Experiências psicóticas na população geral: correlatos neurocognitivos e neurobiológicos

• Ano de defesa: 2023
• Autor(a) principal: Ragazzi, Taciana Cristina Carvalho
• Tipo de documento: Tese
• Tipo de acesso: Acesso aberto
• Idioma: por
• Instituição de defesa: Biblioteca Digitais de Teses e Dissertações da USP
• Palavras-chave em Português: Cannabis use; Childhood trauma; Conectividade funcional; Experiências psicóticas; Functional connectivity; Neurocognição; Neurocognition; Non-clinical general population; População geral não clínica; Psychotic experiences; Redes em estado de repouso; Resting state networks; Trauma na infância; Uso de cannabis
• Link de acesso: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17148/tde-05012024-174836/

Introdução: O estudo das experiências psicóticas (EPs) na população geral permitiu a investigação de variáveis socioambientais e biológicas relacionadas à Esquizofrenia, o que pode auxiliar na identificação de potenciais biomarcadores, ampliar a compreensão de sua neuropatologia e contribuir para a definição de alvos para intervenções individualizadas e precoces. Apesar disso, sabe-se pouco a respeito da caracterização neurocognitiva e neurobiológica em amostras da população geral com EPs, especialmente em países emergentes como o Brasil. Objetivo: 1) Explorar o perfil neurocognitivo; 2) Identificar alterações no padrão de intra e inter Conectividade Funcional (CF) cerebral das redes em estado de repouso, ambos de indivíduos da população geral com altas EPs em comparação com indivíduos com EPs baixas ou ausentes. Métodos: A amostra neurocognitiva foi composta por 417 voluntários (319 indivíduos de base populacional e 98 irmãos não afetados de pacientes psicóticos), idade entre 16 - 64 anos. A subamostra neurobiológica foi composta por 85 voluntários (56 indivíduos de base populacional e 29 irmãos não afetados de pacientes), idade entre 16 - 55 anos. Os participantes eram de ambos os sexos, residentes na área de abrangência de Ribeirão Preto (STREAM, Brasil). Foram excluídas pessoas com história atual ou passada de sintomas psicóticos e que não sabiam ler ou escrever. As EPs (positivas, negativas e depressivas) foram avaliadas usando a versão em português do Community Assessment of Psychic Experiences (CAPE). O percentil 75 da distribuição das respostas foi usado para classificar os voluntários com EPs altas. Os domínios neurocognitivos foram analisados usando os seguintes instrumentos: Tarefa de contas (Raciocínio/resolução de problemas), Ruído branco (Atenção), Reconhecimento facial de emoções degradadas (Cognição social), Reconhecimento facial de Benton (Cognição social), WAIS-III versão breve (quociente intelectual - QI) com os subtestes códigos (Velocidade de processamento), cubos (Aprendizagem visual), aritmética (Memória operativa) e informação (Aprendizagem Verbal). A CF foi avaliada por meio de ressonância magnética funcional a partir do método de aquisição em estado de repouso em três principais redes: Rede de Modo Padrão, Fronto-parietal (FP) e de Saliência. Modelos de regressão logística foram realizadas para a análise neurocognitiva. Imagens do cérebro foram adquiridas em equipamento Philips 3-Tesla e analisadas no SPM12 e com a \"CONN toolbox\". Resultados: Um pior desempenho no subteste códigos (velocidade de processamento) foi associado às EPs altas, em todas as dimensões da CAPE. Uma menor habilidade no subteste cubos (aprendizado visual) e no WAIS-III versão breve (QI) associaram às altas EPs negativas. O pior desempenho no subteste aritmética (memória operativa) associou-se às altas EPs depressivas. A maior identificação da face raiva (cognição social) foi associada às altas EPs positiva. Observou-se uma hipoconectividade dentro da rede FP entre córtex pré-frontal lateral esquerdo e direito em pessoas com altas EPs negativas, sem diferenças significativas nas demais redes estudadas. Conclusão: Indivíduos brasileiros com altas EPs apresentaram prejuízos neurocognitivos semelhantes aos que vivem em países desenvolvidos. Sugere-se que a cognição seja um possível alvo para intervenções individualizadas e precoces. A dimensão negativa foi a única com anormalidades significativas da CF e mais fortemente associadas aos déficits neurocognitivos. A hipoconectividade na FP é coerente com a hipótese de desconexão funcional na esquizofrenia.