e que escapam ao referencial de avaliação no RSC. Diante disso, considerando o caráter documental da avaliação conduzida no RSC, concluímos que esse processo de reconhecimento de saberes acaba ignorando uma gama de saberes construídos pelos professores no decorrer de sua atividade de trabalho e que são fundamentais para sua prática competente da profissão, fazendo-se necessário repensar o processo de avaliação ora proposto.