O Sorriso da Manticora: Associação entre Empatia e Organização de Personalidade Borderline em um Estudo de Observação Transversal Exploratório

Detalhes bibliográficos
Ano de defesa: 2025
Autor(a) principal: Vieira, Bartholomeu de Aguiar
Orientador(a): Não Informado pela instituição
Banca de defesa: Não Informado pela instituição
Tipo de documento: Tese
Tipo de acesso: Acesso aberto
Idioma: por
Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
Programa de Pós-Graduação: Não Informado pela instituição
Departamento: Não Informado pela instituição
País: Não Informado pela instituição
Palavras-chave em Português:
Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-06082025-191724/
Resumo: A empatia tanto se refere a um fenômeno multidimensional quanto a uma capacidade de compreender e compartilhar os estados emocionais de outra pessoa, sendo um processo imprescindível nas relações humanas, marcador do ajustamento social e também fonte de atitudes pró-sociais. No entanto, em indivíduos com uma Organização de Personalidade Borderline (OPB) e um sobreposto Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), ela frequentemente se manifesta de maneira paradoxal, uma vez que combina uma sensibilidade aumentada aos estados emocionais alheios e, em dissonância, nesses mesmos indivíduos, surgem prementes dificuldades de traduzir essa sensibilidade em comportamentos adaptativos. Portanto, este estudo objetivou explorar a associação entre a empatia e a OPB em uma amostra clínica de pacientes com diagnóstico positivo para o TPB, avaliados antes de começar um tratamento de orientação psicodinâmica. Método: realizou-se um estudo quantitativo e transversal com 40 pacientes, utilizando o Índice de Reatividade Interpessoal (IRI) para avaliar a empatia-traço e a Structured Interview of Personality Organization (STIPO-R) para medir a organização da personalidade em seus diferentes domínios, com posterior interpretação qualitativa desses resultados à luz do referencial psicanalítico, assumindo-se explicitamente uma perspectiva epistemológica utraquista, que promove o trânsito conceitual entre diferentes métodos para compreensão robusta do fenômeno investigado. Resultados: foi encontrada uma correlação positiva entre a subescala de fantasia do IRI e prejuízos nas áreas de identidade, relações de objeto e nas defesas primitivas na STIPO-R, indicando que as dificuldades interpessoais, os problemas de identidade e os métodos típicos de defesa em pacientes com TPB estão associados à alta capacidade de imaginação voltada a contextos ficcionais. Essa coexistência sugere que, nessa população, a fantasia pode funcionar como um mecanismo compensatório ou desadaptativo, especialmente diante de dificuldades no desenvolvimento da personalidade e na percepção dos outros. Conclusões: O traço da empatia em pacientes com TPB voltados a se projetar em situações imaginativas e a se identificar com personagens de ficção mostrou-se relacionado a aspectos específicos dos prejuízos inerentes à OPB como, por exemplo, a difusão de identidade, as relações objetais e o uso de mecanismos de defesa primitivos. A leitura psicanalítica desses dados permitiu compreender que a intensificação do recurso imaginativo-empático, nesses casos, não cumpre função integradora. Pelo contrário, pode atuar como um substituto das experiências intersubjetivas reais, oferecendo uma organização defensiva marcada pela clivagem. No transtorno borderline, essa função simbólica se desorganiza: a fantasia empática se transforma em moldura clivada (Bateson), ou seja, uma estrutura mental em que o outro só é admitido sob o controle do self. O paciente se identifica com personagens não para compreender o outro, mas para sustentar uma autoimagem instável protegida da frustração e do risco da alteridade real. Nessa condição, o enredo ficcional funciona como um guarda-chuva narrativo sob o qual o sujeito se abriga das contradições do mundo compartilhado. Evocando o conceito de Wirklichkeitsgefühl, descrito por Freud no caso do Homem dos Lobos, propomos que a ficção oferece, no borderline, uma âncora emocional que substitui o sentimento subjetivo de realidade não porque o paciente desconheça a realidade psíquica, mas porque vive à beira de perdê-la. Nossa hipótese é que esse tipo de empatia imaginativa, embora intensa e rica, serve menos ao reconhecimento do outro e mais à estabilização precária de um self em colapso. Ela é uma simulação do laço não um encontro com o outro, mas uma representação de encontro. É nesse sentido que cunhamos o termo empatia desconfiada, para descrever o paradoxo empático borderline: quanto maior a empatia imaginativa, maior o risco de evasão relacional. Em vez de vincular-se por meio da experiência biográfica, o paciente se ancora em personagens e narrativas ficcionais como tentativa de restituir um sentimento de realidade. O paradoxo, portanto, não está na ausência de empatia, mas na forma como ela opera: ao invés de facilitar o encontro com o outro, ela mantém o sujeito preso a representações, protegendo-o de um real afetivamente intolerável.
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No entanto, em indivíduos com uma Organização de Personalidade Borderline (OPB) e um sobreposto Transtorno de Personalidade Borderline (TPB), ela frequentemente se manifesta de maneira paradoxal, uma vez que combina uma sensibilidade aumentada aos estados emocionais alheios e, em dissonância, nesses mesmos indivíduos, surgem prementes dificuldades de traduzir essa sensibilidade em comportamentos adaptativos. Portanto, este estudo objetivou explorar a associação entre a empatia e a OPB em uma amostra clínica de pacientes com diagnóstico positivo para o TPB, avaliados antes de começar um tratamento de orientação psicodinâmica. Método: realizou-se um estudo quantitativo e transversal com 40 pacientes, utilizando o Índice de Reatividade Interpessoal (IRI) para avaliar a empatia-traço e a Structured Interview of Personality Organization (STIPO-R) para medir a organização da personalidade em seus diferentes domínios, com posterior interpretação qualitativa desses resultados à luz do referencial psicanalítico, assumindo-se explicitamente uma perspectiva epistemológica utraquista, que promove o trânsito conceitual entre diferentes métodos para compreensão robusta do fenômeno investigado. Resultados: foi encontrada uma correlação positiva entre a subescala de fantasia do IRI e prejuízos nas áreas de identidade, relações de objeto e nas defesas primitivas na STIPO-R, indicando que as dificuldades interpessoais, os problemas de identidade e os métodos típicos de defesa em pacientes com TPB estão associados à alta capacidade de imaginação voltada a contextos ficcionais. Essa coexistência sugere que, nessa população, a fantasia pode funcionar como um mecanismo compensatório ou desadaptativo, especialmente diante de dificuldades no desenvolvimento da personalidade e na percepção dos outros. Conclusões: O traço da empatia em pacientes com TPB voltados a se projetar em situações imaginativas e a se identificar com personagens de ficção mostrou-se relacionado a aspectos específicos dos prejuízos inerentes à OPB como, por exemplo, a difusão de identidade, as relações objetais e o uso de mecanismos de defesa primitivos. A leitura psicanalítica desses dados permitiu compreender que a intensificação do recurso imaginativo-empático, nesses casos, não cumpre função integradora. Pelo contrário, pode atuar como um substituto das experiências intersubjetivas reais, oferecendo uma organização defensiva marcada pela clivagem. No transtorno borderline, essa função simbólica se desorganiza: a fantasia empática se transforma em moldura clivada (Bateson), ou seja, uma estrutura mental em que o outro só é admitido sob o controle do self. O paciente se identifica com personagens não para compreender o outro, mas para sustentar uma autoimagem instável protegida da frustração e do risco da alteridade real. Nessa condição, o enredo ficcional funciona como um guarda-chuva narrativo sob o qual o sujeito se abriga das contradições do mundo compartilhado. Evocando o conceito de Wirklichkeitsgefühl, descrito por Freud no caso do Homem dos Lobos, propomos que a ficção oferece, no borderline, uma âncora emocional que substitui o sentimento subjetivo de realidade não porque o paciente desconheça a realidade psíquica, mas porque vive à beira de perdê-la. Nossa hipótese é que esse tipo de empatia imaginativa, embora intensa e rica, serve menos ao reconhecimento do outro e mais à estabilização precária de um self em colapso. Ela é uma simulação do laço não um encontro com o outro, mas uma representação de encontro. É nesse sentido que cunhamos o termo empatia desconfiada, para descrever o paradoxo empático borderline: quanto maior a empatia imaginativa, maior o risco de evasão relacional. Em vez de vincular-se por meio da experiência biográfica, o paciente se ancora em personagens e narrativas ficcionais como tentativa de restituir um sentimento de realidade. O paradoxo, portanto, não está na ausência de empatia, mas na forma como ela opera: ao invés de facilitar o encontro com o outro, ela mantém o sujeito preso a representações, protegendo-o de um real afetivamente intolerável.Empathy refers both to a multidimensional phenomenon and to the capacity to understand and share another person\'s emotional states. It plays a crucial role in human relationships, as a marker of social adjustment and a source of prosocial behaviors. However, in individuals with Borderline Personality Organization (BPO) and a comorbid diagnosis of Borderline Personality Disorder (BPD), empathy often manifests paradoxically: these individuals combine heightened sensitivity to others\' emotional states with significant difficulty in translating this sensitivity into adaptive behaviors. This study aimed to explore the association between empathy and BPO in a clinical sample of patients diagnosed with BPD, assessed prior to beginning psychodynamic-oriented treatment. Method: A cross-sectional quantitative study was conducted with 40 patients using the Interpersonal Reactivity Index (IRI) to measure trait empathy and the Structured Interview of Personality Organization (STIPO-R) to assess personality functioning across different domains. The results were then interpreted through a psychoanalytic framework, explicitly adopting an utraquist epistemological perspective that allows conceptual integration between different methods to achieve a robust understanding of the investigated phenomenon. Results: A positive correlation was found between the IRI fantasy subscale and impairments in identity, object relations, and primitive defenses in the STIPO-R, indicating that interpersonal difficulties, identity problems, and primitive defense mechanisms in BPD patients are associated with an increased imaginative capacity directed toward fictional contexts. This coexistence suggests that, in this population, fantasy may function as a compensatory or maladaptive mechanism, particularly in the context of developmental impairments in personality and perception of others. Conclusions: The empathy trait in BPD patients who tend to project themselves into imaginative scenarios and identify with fictional characters appears to be related to specific impairments inherent to BPOsuch as identity diffusion, object relations disturbances, and primitive defenses. A psychoanalytic reading of these findings suggests that the intensification of imaginative-empathic functioning does not play an integrative role in these cases. On the contrary, it may act as a substitute for real intersubjective experiences, providing a defensive structure marked by splitting. In borderline functioning, this symbolic function becomes disorganized: empathic fantasy turns into a split frame (Bateson), a mental structure in which the other is only admitted under the control of the self. The patient identifies with fictional characters not to understand others, but to sustain an unstable self-imageshielded from frustration and the threat of real otherness. In this context, fictional narratives act as a narrative umbrella under which the subject takes shelter from the contradictions of the shared world. Drawing on Freuds concept of Wirklichkeitsgefühl, as described in the Wolf Man case, we propose that fiction provides a substitute emotional anchor for the feeling of subjective realitynot because the patient is unaware of psychic reality, but because they live on the verge of losing it. Our hypothesis is that this intense and rich imaginative empathy serves less to recognize the other and more to maintain a precarious stabilization of a collapsing self. It simulates connectionit is not a genuine encounter, but a representation of one. Thus, we coined the term distrustful empathy to describe the paradoxical empathy in BPD: the greater the imaginative empathy, the higher the risk of relational evasion. Instead of relating through biographical experience, the patient anchors themselves in fictional narratives as an attempt to restore a sense of reality. The paradox, then, does not lie in the absence of empathy, but in the way it functions: rather than facilitating connection with the other, it binds the subject to representations, shielding them from an emotionally intolerable real.Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USPFidalgo, Thiago MarquesLotufo Neto, FranciscoVieira, Bartholomeu de Aguiar2025-06-10info:eu-repo/semantics/publishedVersioninfo:eu-repo/semantics/doctoralThesisapplication/pdfhttps://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/47/47133/tde-06082025-191724/reponame:Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USPinstname:Universidade de São Paulo (USP)instacron:USPReter o conteúdo por motivos de patente, publicação e/ou direitos autoriais.info:eu-repo/semantics/openAccesspor2025-09-17T18:18:57Zoai:teses.usp.br:tde-06082025-191724Biblioteca Digital de Teses e Dissertaçõeshttp://www.teses.usp.br/PUBhttp://www.teses.usp.br/cgi-bin/mtd2br.plvirginia@if.usp.br|| atendimento@aguia.usp.br||virginia@if.usp.bropendoar:27212025-09-17T18:18:57Biblioteca Digital de Teses e Dissertações da USP - Universidade de São Paulo (USP)false
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